sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pergunta de Leitora - Coragem para viver


Hoje sou uma senhora de 48 anos e me sinto desgastada. Sempre procurei por um propósito na vida e nunca o encontrei. Nunca senti amor de deixar as pernas bambas, nunca senti que tivesse talento para algo. Só fui vivendo e me deixando levar pelas circunstancias da vida. Sou muito questionadora e sempre leio livros espirituais, no entanto só tenho perguntas e nenhuma resposta. Será que toda vida tem sentido? Como fazer para encontrá-lo? Fico em dúvida sobre essas questões, mas já desisti de qualquer revelação. O que diria para uma senhora como eu?

            O que quer dizer ser uma senhora? Que significado você coloca ao se apresentar desta forma? Arrisco um palpite. Creio que ao se autoreferir como uma senhora você queria dizer que se acha velha e que se encontra sem esperanças na vida, como se só uma moça muito jovem pudesse sentir esperanças. Erra nos dois casos, pois 48 não torna ninguém velha e a esperança é de quem a permite tê-la e não apenas para os muitos jovens.
            Você está cheia de questões e fico me perguntando se não é disso que você gosta. Você parece valorizar muito as questões, no entanto não valoriza pensar sobre elas, como se só o fato de questionar fosse trazer as respostas que você procura. Fica presa num círculo, aonde vai atrás das perguntas, mas jamais vai ao encontro de respostas.
            É estéril, ou seja, sem resultado algum a sua pergunta “Será que toda a vida tem sentido?”. A pergunta que você poderia fazer é qual o sentido que você dá a sua vida? Ao fazer perguntas muito gerais é uma maneira de não ter que se comprometer consigo e o que lhe parece mais lhe faltar é justamente comprometimento com sua vida. Com a falta de compromisso só resta mesmo deixar as circunstâncias da vida te levarem.
            O que lhe acontece é medo de viver e de se deparar com suas próprias experiências de vida. As respostas que você tanto busca não vão ser encontradas em livros, mas apenas através das experiências. Você dizer nunca ter amado me dá a idéia de que tem medo de se entregar e que prefere se refugiar na teoria e deixar de lado a prática. Só que ninguém vive na teoria e para sair dela é necessário coragem. A vida não pode ser encarada como um exercício intelectual, pois ela é acima de tudo uma experiência. Que tal rever seus pensamentos?

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sonhadores


            Sonhar a vida é algo típico dos humanos e uma das coisas mais ricas que se pode haver. O desenvolvimento da tecnologia começou com um sonho. O homem queria voar e através da sua capacidade de sonhar criou recursos para que isso se tornasse possível. Alguém sonhou uma estória e um livro pôde ser escrito. Outro sonhou uma estória para ser assistida e os filmes foram criados. Outra pessoa sonhou uma imagem e pinturas e fotografias puderam ser feitas. É incrível o que os sonhos podem realizar. O próprio desenvolvimento da humanidade está ligado à sua capacidade de sonhar, por isso saber sonhar se faz necessário.
            Há três tipos de sonhadores. Há aqueles que apenas sonham com a vida, com aquilo que poderia ser e jamais fazem nada a respeito disso. São sonhadores estéreis. Seus sonhos têm mais a ver com a alucinação do que com aquele sonho que pode ser concretizado. Os sonhadores passivos desperdiçam tempo e vida em seus sonhos alucinados e não se enriquecem em nada. Essas pessoas usam seus sonhos como substitutos da realidade, como compensação. Esses sonhos são vazios e convidam à mediocridade.
            Outro tipo de sonhador é aquele que é perigoso. Sonham com todo tipo de coisas ruins e nefastas. Sonham com bombas, armas e meios de trazer mais destruição. São portadores de tanto ódio dentro de si que só sonham com tudo aquilo que se transforma na representação desse ódio. Essas pessoas odeiam a si mesmas e por isso mesmo odeiam o mundo. Guerras também foram sonhadas antes de acontecer e indicam que se não se souber sonhar bem as coisas podem se tornar pesadelos.
            Por fim, há o terceiro tipo de sonhadores. Esses usam sua imaginação para a transformação da realidade, mas sonham coisas construtivas e que só trazem o bem. Transformam a vida de forma criativa e sempre visando a boa realização. Usam o seu sonhar como o início de uma mudança que pode trazer inúmeros benefícios. Criam encantamento e o bom orgulho de nos sentirmos capazes de boas atitudes. Que tal aprendermos todos a sonhar dessa maneira?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pergunta de Leitora - Um Novo Olhar


