segunda-feira, 30 de julho de 2012

Análise de Filme - Melancolia



            O filme Melancolia de Lars Von Trier tem grande peso e tensão psicológicas, pois trata de um estado mental conhecido há vários milênios e que ainda hoje causa mal estar em inúmeras pessoas. A palavra melancolia vem do grego e foi descrita pela primeira vez pelo médico Hipocrates para designar um estado mental de grande apatia e sentimento de impotência. Hipocrates acreditava que esse estado se dava devido a influência do planeta Saturno que agia em determinadas pessoas que tinham um excesso de bile negra. Melancolia em grego significa precisamente bile negra. O excesso dessa substância tornava as pessoas depressivas, segundo a crença da época.
            No filme a estória se passa centrada em duas irmãs, Justine e Claire. Justine está prestes a se casar com um homem apaixonado por ela e Claire é casada com um milionário e tem um filho. Na festa de casamento Justine vai dando mostra que possui um estado mental bastante melancólico. Ela se vê presa em um estado de espírito onde a alegria e satisfação duram muito pouco, quase nada. Tudo para ela ganha peso e se colore com tons desbotados. A vida, tal como sentida por ela, é monótona e sem sabor. As coisas ao seu redor ficam sem assimilação e sem o menor aproveitamento. O noivo apaixonado e a belíssima festa de casamento acabam mais se tornando um fardo do que algo bom. O casamento mal começou e já chega ao fim. Ela vê a dissolução de sua vida e não consegue reagir. Fica com o olhar perdido, alienada e impotente perante a destruição que se aproxima.
            Junto a tudo isso um planeta chamado Melancolia está prestes a se chocar com a Terra trazendo o fim de toda a vida. Esse planeta, que não deve ser encarado como algo concreto e físico, pode ser entendido como esse estado de melancolia que vai se aproximando vagarosamente até acabar com toda a vida que existe em cada um de nós. Freud entendia o estado da melancolia como um estado de luto permanente, apesar de não haver, necessariamente, uma perda real. Pode ser comparado com o que hoje se conhece mais por depressão. Justine sabe que seu mundo vai acabar com a vinda do planeta Melancolia e se entrega totalmente. Não luta mais para dar um significado às coisas de sua vida. Tudo perde o sentido. Torna-se impotente e apática. É alguém que se rendeu totalmente a própria depressão e passa a odiar a vida e as exigências que esta faz a quem está vivo. A morte, assim, se torna bem vinda, pois significa ter que parar de lutar.
            Sua irmã Claire tenta lutar contra seu próprio estado de melancolia. Ainda se vê nela um desespero angustiante e assustador. Se angustiar não é necessariamente mal, já que isso significa que ainda estamos vivos, ainda sentimos. Porém sentir dói e a dor é algo que sempre tentamos evitar. Enquanto Justine se entrega à depressão de corpo e alma e se torna apática, Claire tenta lutar, mesmo que desastrada e desesperadamente. Tenta encontrar uma saída, uma alternativa e tenta se fazer forte até para proteger seu filho desse estado empobrecedor. Só que o planeta Melancolia está próximo e muito forte. Claire está fraca e lutando sozinha contra algo que a oprime.
            Este é um filme sobre a destruição das vidas daqueles que se encontram presos à depressão. O choque dos planetas é uma alegoria do fim da vida. A depressão corrói a vida até o ponto em que nada mais tem sentido. Foi relatado que muitas pessoas após assistirem esse filme nos cinemas se sentiram mal e incomodadas. É realmente um filme que incomoda ao ver a impotência dos personagens chegando ao seu fim sem conseguir encontrar outro meio de viver. De todos os filmes de fim do mundo este é o que mais tem características psicológicas porque trata do fim do mundo interno e sem este não somos nada.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pergunta de Leitora - A morte de todos nós



Minha mãe está para morrer. Ela já está bem idosa e doente e segundo as previsões médicas ela não dura muito. Ela sempre me pediu para morrer em casa. Agora ela está no hospital e tenho medo de trazê-la por dois motivos. O primeiro é que acho que no hospital ela recebe cuidados profissionais e que se ela tiver um mal estar, vão saber lidar com ela. O segundo motivo é que tenho medo de que ela morra em casa. Tenho medo de minha casa ficar com esse estigma de que alguém morreu aqui. Ao mesmo tempo eu queria estar mais próxima dela, mas também não consigo deixar ela morrer aqui, já que tenho medo da morte. Tenho medo de quem está para morrer. O que fazer nessas horas?

