O
filme Ninfomaníaca (2013) dirigido
pelo controvertido diretor Lars Von Trier deu o que falar. O
filme possui cenas fortes de sexo e até cenas explícitas e muitos chegaram a ficar
perturbados com o que se assistiu. É sobre a estória de uma mulher compulsiva
por sexo que transou com centenas, senão milhares, de homens e de forma
indiscriminada. Nem de seu próprio filho conseguiu cuidar de maneira decente já
que sua compulsão a impelia largá-lo para ir atrás de homens. Eram tantas a
cenas envolvendo sexo que chega uma hora que começa a ser nojento e
desesperador. Mas é assim mesmo que fica o sentimento quando alguém é viciado
em sexo.
A
mulher protagonista do filme não sabe lidar com suas angústias e destas ela
está repleta. Quando não há uma mente para se pensar e lidar com o que se sente
a única via possível torna-se a atuação, que em psicanálise significa vivenciar
as ansiedades no mundo externo tal qual uma cena de teatro ou filme onde o
roteiro já está pré-determinado. A compulsão, que é uma repetição, é uma forma desastrosa
de tentar se lidar com a angústia que se sente. Entretanto, não é possível
chegar a nenhuma resolução verdadeira da ansiedade através da compulsão; apenas
fica-se a repeti-la infrutiferamente.
Uma
pessoa presa à compulsão seja por sexo, por drogas, álcool ou qualquer outra
coisa tenta encontrar na sua atuação um meio de se livrar de sua angústia. Seu
desespero é tão grande e enlouquecedor que pode levar qualquer pessoa a agir de
forma temerária e sem controle, colocando-se em graves riscos. Para uma pessoa
assim a ansiedade não pode ser pensada, ela pode apenas ser atuada.
A
personagem do filme, por exemplo, sentia dentro de si muitos impulsos que não
conseguia dar conta e nem compreender. Ela queria se livrar deles o mais rápido
possível. Só que o que existe dentro da gente a gente não tem como jogar fora,
como se fosse um objeto velho que atiramos ao lixo. A ansiedade precisa ser
acolhida para depois ser transformada em algo que seja útil para usarmos na
vida. Quem não consegue acolher, ou seja, tolerar a angústia que sente não tem
como crescer e por isso mesmo não tem como desenvolver novos meios de se
relacionar consigo e com o mundo. Fica preso em uma determinada cena e a repete
compulsivamente acreditando que em cada próxima vez obterá o que precisa de
fato. Entregar-se a compulsão é entregar-se sempre a uma mentira.
O
ato sexual é algo que libera boa dose de prazer e é de fácil obtenção. Por
alguns segundos a pessoa se sente completa e preenchida como se tivesse
resolvido a sua angústia, porém é uma bela mentira porque a angústia continua
existindo e cobrando um alto preço. Ansiedades
precisam ser transformadas dentro de nós, em nossas mentes, para que consigamos
lidar com elas efetivamente. Não há outro jeito. Então é preciso aprender a
tolerar a ansiedade para que cada vez mais, seja expandida uma mente que dê
conta de sentimentos e emoções primitivas e dolorosas. No filme, toda vez que a
protagonista se via numa situação de intensa ansiedade ela atuava e buscava
alivio através do sexo, mas com isso ia se destruindo e se colocando cada vez
mais em risco.
É
extremamente difícil se livrar de uma compulsão porque para tal necessita-se
aceitar e tolerar a ansiedade que se sente e não buscar alívio em atuações. Só
que acolher as ansiedades mais primitivas e intensas que temos é sempre
assustador. A tendência, como já dizia Freud, é a gente evitar o sofrimento e
abraçar apenas o prazer, mas quando o prazer é algo repetitivo ele se
torna vazio e até destrutivo. Para haver evolução demanda-se renunciar a alguns
prazeres para desenvolvermos formas de se relacionar mais benéficas e
lucrativas. Crescer nunca foi e nunca será fácil, mas é fundamental para quem
quer viver de maneira digna.
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