Já sofri muito em minha vida e sempre fiz de tudo para estar bem. Hoje me considero bem e que estou bem. No entanto pensamentos negativos são sempre frequentes e não sei como me livrar deles. Eles me assaltam e eu sinto um medo terrível. Parece que todo o meu passado e privações me voltam e me atormentam. Não sei como me livrar deles e eles estragam todos os meus relacionamentos presentes. Quando meus medos aparecem eu acabo sempre por odiar a mim mesma.  Como posso mudar meus medos, não sei o que fazer com eles?

            Não sei bem quais privações e provações você passou, mas com toda a certeza devem ter sido marcantes para você. As influências do passado podem muitas vezes invadir o presente e contaminar tudo o que há de bom hoje. Quando isso acontece é porque você está olhando para o seu presente com os “olhos do passado”, ou seja, você ao ficar presa ao seu passado não consegue ver que o tempo presente é outro e acaba por se repetir no que já viveu.
            Por mais que o passado possa deixar cicatrizes e marcas profundas ele não precisa ser definidor. Aliás, é importante que o passado nunca venha a definir completamente quem vamos ser hoje, porque se assim for não abre-se verdadeiramente espaço para viver o presente. Nós sempre podemos e devemos criar maneiras para o passado não interferir no presente. Quando você permitir que novas experiências hoje apaguem a dor do passado você ligará mais para o seu tempo de agora e poderá não dar tanto poder para o que já te aconteceu.
            Para se livrar do passado é preciso aprender a abrir mão da memória das dores sofridas. As emoções dolorosas podem ser muito adesivas e ter em si emoções negativas grudadas nunca é uma boa forma de viver. Hoje você revive infinitamente essas emoções negativas e ressente-se, quando precisa aprender a não mais se envolver com esse ressentimento todo. Pode conseguir isso com a ajuda de um analista que saiba te escutar e te ajude a compreender porque você fica presa a um passado tão ruim. Inconscientemente há uma razão para você não se livrar do passado e descobrir esta e enfrentá-la pode ser libertador.
            O que não vai lhe ajudar é perder tempo e ir empurrando o medo indefinidamente. Não se sinta e nem se faça de vítima por ter tido um passado desalentador, pois são poucas as pessoas que podem se gabar de ter tido um passado que tenha sido tão bom e não tenha deixado marcas. Se reconstruir exige trabalho, mas é um tipo de trabalho que vale a pena, pois lhe permitirá ver o seu presente com “olhos novos” e bem mais favoráveis. Nunca é fácil e cômodo enfrentar as dores passadas, mas realizar isso é que pode te trazer mudanças verdadeiras. Quando o seu olhar sobre você mudar e for outro, a vida também mudará. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Análise de filme - Ninfomaníaca


