segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Análise de filme - Ninfomaníaca


            O filme Ninfomaníaca (2013) dirigido pelo controvertido diretor Lars Von Trier deu o que falar. O filme possui cenas fortes de sexo e até  cenas explícitas e muitos chegaram a ficar perturbados com o que se assistiu. É sobre a estória de uma mulher compulsiva por sexo que transou com centenas, senão milhares, de homens e de forma indiscriminada. Nem de seu próprio filho conseguiu cuidar de maneira decente já que sua compulsão a impelia largá-lo para ir atrás de homens. Eram tantas a cenas envolvendo sexo que chega uma hora que começa a ser nojento e desesperador. Mas é assim mesmo que fica o sentimento quando alguém é viciado em sexo.
            A mulher protagonista do filme não sabe lidar com suas angústias e destas ela está repleta. Quando não há uma mente para se pensar e lidar com o que se sente a única via possível torna-se a atuação, que em psicanálise significa vivenciar as ansiedades no mundo externo tal qual uma cena de teatro ou filme onde o roteiro já está pré-determinado. A compulsão, que é uma repetição, é uma forma desastrosa de tentar se lidar com a angústia que se sente. Entretanto, não é possível chegar a nenhuma resolução verdadeira da ansiedade através da compulsão; apenas fica-se a repeti-la infrutiferamente.
            Uma pessoa presa à compulsão seja por sexo, por drogas, álcool ou qualquer outra coisa tenta encontrar na sua atuação um meio de se livrar de sua angústia. Seu desespero é tão grande e enlouquecedor que pode levar qualquer pessoa a agir de forma temerária e sem controle, colocando-se em graves riscos. Para uma pessoa assim a ansiedade não pode ser pensada, ela pode apenas ser atuada.
            A personagem do filme, por exemplo, sentia dentro de si muitos impulsos que não conseguia dar conta e nem compreender. Ela queria se livrar deles o mais rápido possível. Só que o que existe dentro da gente a gente não tem como jogar fora, como se fosse um objeto velho que atiramos ao lixo. A ansiedade precisa ser acolhida para depois ser transformada em algo que seja útil para usarmos na vida. Quem não consegue acolher, ou seja, tolerar a angústia que sente não tem como crescer e por isso mesmo não tem como desenvolver novos meios de se relacionar consigo e com o mundo. Fica preso em uma determinada cena e a repete compulsivamente acreditando que em cada próxima vez obterá o que precisa de fato. Entregar-se a compulsão é entregar-se sempre a uma mentira.
            O ato sexual é algo que libera boa dose de prazer e é de fácil obtenção. Por alguns segundos a pessoa se sente completa e preenchida como se tivesse resolvido a sua angústia, porém é uma bela mentira porque a angústia continua existindo e cobrando um alto preço.  Ansiedades precisam ser transformadas dentro de nós, em nossas mentes, para que consigamos lidar com elas efetivamente. Não há outro jeito. Então é preciso aprender a tolerar a ansiedade para que cada vez mais, seja expandida uma mente que dê conta de sentimentos e emoções primitivas e dolorosas. No filme, toda vez que a protagonista se via numa situação de intensa ansiedade ela atuava e buscava alivio através do sexo, mas com isso ia se destruindo e se colocando cada vez mais em risco.
            É extremamente difícil se livrar de uma compulsão porque para tal necessita-se aceitar e tolerar a ansiedade que se sente e não buscar alívio em atuações. Só que acolher as ansiedades mais primitivas e intensas que temos é sempre assustador. A tendência, como já dizia Freud, é a gente evitar o sofrimento e abraçar apenas o prazer, mas quando o prazer é algo repetitivo ele se torna vazio e até destrutivo. Para haver evolução demanda-se renunciar a alguns prazeres para desenvolvermos formas de se relacionar mais benéficas e lucrativas. Crescer nunca foi e nunca será fácil, mas é fundamental para quem quer viver de maneira digna. 

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