sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pergunta de Leitora - A morte de todos nós



Minha mãe está para morrer. Ela já está bem idosa e doente e segundo as previsões médicas ela não dura muito. Ela sempre me pediu para morrer em casa. Agora ela está no hospital e tenho medo de trazê-la por dois motivos. O primeiro é que acho que no hospital ela recebe cuidados profissionais e que se ela tiver um mal estar, vão saber lidar com ela. O segundo motivo é que tenho medo de que ela morra em casa. Tenho medo de minha casa ficar com esse estigma de que alguém morreu aqui. Ao mesmo tempo eu queria estar mais próxima dela, mas também não consigo deixar ela morrer aqui, já que tenho medo da morte. Tenho medo de quem está para morrer. O que fazer nessas horas?

            O assunto da morte geralmente é tratado como tabu e nunca como algo natural. Estamos todos sujeitos à morte e não há como evitá-la. A morte nada mais é do que um fato natural da vida e brigar contra isso é querer brigar com a natureza. Muitas vezes os humanos se apegam a um sentimento de onipotência e crêem que podem controlar tudo, inclusive a morte.
            Como a morte representa o desconhecido, ela é encarada com muito temor. Tendemos a negar aquilo que não entendemos e perdemos a chance de aprender algo novo. Não é fácil ter alguém conhecido e querido para morrer, mas fugir desse evento normal da vida é descartar um momento importante.
            O ato de morrer é solitário e causa ansiedade. Sua mãe deve querer morrer em casa porque isso deve ter um significado importante para diminuir sua ansiedade. Ficar em um ambiente conhecido sempre nos dá mais coragem e paz, tanto que quando ficamos ansiosos e incomodados queremos sempre voltar para nossa casa. Apesar de um hospital contar com recursos e pessoal especializado, ele carece de fornecer o aconchego que também é importante na vida. Principalmente para quem se encontra fragilizado.
            O seu receio de recebê-la em casa para morrer pode ser uma tentativa de querer controlar as emoções que isso te desperta. Talvez você tenha receio de encarar a perda e elaborar o luto, bem como de pensar na sua própria mortalidade, pois é um fato de que quando alguém que nos é conhecido morre, nós pensamos na nossa própria morte. Nessas horas de perda somos obrigados a ver a realidade da vida de que não podemos tudo e de que há coisas que não estão em nosso controle. É se deparar com o fim das coisas e aprender a usar melhor o tempo que dispomos. Apesar de tudo isso ser trabalhoso e custoso de se elaborar, é importante que isso aconteça, para que aceitemos a humanidade e a natureza como realmente é. Se você se permitir aprender a olhar a vida e seus fatos com mais naturalidade, você poderá aceitar a morte da sua mãe com mais tranqüilidade e menos medo.

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