            O filme Ninfomaníaca (2013) dirigido pelo controvertido diretor Lars Von Trier deu o que falar. O filme possui cenas fortes de sexo e até  cenas explícitas e muitos chegaram a ficar perturbados com o que se assistiu. É sobre a estória de uma mulher compulsiva por sexo que transou com centenas, senão milhares, de homens e de forma indiscriminada. Nem de seu próprio filho conseguiu cuidar de maneira decente já que sua compulsão a impelia largá-lo para ir atrás de homens. Eram tantas a cenas envolvendo sexo que chega uma hora que começa a ser nojento e desesperador. Mas é assim mesmo que fica o sentimento quando alguém é viciado em sexo.
            A mulher protagonista do filme não sabe lidar com suas angústias e destas ela está repleta. Quando não há uma mente para se pensar e lidar com o que se sente a única via possível torna-se a atuação, que em psicanálise significa vivenciar as ansiedades no mundo externo tal qual uma cena de teatro ou filme onde o roteiro já está pré-determinado. A compulsão, que é uma repetição, é uma forma desastrosa de tentar se lidar com a angústia que se sente. Entretanto, não é possível chegar a nenhuma resolução verdadeira da ansiedade através da compulsão; apenas fica-se a repeti-la infrutiferamente.
            Uma pessoa presa à compulsão seja por sexo, por drogas, álcool ou qualquer outra coisa tenta encontrar na sua atuação um meio de se livrar de sua angústia. Seu desespero é tão grande e enlouquecedor que pode levar qualquer pessoa a agir de forma temerária e sem controle, colocando-se em graves riscos. Para uma pessoa assim a ansiedade não pode ser pensada, ela pode apenas ser atuada.
            A personagem do filme, por exemplo, sentia dentro de si muitos impulsos que não conseguia dar conta e nem compreender. Ela queria se livrar deles o mais rápido possível. Só que o que existe dentro da gente a gente não tem como jogar fora, como se fosse um objeto velho que atiramos ao lixo. A ansiedade precisa ser acolhida para depois ser transformada em algo que seja útil para usarmos na vida. Quem não consegue acolher, ou seja, tolerar a angústia que sente não tem como crescer e por isso mesmo não tem como desenvolver novos meios de se relacionar consigo e com o mundo. Fica preso em uma determinada cena e a repete compulsivamente acreditando que em cada próxima vez obterá o que precisa de fato. Entregar-se a compulsão é entregar-se sempre a uma mentira.
            O ato sexual é algo que libera boa dose de prazer e é de fácil obtenção. Por alguns segundos a pessoa se sente completa e preenchida como se tivesse resolvido a sua angústia, porém é uma bela mentira porque a angústia continua existindo e cobrando um alto preço.  Ansiedades precisam ser transformadas dentro de nós, em nossas mentes, para que consigamos lidar com elas efetivamente. Não há outro jeito. Então é preciso aprender a tolerar a ansiedade para que cada vez mais, seja expandida uma mente que dê conta de sentimentos e emoções primitivas e dolorosas. No filme, toda vez que a protagonista se via numa situação de intensa ansiedade ela atuava e buscava alivio através do sexo, mas com isso ia se destruindo e se colocando cada vez mais em risco.
            É extremamente difícil se livrar de uma compulsão porque para tal necessita-se aceitar e tolerar a ansiedade que se sente e não buscar alívio em atuações. Só que acolher as ansiedades mais primitivas e intensas que temos é sempre assustador. A tendência, como já dizia Freud, é a gente evitar o sofrimento e abraçar apenas o prazer, mas quando o prazer é algo repetitivo ele se torna vazio e até destrutivo. Para haver evolução demanda-se renunciar a alguns prazeres para desenvolvermos formas de se relacionar mais benéficas e lucrativas. Crescer nunca foi e nunca será fácil, mas é fundamental para quem quer viver de maneira digna. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pergunta de Leitora - Encontrar luz no fim do túnel


Tenho dois filhos normais e que podem batalhar pela vida. Só que tenho um filho com deficiência. Antigamente eu me recuperava fácil dos problemas e dos desafios da vida, mas agora não é mais assim. Me preocupo como esse filho vai sobreviver. Minha casa está uma desordem e minha vida está de pernas para o ar. Me sinto mal pelo meu filho e queria poder fazer algo a respeito, mas não sei o que. Não tenho mais vontade de viver e de fazer nada. O que será que me acontece?

