segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O que é um Talismã?



            Muitas pessoas fazem uso de talismãs. Seja um pé de coelho, uma figa, uma pimenta, um olho aberto, etc. Quem faz uso desses objetos acredita que eles a protegerão de tudo o que for negativo e atrairá sorte e coisas boas. Algumas pessoas até se sentem mais confortáveis caso tenham algum talismã por perto e ficam preocupadas quando se veem sem seus objetos da sorte. Mas o que é um talismã e de onde surgiu a crença de que determinados objetos possam ser tão poderosos?
A palavra talismã surgiu na Antiga Grécia. Originalmente, tinha um significado totalmente diferente do de hoje. Antes a palavra telesma que deu origem a talismã significava sentimento de completude, ou seja, era tudo aquilo que nos dava a sensação de estar completo. Sabendo disso podemos e devemos ter nossos talismãs, mas agora eles não precisam mais ser encontrados em objetos externos e concretos, porém podem existir no nosso mundo interno.
Um talismã no mundo interno nada mais é do que desenvolver a própria mente que, aliás, é o melhor talismã que existe de fato. Cada vez que desenvolvemos nossas mentes mais nos sentimos completos, não naquele sentido de que nada falta, mas no sentido de se possuir autoconfiança e autoestima. Quanto mais nos completamos mais nos colocamos disponíveis para as boas experiências da vida e menos nos ligamos a funcionamentos que nos aprisionam. Ao usar a própria mente como talismã passamos a buscar a sorte e a felicidade.
Pelo autoconhecimento, infelizmente, ser algo tão pouco valorizado pela grande maioria das pessoas elas tendem a procurar sua sorte no mundo externo apenas. Terminam por valorizar objetos que ganham “poderes sobrenaturais” e se esquecem de valorizar suas mentes que são as coisas mais preciosas que têm. É mais fácil realmente valorizar aquilo que está fora e é palpável. A mente se encontra em outra dimensão, a subjetiva e que demanda mais trabalho para ser encontrada. Quem se apega a objetos e os fazem de talismãs age como crianças que necessitam de determinados objetos para se sentirem seguras. Ficam com medo de largar a chupeta, mas é preciso crescer e abandonar alguns pensamentos e substituí-los por outros mais inteligentes.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Pergunta de Leitora - Como Bate o Coração



Já fiz três eletros e um holter e os exames deram ótimos. Mas sinto muito aperto no peito, falta de ar, um tipo de fechamento/pressão no tórax, coração acelerado e também coração mais lento ou talvez só é uma impressão de estar lento. Queria saber se mesmo após esses exames pode ser algum outro problema não detectado no coração, ou se é apenas ansiedade me afetando. Já fui duas vezes ao pronto atendimento e sai de lá com os médicos falando que eram ansiedade e síndrome do pânico.

         Você conhece os seus sintomas físicos, aquilo que sente. Interpreta todos esses sintomas como um problema cardíaco ou orgânico, vai procurar ajuda médica e lá ouve dos médicos que pode se tratar de ansiedade ou qualquer outra coisa relacionada à mente. Mesmo assim você não quer acreditar.
         O que será isso tudo? Provavelmente uma negação da mente e de sua importância. Você insiste no orgânico quando o que lhe falta é olhar para o lado mental. Enquanto a dimensão mental continuar sendo negada, muitos outros sintomas físicos você irá desenvolver.
         Ansiedade é um mal estar que não sabemos a origem e nem o sentido. O que você precisa é investigar o que de fato você está dizendo para você mesma com sua ansiedade. Esse aperto, que tão bem você reconhece no seu peito, está também na sua mente, mas dela você nada sabe. Você desloca o que sente para o corpo, ou seja, aquilo que pertence ao mundo subjetivo é transformado em concreto.
         Talvez o que esteja apertado e lento não seja o órgão coração, mas o coração sentimental. Como será que você vive, se relaciona, se encanta? Essas coisas você nada disse. Será que sobre isso não há registro? Vai precisar escutar o coração sentimental, ou seja, a mente, para poder tratar do que está acontecendo. Encontre um analista que te ouça e que te ajude a ouvir como bate e funciona um coração humano.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Prazer pela Destruição



