sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Pergunta de Leitor - Sentir Inveja




Queria aprender a lidar melhor com um sentimento muito feio: a inveja. Não me considero uma pessoa invejosa todo o tempo, mas em questões profissionais sim. Quando vejo que algum colega conquistou algo que eu também almejava ela me invade. Me sinto pior, derrotado, mesmo sabendo que não sou um mau profissional. Queria conquistar grandes coisas, ter destaque nacional na minha área como alguns colegas. É um sentimento ruim, pois não depende só de mim...


            A inveja é um sentimento incontrolável e que todos experimentamos uma hora ou outra. Por isso não precisamos defini-lo como feio ou com qualquer outra condenação. Condenar é uma maneira de não se pensar sobre o que se sente e um convite para reprimir tudo aquilo que destoa do que consideramos que deveria ser um ser humano. Os próprios bebês, por exemplo, para assombro de muitos, sentem inveja.
            A psicanalista Melanie Klein estudou muito sobre inveja e as crianças e notou que bebês pequenos sentem inveja de suas mães. Isso se inicia quando eles percebem que são impotentes quando se trata de eles mesmo se cuidarem, dependendo de suas mães para obter gratificações como alimento, carinho, segurança. A mãe ou o seu cuidador tem tudo aquilo que um bebê mais deseja e ele vive uma inveja primitiva. Queria ter todo esse “poder” de se satisfazer e não mais depender. É uma situação que causa no bebê uma frustração muito grande.
            Ás vezes a frustração gera um sentimento de ódio sobre aquilo que causa inveja. É uma forma de acreditar que o objeto da inveja não precisa ser mais invejado. O bebê fica dividido entre o amor que sente pela mãe e o ódio que também é despertado através da inveja. Pois é, desde uma idade muito precoce temos que lidar com questões mentais difíceis e conforme crescemos mais questões ainda se apresentam.
            Alguns colegas seus terão mesmo mais destaque, mais reconhecimento. Isso faz parte da vida. Sempre haverá alguém mais bonito, mais inteligente, mais bem posicionado. O que importa, no entanto, é o que você faz consigo, com suas oportunidades. Será que você aproveita bem o que tem? Permite-se usufruir das suas condições? Não se trata de você ser melhor que os outros, mas de você se desenvolver fazendo o melhor possível em todos os seus momentos. Aprender a aceitar que algumas coisas jamais serão possíveis enquanto outras você poderá vir a desenvolver. Todos, seja quem for, uma hora ou outra têm que lidar com a inveja. Contudo, o remédio contra a inveja é a gratidão que é aproveitar bem e sabiamente o que se tem e ir desenvolvendo cada vez mais. Difícil nossa condição humana, mas podemos ser criativos e como já diz o ditado antigo fazer do limão uma limonada.

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