            Faltam-me mais informações para poder entender a situação em que você se encontra. As coisas ficaram meio obscuras no seu email. Não sei qual a deficiência do seu filho, não sei do que você está falando e está enfrentando. No entanto, o que fica claro é que você está bastante pessimista e não consegue vislumbrar uma luz no fim do túnel. Isso pode ser bastante perigoso.
            Pode ser perigoso porque permanecer nesse estado poderá te levar à uma depressão. Talvez até já esteja deprimida o que torna importante sair desse estado o quanto antes. A depressão jamais te ajudará em nada e nem dará as respostas que você necessita. Estas só poderão ser encontradas ao enfrentar os problemas.
            Você deve se perguntar o que está lhe acontecendo para se encontrar tão sem esperanças. O que será que mudou na sua vida? Antes você se sentia mais forte e mais confiante, você disse, mas então o que mudou? Será que é preocupação com a condição do seu filho ou há mais coisas? Aliás, é verdadeira a afirmação de que seu filho não tem a menor chance de cuidar de si? Desconheço o que se passa com seu filho, mas há muitas mães que jamais acreditam que seus filhos portadores de alguma deficiência possam fazer algo. Se ele não puder fazer nada mesmo, você terá que pedir ajuda dos seus outros filhos. Será que isso é também razão para preocupação?
            Certamente há soluções para a sua vida, talvez não sejam as que você idealizou, mas você só vai conseguir encontrá-las se se levar a sério e sair desse estado e aceitar o que for possível dentro da realidade. Você está enxergando a vida de maneira muito sombria e difícil e isso lhe traz muitos prejuízos. Não se esconda atrás das suas tristezas e encontre uma maneira de pedir ajuda, seja profissional, da família e de amigos. Você pode ser capaz de sair da situação em que se encontra, por pior que ela seja, mas precisa trabalhar para isso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Aprendendo a nos salvar


            Vejo com enorme tristeza como o ser humano tem uma resistência ao crescimento e prefere permanecer num estado de imaturidade. Neste momento de eleições que pede por pensamentos e avaliações cuidadosas o que mais se vê são as pessoas reagindo emocionalmente, como se tratassem de crianças e não de adultos. A política que forma o governo, que por sua vez dá o tom da administração, é coisa séria e demanda que seja olhada e entendida com olhos adultos. Agora que há dois candidatos na disputa presidencial, por exemplo, o que mais se vê são trocas de acusações e apegos às emoções e nada de bom desse infantilismo todo poderá surgir.
            Primeiro não somos crianças. Ou pelo menos assim não deveríamos ser. Portanto, que fique claro que quem é adulto não precisa de papai e mamãe. Nenhum governante deve ser encarado como salvador da pátria. Acreditar nisso é permanecer na imaturidade. Governantes devem governar e não suscitar aos apelos emocionais mais infantis nas pessoas de que só eles (determinados governantes) podem resolver e ser a solução para o país. A política não deve ser encarada emocionalmente, mas racionalmente.
            Títulos como pai do povo e mãe do povo deveriam propiciar calafrios na população e não acolhimento. Crianças são incapazes de pensar verdadeiramente e são as suas emoções que ditam a maior parte de suas atitudes. Por isso mesmo crianças não votam. Crianças seguem regras e não as podem fazer e crianças precisam de adultos para supervisioná-las. A imaturidade infantil elege alguém como representante de tudo que é bom e por outro lado elege também alguém que representa tudo o que é ruim. Será que é assim mesmo que devemos conduzir nossa vida cívica? Gritar que o outro lado é o inimigo ou o demônio, como disse certos personagens políticos, demonstra que precisamos abandonar a infância e passarmos a ser adultos. Só assim cresceremos como povo e como país.
            O brasileiro se parece com um adolescente em crise. Uma hora quer crescer, mas quando precisa pagar o preço do crescimento volta atrás e procura por alguém que seja o pai ou mãe e que tudo resolva. Quem se deixa guiar só pelas ilusões e a infância é feita destas não se permite evoluir. A idade cronológica de nada significa. Há exemplos de inúmeras pessoas com idade avançada, mas que se comportam e agem como pimpolhos mal educados que transformam tudo (inclusive a política, que triste!) em desenho animado onde mocinho e vilão são bem determinados. É uma verdadeira caça às bruxas e não uma possibilidade de pensar sobre o que de fato queremos. Pois é. É o que dá crianças, que se acham adultas e maduras, continuarem a resistir ao crescimento. Enquanto não formos maduros estaremos sempre precisando de alguém que nos salve e seremos incapazes de salvarmos a nós mesmos. 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Pergunta de Leitor - Abandonar a Culpa