            O assunto da morte geralmente é tratado como tabu e nunca como algo natural. Estamos todos sujeitos à morte e não há como evitá-la. A morte nada mais é do que um fato natural da vida e brigar contra isso é querer brigar com a natureza. Muitas vezes os humanos se apegam a um sentimento de onipotência e crêem que podem controlar tudo, inclusive a morte.
            Como a morte representa o desconhecido, ela é encarada com muito temor. Tendemos a negar aquilo que não entendemos e perdemos a chance de aprender algo novo. Não é fácil ter alguém conhecido e querido para morrer, mas fugir desse evento normal da vida é descartar um momento importante.
            O ato de morrer é solitário e causa ansiedade. Sua mãe deve querer morrer em casa porque isso deve ter um significado importante para diminuir sua ansiedade. Ficar em um ambiente conhecido sempre nos dá mais coragem e paz, tanto que quando ficamos ansiosos e incomodados queremos sempre voltar para nossa casa. Apesar de um hospital contar com recursos e pessoal especializado, ele carece de fornecer o aconchego que também é importante na vida. Principalmente para quem se encontra fragilizado.
            O seu receio de recebê-la em casa para morrer pode ser uma tentativa de querer controlar as emoções que isso te desperta. Talvez você tenha receio de encarar a perda e elaborar o luto, bem como de pensar na sua própria mortalidade, pois é um fato de que quando alguém que nos é conhecido morre, nós pensamos na nossa própria morte. Nessas horas de perda somos obrigados a ver a realidade da vida de que não podemos tudo e de que há coisas que não estão em nosso controle. É se deparar com o fim das coisas e aprender a usar melhor o tempo que dispomos. Apesar de tudo isso ser trabalhoso e custoso de se elaborar, é importante que isso aconteça, para que aceitemos a humanidade e a natureza como realmente é. Se você se permitir aprender a olhar a vida e seus fatos com mais naturalidade, você poderá aceitar a morte da sua mãe com mais tranqüilidade e menos medo.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ansiedade em fica só



            Uma ansiedade muito comum em grande parte das pessoas é a de ficar só. Elas se sentem incomodadas e inseguras quando se percebem sozinhas e chegam a ligar a TV e rádio para ouvir vozes e trazer mais conforto. Há realmente pessoas que temem o silêncio e o estado de ficar só e apenas de pensarem nisso já ficam apavoradas.
            Para começar é bom distinguir entre a solidão e o estado de ficar só. Não é a mesma coisa apesar de ser muitas vezes confundido. Solidão significa se afastar das pessoas, procurar pela distância, é característico de um estado mental específico e que geralmente é um problema para a vida da pessoa. Ela se fecha e receia qualquer contato. Já ficar só tem muito mais a ver com um momento e não um estado. São aqueles momentos onde o silêncio nos rodeia e podemos ficar mais cientes dos nossos pensamentos e emoções. Ficar só pode ser muito enriquecedor porque é um encontro consigo mesmo.
            Quando estamos com pessoas a gente se distrai e se enche de informações e muitas vezes com isso não prestamos atenção às coisas que sentimos. Mas quando estamos sozinhos ficamos conosco apenas. Nunca ficamos totalmente sós, sempre podemos contar com nossas mentes. Porém, há aqueles que temem ficar com seus próprios pensamentos e se ligam rapidamente a qualquer coisa que venha desviar essa percepção. Fogem de si e temem suas emoções.
            Reconhecer nossos pensamentos e emoções requer uma prática. Quem não está acostumado estranha mesmo e acha isso tudo assustador. A tendência geral é sempre a de distrair, desviar nossa percepção de nós mesmos, mas no silêncio nossa mente e seus produtos são colocados à nossa frente. Por isso que o silêncio assusta muitas pessoas; não são todos que aprenderam a se olhar e ver que essa pode ser uma experiência muito produtiva. No ficar só temos uma oportunidade de nos vermos melhor e de aprendermos sobre nós. No oriente, onde há uma tradição de se pensar sobre a mente muito maior do que existe aqui no ocidente, existe a prática da meditação que requer que a pessoa se encontre consigo própria. A meditação ocorre sozinha, cada um é responsável pelo próprio pensamento e tenta buscar sua verdade em vez de fugir dela. A ansiedade de ficar só, na verdade, tem a ver com a pessoa temer se encontrar quando este encontro devia sempre ser esperado e bem acolhido.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pergunta de Leitora - Despida de culpa