            O ser humano pode ser capaz de atos grandiosos e fabulosamente amorosos, mas pode também ser capaz de atos de mesquinharia inimaginável. Com os ataques que aconteceram em Paris vemos variadas formas de reações entre as pessoas nas redes sociais ao redor do mundo. Uma reação tem a ver com o assombro e tristeza por causa dos atos e a solidariedade para com todos os envolvidos. Outra reação foi de um prazer que isso tenha acontecido. Houve várias manifestações que indicaram um prazer pela destruição.
            Circularam comentários como: “Explode mesmo, eles têm mais é que sofrer”, “ Está na hora da Europa sofrer um pouco”, “Não tô nem aí, não tô lá em Paris mesmo”, “Eles mesmo são culpados do que está acontecendo” e muitos outros do tipo .Esse prazer pelo sofrimento do outro e pela destruição tem raízes na inveja. Considerada como um dos sete pecados capitais a inveja tem um lado destrutivo muito intenso.
            Deixando de lado os aspectos morais da inveja, que em nada contribui para um melhor entendimento, podemos compreendê-la, psicanaliticamente, como uma forma de ataque para nos sentirmos bem conosco mesmo. A verdade é que existe um lado em todos nós que goza ao perceber o sofrimento do outro e que não é só nós que sofremos. As pessoas que se deleitam na barbárie sentem que assim seus próprios sofrimentos e dores são bem menores em comparação. Por isso que a inveja é tão danosa, ela impede um olhar humano.
            Sem um olhar humano nossas relações ficam empobrecidas e embrutecidas, ficamos num nível de existência muito baixo. Nos tornamos sádicos e masoquistas, ou seja, perversos. A perversão é a negação do humano. Quem encontra satisfação e prazer na desgraça alheia vive modelos perversos e não são humanos, mas são o que há de pior e mais doentio na humanidade. Saber se compadecer da dor e da violência nos machuca e nos assusta, mas é melhor isso, um sinal de desenvolvimento mais humano, do que o vazio prazer da destruição. Para gente assim a destruição é a única coisa que são capazes de reconhecer.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Pergunta de Leitor - Encontrar o Remédio


Tenho problemas de ereção. Fiz vários exames de saúde e aparentemente está tudo bem comigo. No entanto, quando estou para viver uma relação sexual com alguma nova mulher eu travo e a ereção não acontece. Tenho 40 anos e isso vem me deixando muito envergonhado e já pensei em me matar. Meu médico me sugeriu fazer terapia, mas como ela pode me ajudar?  Tenho vergonha em falar da minha vida para alguém que não conheço e as vezes acho que a terapia não vai me ajudar. Queria um remédio que desse conta, nem o viagra me ajudou nisso, pois já tomei.

            Não conseguir se realizar sexualmente te frustra e te deixa limitado na vida. Afinal, a vida sexual é algo poderoso no nosso bem estar e que influencia muito em como vamos nos sentir. É mais do que vergonha o que você sente. É uma insatisfação misturada com humilhação e ninguém tem como estar bem nessas condições.
            Entretanto, você sabe do seu problema físico e desconhece completamente o que de fato te acontece. Como se a vida fosse só corpo e biologia e a dimensão mental ficasse fora de foco, relegada a mera coadjuvante. Parece que a sugestão de seu médico, de procurar na mente aquilo que não pôde ser encontrado no corpo, mexeu com você e despertou angústias.
            Uma análise, feita com quem realmente saiba te escutar, pode te ajudar a você mesmo se escutar. Aquilo que você colocou na dificuldade de ereção lhe é inconsciente, ou seja, você não faz ideia quais os sentidos que estão por detrás disso. A análise te ajuda a encontrar os sentidos subjetivos do porque que aquilo que é emocional foi descontado no funcionamento corporal. Quando a mente não dá conta de elaborar determinadas emoções é o corpo que pode sofrer.
            Contudo, algo me chamou a atenção no seu email. Quando você está para ter uma relação sexual com uma nova (desconhecida) mulher você trava. Assim como acredita que também vai travar se falar isso com algum psicoterapeuta. Parece que há uma associação importante aí. Será que o que te dá medo é viver uma relação de intimidade? O que será que para você é intimidade? Talvez seja interessante investigar o que ser íntimo de alguém te desperta. Para o autoconhecimento não há remédio. O remédio é procurar entender o que de fato acontece. Em outras palavras, o remédio está dentro de você mesmo. 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fanatismo e Loucura



