Mais um ano aproxima-se do fim e
mais um está prestes a começar. Essa mudança nos calendários gera toda uma
overdose emocional que, como um tsunami, invade as mentes das pessoas trazendo
muitas dores e sofrimentos que tornam essa época uma das mais complicadas. O
que faz com que um tempo que, espera-se ser de felicidade, seja custoso e fonte
de tantas aflições e pesares?
A origem de tantas angústias nessa
época encontra-se na própria mente e na forma que lidamos com ela. A grande
maior parte dos nossos sofrimentos mentais não vem de fora e nem se trata de
algo externo, como muitos acreditam, porém é derivado da maneira que nos
relacionamos conosco mesmo.
No fim do ano as famílias se reúnem,
parentes que estavam afastados se juntam e amigos se reencontram. Isso pode ser
torturante quando se há presente uma forte idealização de como as coisas têm
que ser. Idealizamos que no fim do ano temos que estar muitos felizes, rindo à
toa, que não tenhamos nenhum problema. Todavia para ninguém isso é possível. No
entanto, entre ser aquilo que é possível e aquilo que idealizamos ficamos com o
último e aí começam os sofrimentos desnecessários.
Idealizamos nossas famílias, queremos
que elas sejam perfeitas. Que nossos filhos sejam sempre os primeiros em tudo,
que nossos cônjuges sejam espetaculares, que nossos pais nunca apresentem
problemas e sejam o casal perfeito. Queremos viver o impossível, algo que não
tem como existir da forma que imaginamos. Não aceitamos que nossos filhos têm
dificuldades em algumas áreas, que nossos cônjuges nem sempre são tão parceiros
assim e que nossos pais apresentam características que não nos agradam. O peso
do fim do ano é quando há um confronto entre a família possível e a família
idealizada.
Não só em relação à família isso
ocorre, mas também conosco próprios. Achamos que temos que chegar ao fim do ano
milionários, sem doenças, sem preocupações e que só assim é sucesso e sinal de
uma vida plena. Se não estivermos eufóricos e exuberantes parece que a vida se
tornou um fracasso. Essa época convida a muitas comparações, que é uma das
piores atitudes que podem existir. Nos comparamos com os amigos que aparentam
um sucesso estrondoso, com os primos que aparentam um progresso extraordinário.
Todos parecem estar bem melhores do que nós e isso nos põe para baixo de forma
cruel.
O maior problema no fim de ano é que
fantasiamos que os outros estão gozando de uma felicidade sem limites que nós
não temos. Fantasiamos que os outros são melhores, mais bem sucedidos, mais
ricos, mais bonitos e mais felizes do que nós mesmos. Só que se a gente se compara
com a fantasia que é a vida dos outros, sempre vamos perder feio e ficar na
pior. Acreditar que precisamos ser de um jeito impossível de ser e que os
outros vivem deste jeito é o que causa tanto mal estar nessa época.
Com um olhar mais apurado vamos ver
que nem tudo o que reluz é ouro. Todas as pessoas passam por adversidades,
lutos, angústias e ninguém é tão feliz como num comercial de margarina. As
famílias não são perfeitas apesar de muitas tentarem vender essa imagem. Se
pudermos ver a realidade isso nos será favorável para olharmos para o que temos
de bom ao invés de olhar somente para o que não temos. Essa é a época em que
mais fazemos dívidas para nos preenchermos e não nos darmos contas de nossos
limites. Só que nenhuma mercadoria do mundo vai preencher nossas angústias.
Contudo não precisamos da idealização, mas do real. E o real, por mais difícil
que seja, pode ter coisas que nos sejam muito boas e que devemos aprender a
aproveitar. Entretanto, isso só pode acontecer se deixarmos de lado a fantasia
da felicidade plena e ilimitada.
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