Eu vivo um relacionamento muito bom com meu namorado. Estamos juntos há quase 1 ano e gosto mesmo muito dele. Acredito que ele também goste muito de mim. A minha pergunta é sobre sexo. Quando nós transamos ele gosta de falar palavrões e coisas que normalmente ele não fala no dia a dia. Ele gosta de me bater também, mas nada violento e que machuque, mas eu percebo que ele fica excitado ao fazer essas coisas. Eu não sei o que fazer. Para mim isso não é fazer amor. É algo meio que animal, algo meio grosseiro. Em alguns momentos até fico excitada, mas depois me sinto culpada e acho que estou me rebaixando. Fico assustada com essas coisas do sexo e não sei o que pensar. Tenho medo de fazer sexo e não fazer amor. Será que é certo eu deixar ele fazer isso comigo na cama?

            Creio que o motivo que a levou a escrever para mim foi pedir um tipo de autorização para poder se excitar na cama com seu namorado. Você diz que até se excita com o que ele desperta em você quando estão transando, mas o problema é a culpa que você sente por gostar disso. O sentimento de culpa te impede de aproveitar melhor a sua sexualidade.
            A culpa transforma algo natural em algo condenável. Esse é o seu caso, pois condena o sexo e exalta o amor como se um fosse vilão e o outro mocinho. Sexo também é uma parte da vida e algo perfeitamente natural, portanto não há nada mau nele. Seu namorado se excita com um pouco mais de agressividade no sexo e você também, por que não aproveitar o que vocês dois gostam e viver sem culpa? Por que sujar com as tintas da culpa algo da intimidade de vocês?
            Sexo é puro instinto e emoção, é algo primitivo. Quando você fala em fazer amor e não fazer sexo, você está inibindo seus impulsos sexuais e os condenando. É claro que o sexo pode ter amor, mas isso não significa que também não terá características mais agressivas e também excitantes. Você se empobrece quando insiste em só querer fazer amor e não querer fazer sexo.
            Numa relação a dois o que vale é o que cada um quer viver e deseja. Não existe uma coisa tal como uma cartilha do bom sexo, do que se pode ou não fazer, isso depende da decisão das pessoas envolvidas no ato sexual. Ao olhar para o sexo com mais naturalidade e menos condenação você vai se permitir conhecer seus desejos e vivê-los de forma mais tranqüila. Você não precisa da minha autorização para viver sua sexualidade e a de ninguém mais. Pode contar com sua mente para saber o que realmente quer e viver sem culpa.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Há mais coisas na vida



Havia um mosteiro budista numa ilha de modo que para se chegar ou sair de lá era necessário tomar um barco. Um belo dia um monge jovem saiu do mosteiro para realizar uma tarefa determinada por seu superior e foi para uma canoa que estava lá a sua espera com um barqueiro para conduzi-lo. Durante o trajeto no rio até a margem, o jovem monge olhava para o barqueiro e se sentia superior. Estava tomado por excesso de arrogância e encarava o simplório barqueiro com ar de superioridade. Quis mostrar o quão melhor ele era para o barqueiro que iniciou uma conversa.
- Você sabe teologia?
- Não – respondeu o barqueiro – nunca aprendi.
- Você sabe filosofia?
- Não, nunca aprendi.
- Que pena – disse o jovem monge – você perdeu parte da sua vida, pois são essenciais ao desenvolvimento.
O barqueiro só escutava e olhava para aquele jovem.
- Você sabe matemática e álgebra?
- Não, nunca aprendi.
- Que pena – continuava o monge – você perdeu parte da sua vida, pois são ciências nobres!
E assim foi até que meio atordoado o barqueiro não conseguiu desviar o barco de uma pedra pontiaguda que acabou por causar um furo. Entrando água no barco, este começou a afundar deixando o monge apavorado.
- Você sabe nadar? – gritou o barqueiro
- Não, nunca aprendi – foi a resposta do monge.
- Que pena, você perdeu toda a sua vida!