            Vivemos cercados por pessoas e instituições que nos instigam ao fanatismo. Grupos políticos, religiosos e até mesmo grupos científicos tendem, por muitas vezes, reclamar para si uma posição de extremo poder e dizem que apenas quando alguém for membro deste ou daquele grupo é que estarão fazendo a coisa certa. O mundo e as pessoas ficam divididos entre os de dentro, detentores de exclusividade e os de fora que nada sabem. Toda forma de fanatismo causa exclusão.
            Grupos fanáticos dão a entender que têm certeza sobre algo e que a dúvida jamais se faz presente. Desdenham quem não pertence a um determinado grupo, já que quem está fora é alguém que não partilha dessa suposta certeza e por isso mesmo só pode estar errado. Em várias religiões é possível notar que chamam as pessoas pertencentes a outro credo de infiéis. Nessa divisão é colocada uma falsa hierarquia de valores onde quem pensa conforme os ditames ganha valor e quem pensa diferente não tem valor.
            Viver através dessas divisões é perigoso porque inibe a diferença e convida a um comodismo de pensamento. É perigoso também porque permite ataques a quem é de fora e pensa ou vive diferente. Quando o que é sentido como diferente é visto como inimigo surge um terrível problema: justifica-se, erroneamente é claro, atos de violência selvagens e está plantada então a loucura que arrasta todos para a barbárie. A loucura deixa todos paranoicos e desconfiados, ninguém mais é capaz de pensar.
            A característica da loucura é a certeza. Só quem pode tolerar a dúvida e as angústias que vêm dela consegue pensar de fato. Quem não pensa e prefere se agarrar firmemente a uma falsa certeza para não ter que tolerar as ansiedades que a dúvida provoca deixa de aprender e fica estagnado, bem como perigoso. Teme as diferenças, já que estas representam um perigo e agem loucamente defendendo suas certezas como se elas se tratassem de boias salva-vidas. Não é a toa que fanatismo e violência andam, frequentemente, lado a lado.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Pergunta de Leitora - Carpem Diem



Sou praticante de esportes e yoga. Levo uma vida saudável e tento jamais me zangar com o que quer que seja. Minha dieta é balanceada, pratico meditação três vezes por semana e tomo remédios homeopáticos, pois não acredito na alopatia. Até mesmo vacinação prefiro não tomar, pois são químicas que estragam o nosso corpo. Mesmo com tudo isso minha imunidade é baixa e frequentemente padeço de alergias respiratórias e cutâneas. Não bebo álcool e nunca fumei. Moro numa cidade limpa que tem pouca poluição. Durmo cedo e acordo cedo. Enfim, sigo toda uma rotina que promove a saúde. E mesmo assim sinto que algo falta. O que percebo é que estou cansada e que não sei o que fazer.

