O filme Melancolia de
Lars Von Trier tem grande peso e
tensão psicológicas, pois trata de um estado mental conhecido há vários
milênios e que ainda hoje causa mal estar em inúmeras pessoas. A palavra melancolia vem do grego e foi descrita
pela primeira vez pelo médico Hipocrates para designar um estado mental de
grande apatia e sentimento de impotência. Hipocrates acreditava que esse estado
se dava devido a influência do planeta Saturno que agia em determinadas pessoas
que tinham um excesso de bile negra. Melancolia em grego significa
precisamente bile negra. O excesso dessa substância tornava as pessoas
depressivas, segundo a crença da época.
No filme a estória se passa centrada em duas irmãs,
Justine e Claire. Justine está prestes a se casar com um homem apaixonado por
ela e Claire é casada com um milionário e tem um filho. Na festa de casamento
Justine vai dando mostra que possui um estado mental bastante melancólico. Ela
se vê presa em um estado de espírito onde a alegria e satisfação duram muito
pouco, quase nada. Tudo para ela ganha peso e se colore com tons desbotados.
A vida, tal como sentida por ela, é monótona e sem sabor. As coisas ao seu
redor ficam sem assimilação e sem o menor aproveitamento. O noivo apaixonado e
a belíssima festa de casamento acabam mais se tornando um fardo do que algo bom.
O casamento mal começou e já chega ao fim. Ela vê a dissolução de sua vida e
não consegue reagir. Fica com o olhar perdido, alienada e impotente perante a
destruição que se aproxima.
Junto a tudo isso um planeta chamado Melancolia está
prestes a se chocar com a Terra trazendo o fim de toda a vida. Esse planeta,
que não deve ser encarado como algo concreto e físico, pode ser
entendido como esse estado de melancolia que vai se aproximando vagarosamente
até acabar com toda a vida que existe em cada um de nós. Freud entendia o
estado da melancolia como um estado de luto permanente, apesar de não haver,
necessariamente, uma perda real. Pode ser comparado com o que hoje se conhece
mais por depressão. Justine sabe que seu mundo vai acabar com a vinda do
planeta Melancolia e se entrega totalmente. Não luta mais para dar um
significado às coisas de sua vida. Tudo perde o sentido. Torna-se impotente e
apática. É alguém que se rendeu totalmente a própria depressão e passa a
odiar a vida e as exigências que esta faz a quem está vivo. A morte, assim, se
torna bem vinda, pois significa ter que parar de lutar.
Sua irmã Claire tenta lutar contra seu próprio estado de
melancolia. Ainda se vê nela um desespero angustiante e assustador. Se
angustiar não é necessariamente mal, já que isso significa que ainda estamos
vivos, ainda sentimos. Porém sentir dói e a dor é algo que sempre tentamos
evitar. Enquanto Justine se entrega à depressão de corpo e alma e se torna
apática, Claire tenta lutar, mesmo que desastrada e desesperadamente. Tenta
encontrar uma saída, uma alternativa e tenta se fazer forte até para proteger
seu filho desse estado empobrecedor. Só que o planeta Melancolia está próximo e
muito forte. Claire está fraca e lutando sozinha contra algo que a oprime.
Este é um filme sobre a destruição das vidas daqueles que
se encontram presos à depressão. O choque dos planetas é uma alegoria do fim da
vida. A depressão corrói a vida até o ponto em que nada mais tem sentido. Foi
relatado que muitas pessoas após assistirem esse filme nos cinemas se sentiram
mal e incomodadas. É realmente um filme que incomoda ao ver a impotência dos
personagens chegando ao seu fim sem conseguir encontrar outro meio de viver. De
todos os filmes de fim do mundo este é o que mais tem características
psicológicas porque trata do fim do mundo
interno e sem este não somos nada.