            Muitas pessoas pensam que acumular conhecimento é a coisa mais importante da vida e se esquecem que há muito mais verdade na sabedoria do que no conhecimento. Conhecimento em si não leva a nada se for apenas guardado. O conhecimento para valer de alguma coisa precisa ser usado, pois só isso gera algo novo. Sabedoria é sempre aprender com a vida e se envolver com ela. Só com a sabedoria podemos utilizar bem nossas mentes e nossos conhecimentos.
            Tal como na parábola acima, o monge que ficou tanto tempo estudando esqueceu-se de viver e de aprender coisas essenciais para se preservar e se fortalecer. Quando estamos no mundo real só o conhecimento não basta e é preciso também contar com a sabedoria que vem das experiências de vida. Ninguém adquire sabedoria através dos estudos e títulos que recebe, porém a conquista quando se permite viver a vida.
É até possível que uma pessoa que só acumula conhecimento queira se esconder da vida real. Ficam apenas nas teorias e nunca vão atrás das próprias experiências. Se escondem atrás de intelectualidades e se agarram a elas para se sentir com algum poder e valor. Acham que entendem tudo e de que há muito pouco para elas aprender. Chegam ao cúmulo da arrogância e fecham as portas para as aprendizagens da vida que são tão enriquecedoras.
As pessoas temem se abrir para as experiências porque muitas delas podem ser difíceis de serem sentidas. Queremos sempre evitar sentir aquilo que nos desagrada e alguém que se propõe a viver experiências precisa aceitar que ao mesmo tempo que há experiências boas há também as ruins. Porém, mesmo as mais ruins podem ser úteis para uma mudança de pensamento. Quando mudamos aprendemos algo que não sabíamos antes e isso gera sabedoria e um entendimento melhor da vida. Então que tenhamos conhecimento, mas que o usemos para alimentar nossas experiências de vida.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pergunta de Leitora - Quando a raiva domina



Eu fico com raiva muito facilmente. Qualquer coisa é motivo para que eu venha perder a cabeça e brigar com quem quer que seja. Meu marido, então, se fala algo que me desagrada, eu explodo na hora até xingando-o. não gosto mesmo de ser contrariada. Tenho uma boa posição social e isso faz com que muitas pessoas me obedeçam e jamais me contradigam. Mas caso alguém ouse fazer tal coisa, acaba o meu dia. Claro que antes eu acabo com a pessoa, falando mal dela ou até brigando. Está sendo difícil para mim dirigir no transito. Fico louca de raiva e fico imaginando que tenho um daqueles caminhões gigantes e passando por cima de todo mundo. Estou num estresse muito forte e minha médica falou que deveria fazer uma psicoterapia. Mas eu prefiro resolver as coisas rapidamente, sem muitas delongas. O que vc pode dizer sobre a raiva e como combatê-la?

            Raiva faz parte da vida e é algo natural. É impossível alguém não senti-la uma hora ou outra. A raiva, dependendo do caso, pode até ser positiva, pois nos incita à defesa e à sobrevivência. Porém, quando ela passa a tomar conta da vida, os problemas aparecem.
            Você está numa posição onde não admite ser contrariada e essa é a posição em que se encontra bebês e crianças pequenas. Eles pensam que o mundo e todas as pessoas próximas que giram ao seu redor só existem para trazer satisfação e não admitem ser jamais contrariados. Com o tempo e através de muitas frustrações, que são inevitáveis, as crianças percebem que as pessoas ao seu redor têm interesses próprios e suas próprias necessidades. Aprende-se aí a fazer concessões e ser mais flexível. Enfim, aprende-se a crescer e a aceitar a realidade.
            Ao agir de uma maneira tão ditatorial, você age de uma forma muito primitiva, se agarrando a uma posição onde não se tolera a menor frustração. Quer, porque quer ser satisfeita e dane-se o resto. Assim você até afasta as pessoas porque se torna desagradável. Talvez por você ter uma boa posição social, como você colocou, faça com que exista pessoas que te ature porque precisam de você ou por interesse próprio mesmo, mas o que fica claro é que você não se mostra interessada em ninguém além de si própria.
            Ouso dizer que você preferir não estar em terapia tenha mais a ver com você não gostar de ser contrariada do que com rapidez de solução. Quem está em terapia é contrariada algumas vezes e é até bom que assim seja, pois mostra que a vida real exige crescer e saber que não se é a única pessoa no mundo que tem necessidades e urgências. Aprender a tolerar frustrações é a melhor maneira para se desapegar da raiva que sente.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Adolescentes e vampiros