            Numa das inúmeras e engraçadas crônicas de Luis Fernando Veríssimo ele diz que se fossemos seguir todas as normas impostas para que tivéssemos boa saúde e levar uma vida saudável seriamos, certamente, as pessoas mais infelizes do planeta. Parece que é justamente isso o que lhe acontece. Está tão preocupada em seguir as normas que se esqueceu de algo mais importante que é viver.
            É claro que a vida exige cuidados, sem isso nos colocaríamos em risco, mas limitar a vida a uma série de regras a serem inflexivelmente seguidas é empobrecedor demais. Obviamente você não precisa fazer aquilo que você não quer e não vê sentido, mas o que parece é que você se priva de tudo e o que lhe falta é aproveitar.
            Agora, não concordo que você leve uma vida tão saudável assim como você acredita. Vacinas e remédios alopáticos são coisas sérias quando utilizados apropriadamente e você não deve fazer pouco caso deles. Porém, você não é saudável porque está presa a um modo de viver limitado e que não abre espaço para o prazer. O prazer aqui é o de simplesmente estar viva e usufruir do que está ao seu alcance.
            Hoje você só sabe seguir as normas e regras, mas não sabe aproveitar o que tem. Do que adianta alimentação balanceada, tempo para atividades relaxantes e morar numa cidade não poluída se nada disso é de fato aproveitado? O que você precisa descobrir é o porque não sabe aproveitar a vida abençoada que tem. Mecanicamente tudo vai bem, mas e afetivamente? Sabia que a maior causa das alergias cutâneas e respiratórias têm relação com a mente? No poema de Horácio, da antiguidade, ele usava a expressão carpe diem que tem o sentido de aproveitar o dia e não desperdiçar tempo com coisas que não nos acrescentam nada. Então, carpe diem!

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Lesões no corpo e na alma


Infelizmente é muito comum encontrar pessoas, principalmente adolescentes, que praticam automutilações. A prática acontece quando o próprio sujeito perfura a pele com objetos cortantes, formando feridas dolorosas que se transformam em cicatrizes gritantes de um estado de mente que clama por ajuda. Mais frequente entre garotas - mas também presente nos garotos -, a automutilação é um sintoma de que algo vai muito mal.
Realizar tal ato parece fugir da lógica racional. Algumas pessoas podem se perguntar: “como assim alguém vai se machucar propositalmente?”. A mente tem outra lógica para funcionar que independe do raciocínio. O inconsciente, pedra angular da psicanálise, tem enorme influência sobre como vivemos e o que fazemos da nossa vida. Viver sem se dar conta do próprio inconsciente é sempre ineficaz e leva a um estado de espírito precário e empobrecido.
Quem se automutila pode fazê-lo por diversas razões que, para cada um, são pessoais. Porém, podemos pensar que esse hábito tem a ver com uma mente que ainda não se formou. O problema de não ter uma mente formada é que não há recursos para lidar com as frustrações da vida. Em vez de as frustrações serem sentidas na mente e nela serem elaboradas e resolvidas, o sujeito transforma a dor emocional que sente em uma dor corporal. Falta mente para dar conta dos processos mentais de maneira mais eficiente.
A pessoa que se automutila envergonha-se de seus atos, encobre-os com roupas compridas e arranja justificativas para o que faz consigo mesmo. Ao se automutilar, procura alívio para o que sente dentro de si e que não consegue tolerar. Só que esse alívio é muito caro e não chega a ser um alívio de fato, já que causa muitos transtornos e vergonhas.
Essas pessoas precisam de ajuda profissional para que encontrem oportunidades de conseguir expressar as suas dores e angústias de forma produtiva. Assim, poderão falar sobre o que sentem e achar meios eficientes de lidar com o sofrimento em vez de jogarem no corpo a terrível dor e angústia a que estão presas. A vida só se torna possível quando construímos uma mente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Pergunta de Leitora - O Passado Passou


Já faz mais de 15 anos que terminei minha faculdade e foi o melhor período da minha vida. Fiz amigos maravilhosos que relembro até hoje e de quem sinto muitas saudades. Só que todos seguiram em frente menos eu, pelo menos é assim que sinto. Queria tanto voltar ao tempo da faculdade onde éramos tão unidos e felizes. Parece que parei no tempo. Não namorei, não tive nenhuma conquista, nada de nada. Não há um único dia, sem exagero, que eu não acorde e não desejaria poder voltar o tempo. Ainda tenho amigos dos tempos de faculdade mas cada um deles está preocupado com sua própria vida e afazeres. Fico triste por mim. O que pode dizer?

