sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pergunta de Leitor - Outro Ponto de Vista



Sou o pai do rapaz que te escreveu dizendo que queria ser dançarino (09 de julho de 2011). No email dele ele disse que não queria fazer medicina para dançar. Minha vida está um inferno e ele vive dizendo que eu sou um impedimento para ele se realizar. E você para piorar disse que ele tem que saber o que o faz feliz e ir atrás disso. Você o incentivou a dançar e a abandonar a carreira médica. Acha mesmo que meu filho vai ser mais feliz pobre? É muito fácil você falar essas coisas, mas ele não é seu filho e eu só quero o melhor para ele e eu sei que isto passa pela medicina. Meu pai foi médico, meus irmãos são médicos e por que ele teria que ser diferente? No início da minha vida eu também não queria ser medico, mas depois de tanta insistência do meu pai eu me tornei um e vi que me realizei. Ser médico é nobre e não tem profissão melhor.

            A questão não se trata se a medicina é boa ou não. É lógico que essa é uma profissão e ciência nobre e fascinante e com uma importância vital. Porém, a pergunta que você pode se fazer é se a medicina é a melhor profissão para o seu filho que não a deseja. Você acha que sim, mas essa é uma resposta que só seu filho pode encontrar.
            Quando temos filhos é natural desejarmos o bem deles e imaginar como poderia ser a vida deles. No entanto, as coisas não funcionam dessa maneira, porque os filhos são pessoas diferentes dos pais e têm idéias próprias. Eles, melhores do que ninguém, devem descobrir o que querem para a vida e menosprezar esse fato é se apegar à onipotência e achar que pode controlar o desejo do filho. Cada um deve ser responsável pela própria vida e pelas próprias escolhas.
            Ao não permitir que seu filho se descubra e se encaminhe para o que deseja, você inviabiliza o relacionamento de vocês. Ao se impor com tanta prepotência, sem nem ligar para o que ele realmente quer, você o afasta e o convida a te odiar. Apesar de inicialmente você não ter desejado a medicina e hoje, aparentemente, se sentir realizado, não quer dizer que vai ser assim com seu filho. O que será que você deseja para ele: status ou realização? Penso que seja o primeiro e fica cego para entender que alguém obrigado a viver contrariado é muito mais empobrecedor do que você imagina. Você contraria a vontade do seu filho e desautoriza o desejo dele e caso continue assim corre o risco de perdê-lo.
            Seu filho é uma pessoa e você outra e parece-me que é isso que precisa aprender a entender. Ao abrir mão da sua onipotência você poderá enxergar seu filho como realmente é e não como você gostaria que fosse. Que tal você trocar a paixão pelo controle para abrir espaço para construir uma paixão por um filho que você desconhece? É capaz de abrir mão de idéias pré-conceituosas e ver o mundo a partir de outro ponto de vista?

2 comentários:

  1. Sylvio, pobre deste pai que, no fundo, nem ao menos se atualiza com relação ao mundo de hoje. Não sei qual a dança que o rapaz deseja, mas o que mais faz sucesso e rende neste mundo nosso, além do esporte é a música e o show. Embora ele fale,indiretamente, em ganho, parece que o fato real é o preconceito!
    Que pena, não é?

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  2. Oi Sylvio, fico pensando como seria legal se fosse possível ter garantias nas opções que fazemos na vida. Já vi médicos ricos e médicos pobres, mas fiquei feliz ao ver médicos felizes com seu trabalho. E assim também já vi bailarinos ricos e bailarinos pobres - de todos os gêneros de dança e opções sexuais, pq isso também pode estar na preocupação daquele pai - e o melhor é saber que um bailarino é feliz com sua arte. Ontem à noite vi uma entrevista com o ator Renato Papa em que ele falou que não se arrepende do que fez, mas do que não fez, e o que mais o incomoda foi o tempo que não passou com o pai. Seu pai, tal como este, achava que ele não deveria ser ator, mas ter uma "profissão regular" e nunca foi vê-lo no palco. Só depois que o pai morreu é que Renato achou uma pasta com canhotos de todas das peças que ele fez, com programas, anúncios, críticas, etc. Quanto tempo e amor perdidos...

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