            Há algum tempo a moda dos vampiros estava com toda a força tornando romances, filmes e toda uma série de produtos populares, principalmente entre os adolescentes. Podemos pensar no motivo porque isso se deu e isso tem relação com o medo das transformações que ocorre na adolescência.
            Na adolescência, mais do que em qualquer outro momento na vida, as transformações são muitas e intensas. É a hora que se vai deixando a infância, mas sem se tornar adulto. Uma época de aguardo e preparação, ou seja, um momento de transitoriedade. Nesses momentos a ansiedade domina, pois os acontecimentos são mais do que a mente pode elaborar e não é a toa então que esse período é considerado o mais complicado de todos. Desde alterações hormonais que modificam o corpo, os desejos e os relacionamentos, a adolescência geralmente nunca é pacífica, mas turbulenta. As mudanças sempre trazem uma enorme carga de ansiedade perante o desconhecido e a tendência de todos é sempre evitar aquilo que de alguma forma causa desprazer.
            Os vampiros, nas estórias, são geralmente paralisados no tempo. A única transformação que ocorre é se transformar em vampiros, porém depois disso cessa todas as outras transformações. É por isso que o tema dos vampiros é tão atrativo aos adolescentes: terminam-se as mudanças e as angústias que vêm com elas. Os vampiros ficam então cristalizados em figuras belas, geralmente confiantes e imortais, que é tudo o que os adolescentes mais desejam. Ao se tornarem belos acaba-se a angústia pelas mudanças de seus corpos, angústia essa que está presente em qualquer adolescente. Ser confiante é totalmente o oposto do que realmente sentem na vida real e imortais significa que o tempo é eterno e não é preciso crescer.
            As transformações que ocorrem na vida dos adolescentes deixando-os inseguros e apreensivos é uma etapa necessária na vida e que é impossível evitar. É preciso passar por ela para poder amadurecer e viver como adulto de fato, com responsabilidades e também realizações. Aliás, as verdadeiras realizações só acontecem na vida adulta e não antes disso, já que as realizações são sempre fruto de muito empenho e dedicação, o que exige maturidade. Todavia, para se saber isso é preciso tempo e paciência, sendo esta última quase impossível para um adolescente possuir e por isso fantasiam serem seres mágicos que não precisam lidar com a ansiedade do crescimento e das transformações que a vida impõe. À medida que os adolescentes vão crescendo eles podem se dar conta do lado bom do amadurecimento e abraçar as mudanças com muito mais tranqüilidade e segurança. Deixam assim a fantasia da imortalidade para ganhar a vida humana.     

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pergunta de Leitor - Outro Ponto de Vista



Sou o pai do rapaz que te escreveu dizendo que queria ser dançarino (09 de julho de 2011). No email dele ele disse que não queria fazer medicina para dançar. Minha vida está um inferno e ele vive dizendo que eu sou um impedimento para ele se realizar. E você para piorar disse que ele tem que saber o que o faz feliz e ir atrás disso. Você o incentivou a dançar e a abandonar a carreira médica. Acha mesmo que meu filho vai ser mais feliz pobre? É muito fácil você falar essas coisas, mas ele não é seu filho e eu só quero o melhor para ele e eu sei que isto passa pela medicina. Meu pai foi médico, meus irmãos são médicos e por que ele teria que ser diferente? No início da minha vida eu também não queria ser medico, mas depois de tanta insistência do meu pai eu me tornei um e vi que me realizei. Ser médico é nobre e não tem profissão melhor.

