segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Relações Básicas




           Hoje em dia fala-se muito em animais de apoio emocional, que são animais aceitos nos aviões, nos hotéis e lugares públicos que, tradicionalmente, não costumavam receber animais. Companhias aéreas estão acolhendo em seus voos cães, gatos, patos, porquinhos da índia e até porcos para viajarem lado a lado com seus donos e outros passageiros. Há todo um movimento de profissionais afirmando que algumas pessoas quando estão com seus animais presentes sentem-se mais seguras e confiantes. Em contrapartida, menos ansiosas ou com outros sintomas desconfortáveis.
Já se fazia uso de alguns animais, como cavalos e cães treinados, para a terapia, mas agora o movimento ganhou muito mais adeptos. Primeiro de tudo é preciso diferenciar pessoas que realmente fazem uso de animais para suporte emocional e outras que aproveitam a deixa para exagerar e causar, simplesmente. Há quem só queira fazer cena e render selfies. 
Mas há quem realmente acaba fazendo uso desses animais por recomendações profissionais e isso tudo vem mostrando o quanto faltam relações de qualidade entre as pessoas. O mercado dos pets vem crescendo intensamente não só porque os bichinhos estão na moda e são fofinhos, mas porque estão ocupando um lugar muito importante que revela uma falta em nossas vidas.
            O relacionamento com os animais está suprindo a falta de relações básicas entre as pessoas. Falta contato verdadeiro. Nós crescemos e aprendemos sobre nós e o mundo através de relações com outros seres. O ser humano é gregário, ou seja, necessita de contatos que o ensine a viver, a saber de si e a se relacionar com o mundo. Nossas relações, entretanto, estão empobrecidas de significado. Não basta apenas haver duas pessoas juntas para haver conexão. Isso pode ser muito vazio. Aliás, há um mundaréu de gente por aí rodeada por pessoas cujas relações são vazias. Para haver conexão de fato é necessário existir sentido.
            O sentido se faz através dos olhares, das trocas, da atenção, da curiosidade e do cuidado. Entre pessoas isso tudo pode ficar prejudicado porque os relacionamentos são estragados pelas expectativas que um alimenta sobre o outro, pelo julgamento e condenação. Essas coisas cortam a espontaneidade sem a qual nenhum relacionamento tem como se desenvolver. Em outras palavras, as pessoas estão com muito medo umas das outras e os relacionamento ficam engessados e sem vida. Obviamente isso cria uma falta muito grande. E é justamente nessa falta que entram os animais.
Como não prestar atenção num animalzinho engraçadinho que está ali chamando atenção e aprontando? Como não se derreter quando esse animalzinho nos ama independentemente de quem somos? Podemos ser quem somos que os bichos não ficarão decepcionados. Isso é que está faltando nas relações entre as pessoas.
            Pais esperam que seus filhos sejam um sucesso, cônjuges exigem que seus pares sejam perfeitos, chefes demandam que seus funcionários sejam extremamente produtivos. Estão todos esperando, exigindo e demandando do outro. Ficamos com medo de não sermos aceitos e não ser aceito é fonte de uma angústia terrível. Os animais aceitam com muito mais empatia quem somos, sem julgamentos. Não é à toa que eles estejam sendo cada vez mais requisitados.
            Relações humanas estão em falta e são mercadoria rara, mas só aprendemos a ser humanos de fato quando desenvolvemos relações de qualidade. Só seremos verdadeiramente humanos quando nos relacionarmos com humanos. Os animais podem nos ajudar até um certo ponto, mas ainda precisamos aprender mais.

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