            Um dos maiores erros que uma pessoa pode cometer é não conseguir deixar o passado para trás. Quem fica, no presente, tentando reconstruir e repetir o passado perde muito em vida já que repetir algo já passado só tem como resultado frustração. Quem vive desta maneira só encontra prisão. Hoje você se encontra imobilizada pois não larga mão do que já passou e não se permite viver o que pode agora.
            Atualmente você busca encontrar no agora as alegrias e prazeres antigos, ou seja, você busca se repetir. Como um ator aprisionado em determinado ato cênico sem conseguir perceber que os personagens mudaram e ocupam posições e cenas novas. O apego ao passado lhe deixa repetitiva e cria uma expectativa irreal e que só leva ao padecimento. É também indicativo de um sentimento de onipotência muito intenso que faz quem o sente acreditar que pode controlar todas as mudanças e por tabela controlar a vida.
            Precisa entender porque não abandona mão dos prazeres passados e porque não acredita em poder construir novos prazeres. Será que você prefere valorizar a onipotência do que viver experiências reais? Será que prefere se alimentar de ilusões? Será que prefere acreditar que a vida acabou? Crescer significa abandonar fases já conquistadas para se abrir a uma nova fase desconhecida, que pode trazer toda uma gama de coisas importantes. Uma criança em crescimento precisa deixar para trás modos de viver antigos para viver novas maneiras mais eficientes. Uma universitária também precisa abandonar a universidade para viver o seu tempo presente.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A Verdadeira Miséria


            Vidas Secas de Graciliano Ramos é uma obra que retrata a miséria vivida por uma família de retirantes em busca de uma vida melhor. O romance descreve em detalhes a aridez da terra, a pobreza e a falta de relações humanas de qualidade. Essa história não se foca apenas na miséria que se encontra ao redor dos personagens, revelando carência e falta de recursos materiais, mas revela também a miséria interna que toma conta da mente dos personagens.
            Há dois tipos de miséria. Uma delas é a falta de recursos materiais que traz transtornos e inseguranças. É inegável que esse tipo de carência é uma triste condição e que pode, em muitos momentos e dependendo do caso, inviabilizar a evolução das pessoas, deixando-as sem esperanças e desmotivadas. Sem recursos à nossa volta fica difícil para crescer com saúde e dignidade.
 A outra miséria é a falta de uma mente que pense e que dê sentido a vida. É não se ver como ser humano, mas como um ser que vai vivendo sem nenhum tipo de consciência.  Esse tipo de miséria pode estar presente na vida de qualquer um, independe se essa pessoa conta com recursos materiais ou não.
No romance fica explícito a falta de comunicação entre os membros da família que se expressam por xingamentos ou grunhidos, mas nunca por verdadeiros diálogos. O ser humano precisa da fala para se desenvolver. É através da fala que aprendemos a nos conhecer e a conhecer o outro e nesse encontro, entre nós e o outro, construímos um novo saber que enriquece nossa mente. Ninguém nasce sabendo falar. Não é algo que se herda geneticamente, porém é um processo de aprendizagem, como quase tudo na vida. Poder falar e se expressar propicia sonhos e planos que servem de alimento para a alma. Uma pessoa que não se comunica é desnutrida e carente.
As crianças em Vidas Secas nem mesmo nome têm o que revela a falta de significados que cerca esses pequenos que quando crescerem vão repetir os mesmos erros dos pais. Não possuir um nome é não se ver com uma identidade, é ficar sem valor. Quantas pessoas, em nosso meio, será que não estão assim, perdidas nessa miséria?
A verdadeira e pior miséria que pode existir é a da mente, pois nos prende a um estado de pobreza de significados. Para resolver esse tipo de miséria é necessário trazer alimento para a mente. O alimento se encontra à medida que passamos a falar de nossa condição e a criar sentidos. É um trabalho que cada um necessita empreender para deixar um estado de miséria a fim de chegar a uma vida melhor. Metaforicamente somos todos retirantes por precisar realizar essa jornada para desenvolver a mente e criar melhores condições de vida. Da situação de miséria interna não se foge, até mesmo porque não há lugar para se fugir, ela está em nós e não podemos fugir de nós mesmos. O único caminho é recorrer à transformação desse estado em outro que já não seja mais tão empobrecedor.  Um dos significados da palavra miséria é: coisa de pouca importância e valor. Não deixemos a miséria se instalar em nossas vidas.