Tenho 23 anos e há algum tempo sei que sou gay. Como sou bastante católico sempre me foi dito que ser gay é algo ruim e pecado. Fiquei muito confuso em relação a tudo isso e sempre fiz de tudo para gostar de mulher em vez de homem. Cheguei a pensar em suicídio para não ter esse desejo por homens e fiquei depressivo quando percebi que isso não mudava. Eu não sei bem o que fazer, já fiz de tudo para mudar e ser um homem normal, não quero ser veado. O que posso fazer? Será que existe algum remédio que tira o desejo sexual? Porque se tiver eu quero tomar.

            Eu diria que o maior problema que você enfrenta não é a sua orientação sexual, mas a opressão do seu próprio julgamento. Você hoje é um torturador de si próprio e isso é extremamente danoso para a sua auto-estima e para o seu desenvolvimento. Você se xinga de “veado” e se rebaixa por “não ser um homem normal” como se existisse homem normal. Nesse momento você se tornou o seu pior inimigo.
            Ninguém escolhe a orientação sexual, portanto não há porque se sentir culpado como se você pudesse ter evitado a sua homossexualidade e como se homossexualidade se tratasse de doença. Ser homossexual é apenas mais uma outra forma de amar e ser amado entre tantas. O problema aqui é que você deve ter internalizado e estabelecido como lei o julgamento que a religião faz da homossexualidade. Quando a religião julga e condena uma forma de amar e ser amado presta um enorme desserviço, pois transforma algo que pode ser bonito em algo impuro.
            A religião condena a homossexualidade baseado no fato de que não se trata de sexo para fins reprodutivos. Isso é um erro já que sexo vai além dos fins biológicos e passa a ter outros sentidos. A igreja tenta condenar a natureza do que é humano e só traz culpa. Nada pior do que viver se sentindo culpado. Você não é só homossexual, mas muito mais do que isso, você é um humano em busca de ser feliz e esse direito ninguém pode lhe tirar.
            Somado ao sentimento de culpa há também o medo de não ser aceito pela sociedade. Realmente há menos aceitação para os homossexuais, no entanto não é impossível você conseguir ficar bem sendo quem é. Para isso vai ser preciso abrir mão do autojulgamento e estabelecer consigo um relacionamento mais generoso. Quem precisa te aceitar em primeiro lugar é você mesmo. Caso não consiga fazer isso sozinho procure quem te ajude, procure ajuda profissional de alguém que não seja preconceituoso e te ajude para você aprender a ver a pessoa que você realmente pode ser.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Conflitos