            A questão não se trata se a medicina é boa ou não. É lógico que essa é uma profissão e ciência nobre e fascinante e com uma importância vital. Porém, a pergunta que você pode se fazer é se a medicina é a melhor profissão para o seu filho que não a deseja. Você acha que sim, mas essa é uma resposta que só seu filho pode encontrar.
            Quando temos filhos é natural desejarmos o bem deles e imaginar como poderia ser a vida deles. No entanto, as coisas não funcionam dessa maneira, porque os filhos são pessoas diferentes dos pais e têm idéias próprias. Eles, melhores do que ninguém, devem descobrir o que querem para a vida e menosprezar esse fato é se apegar à onipotência e achar que pode controlar o desejo do filho. Cada um deve ser responsável pela própria vida e pelas próprias escolhas.
            Ao não permitir que seu filho se descubra e se encaminhe para o que deseja, você inviabiliza o relacionamento de vocês. Ao se impor com tanta prepotência, sem nem ligar para o que ele realmente quer, você o afasta e o convida a te odiar. Apesar de inicialmente você não ter desejado a medicina e hoje, aparentemente, se sentir realizado, não quer dizer que vai ser assim com seu filho. O que será que você deseja para ele: status ou realização? Penso que seja o primeiro e fica cego para entender que alguém obrigado a viver contrariado é muito mais empobrecedor do que você imagina. Você contraria a vontade do seu filho e desautoriza o desejo dele e caso continue assim corre o risco de perdê-lo.
            Seu filho é uma pessoa e você outra e parece-me que é isso que precisa aprender a entender. Ao abrir mão da sua onipotência você poderá enxergar seu filho como realmente é e não como você gostaria que fosse. Que tal você trocar a paixão pelo controle para abrir espaço para construir uma paixão por um filho que você desconhece? É capaz de abrir mão de idéias pré-conceituosas e ver o mundo a partir de outro ponto de vista?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ansiedade



            A ansiedade pode ser extremamente danosa para a vida e se dá de forma diferente do medo. O medo aparece quando acontece algo que nos causa terror, mas sabemos do que se trata esse algo. É quando você vê um cachorro enorme e feroz vindo na sua direção. Lógico que nesse caso você ficará com medo e saberá o motivo desse medo. No entanto é só estar livre desse cachorro que o medo desaparece. Já na ansiedade o que acontece é que persiste uma sensação de incômodo ou até mesmo de medo sem que se tenha um motivo propriamente para isso. É quando você está em casa, mas sente medo de algo ou algum incômodo que diz que algo ruim está acontecendo apesar de você não saber bem o que.
            Na ansiedade vive-se um estado de terror mesmo que não haja, visivelmente, uma razão para isso. E se encontrar nesse estado causa um terrível mal estar já que não deixa que a pessoa viva tranquilamente, mas fica em alerta total e com isso se desgasta. Até pode ser que no passado aconteceu uma situação traumática que marcou a pessoa, só que na ansiedade a pessoa nunca se desliga dessa situação, acha que está sempre para acontecer novamente e vive um inferno. Seguindo no exemplo do cachorro pode até ser que um animal desses, algum dia, ameaçou a pessoa e até a mordeu, mas passa a ser ansiedade quando ela, estando livre e longe de qualquer cachorro que a possa ameaçar, vive como se um cachorro estivesse sempre pronto a irromper onde quer que ela esteja para lhe oferecer perigo.
            Há casos de pessoas que vivem em ansiedade e nem sabem dizer e nomear do que têm medo. Não tiveram ou não associaram uma experiência traumática do passado com o presente e então ficam sem saber de onde vem sua ansiedade, mas a sentem da mesma forma. Faz com que fiquem muito mal, pois ao estarem nesse estado de ansiedade, esperam sempre pelo pior e deixam de aproveitar a vida com prazer. Ficam irritadas e com o tempo vão perdendo até a autoestima.
            Mas seja qual for o caso a ansiedade é algo que pode ser trabalhado para se permitir que se viva melhor. Há a possibilidade de dar à ansiedade um significado e com isso se descobrir o que realmente se teme. Com a origem dessa ansiedade descoberta fica mais fácil lidar com ela porque aí já se sabe com o que se está lidando. A ansiedade revelada perde a força e faz com que possamos ver o melhor modo de se acertar e se organizar. É muito importante que a pessoa não se acomode viver num estado de ansiedade constante e com isso desbote a vida. Mas que possa trabalhar a própria mente para se livrar dela e viver de uma forma muito mais proveitosa. A ansiedade pode cobrar um preço muito alto na vida das pessoas, mas fica a cada um a decisão se vai pagar esse preço ou se vai pagar o preço do autoconhecimento para se ver livre daquilo que estraga a vida.