            É triste observar os comentários sobre os conflitos armados que ocorrem em vários pontos do planeta. No conflito Israel-Palestina muitos são os que se colocam a favor da Palestina e demonizam os Israelenses ou vice-versa. Como se fosse possível estabelecer, sem sombra de dúvida, que um estivesse certo e o outro errado. Como se um fosse apenas “vítima” enquanto o outro lado fosse um “vilão” implacável. No conflito entre Ucrânia e Rússia também é assim. Sempre há pessoas colocando um ou outro povo numa determinada posição. Nada poderia ser mais falso e infrutífero que tal atitude.
            A grande verdade é que nesses conflitos e em muitos outros, tal como na vida diária de cada um, não existe fronteiras bem delimitadas sobre quem é vítima ou vilão, sobre quem está certo ou errado. O maniqueísmo, que é justamente o ato de dividir as coisas entre boas e más, não se aplica à realidade, que é bem mais complexa e fluída. Teimar na visão maniqueísta é indício do quanto as pessoas precisam crescer muito ainda.
            Os conflitos, guerrilhas e guerras ao redor do mundo são coisas sérias demais e não um filme de cowboy onde fica muito claro as posições e qualidades dos personagens, onde se identifica prontamente quem é o bonzinho ou o mau da estória. Pior ainda, a visão cindida favorece e alimenta mais os conflitos dando razões e justificativas que na verdade não se aplicam. Infelizmente, as guerras existem porque o interior das pessoas está armado e pronto para desferir golpes e encontrar ou até criar justificativas do porque assim agiram. É a nossa guerra interna e paixão pela ignorância que fazem com que sejamos tão rápidos em julgar os conflitos existentes.
            Obviamente erradicar esse lado bélico no interior dos seres humanos é algo possível apenas no terreno da idealização, mas ele pode ser bem mais reduzido do que vem sendo. E os resultados dessa redução de tantos conflitos internos só serão vistos e apreciados daqui muitas gerações à frente. Não é para os nossos filhos e netos. Porém, o trabalho de se começar esse caminho para uma compreensão maior da nossa agressividade é para já e cabe a cada um de nós lidar com nossos impulsos violentos de maneira mais eficiente e entender que temos uma grande responsabilidade em resolvermos os nossos conflitos e não só os conflitos externos e dos outros. A paz mundial ou um mundo mais justo não é construído através de conflitos armados ou justificando a violência. Para uma real mudança na sociedade é necessário primeiro uma mudança na consciência de como os indivíduos procuram solucionar os seus próprios conflitos. É lento o que se faz necessário, sem dúvida, mas é o único caminho possível e verdadeiramente eficaz.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pergunta de Leitora - Trabalho Sério


Queria muito sua ajuda. Casei já faz um ano e tenho 30 anos. Sempre foi meu sonho casar e escolhi um homem bom. O problema é que a gente anda brigando muito, por qualquer motivo e isso está desgastando nosso relacionamento. Já falamos até em separar e penso constantemente nisso. O que faço? Queria tanto ser casada e agora que sou não sei o que fazer. Eu que insisti nesse casamento e ele diz que se sente excluído da minha vida. Será que faço isso mesmo? Decidi tudo na festa e da nossa vida, mas será que ele está certo em dizer que eu o excluo? São tantas perguntas.

            Casar é o sonho de muita gente, principalmente as mulheres. Acreditam que o casamento é mágico e que por si só trará a tão esperada felicidade. Basta casar e a felicidade chega. Só que isso é ilusão e a realidade é bem diferente. Casar é apenas mais uma das etapas da vida e não um final em si.
            Por mais apaixonado que esteja o casal quando se casam muitos problemas surgirão. Isso não é necessariamente indicativo de que algo vai mal e que está levando ao fim da união. É que viver casado não é fácil mesmo e exige toda uma postura mental que inclui a paciência e a tolerância. São dois seres diferentes, com bagagens diferentes que precisam aprender a encontrar um ponto de equilíbrio na sua convivência diária e fazer com que o relacionamento evolua. Casamento é trabalho sério.
            O que seria bom você se perguntar é se o que você gosta mais é do seu marido ou do fato de estar casada. Não duvido que você o ama, mas parece que estar casada seja mais importante do que o casamento em si. Você mesma coloca as coisas dessa forma quando fica em dúvida se excluiu mesmo o seu marido. Se for este o caso precisa se perguntar se quer valorizar o relacionamento de vocês ou a instituição do casamento.
            Você se assusta com tantas perguntas que há em você, mas elas se respondidas com sinceridade poderão ser bastante esclarecedoras e te tirar da escuridão em que hoje você se encontra. Talvez até pudesse se beneficiar da ajuda de um analista que te escutando te ensinará a se escutar. Ao falar sobre aquilo que nos confunde e causa angústia podemos descobrir respostas que apontarão um caminho.