Queria uma dica para
não ficar completamente infeliz com os problemas alheios.
Fico inconformada com situações como a do filho do produtor do curta (segue abaixo) que ficou sem oxigênio ainda no ventre. Foi um acidente. Ninguém teve culpa, mas fico inconformada. Inconformada por dias e dias e dias. Isso me atrapalha muito. Aqui no metrô tem muita criança com paralisia cerebral ou Down circulando. Fico sempre muito, muito angustiada quando os encontro. E sempre os encontro. Quando o menino Bernardo foi assassinado precisei de mais de dois meses para me conformar. E nem conhecia o garoto e ficava pensando comigo ( e infelizmente ainda penso) por que ele não tinha nascido na minha casa, e por que as pessoas do entorno não conseguiram perceber que precisavam ter tomado uma atitude. Pensamentos completamente inúteis, haja vista a desgraça já ter acontecido. Inconformada por um menino tão lindo ser tão desamparado por um pai que tinha cultura , mas amor nenhum. Agora, inconformada com o repórter americano sequestrado desde 2012 e decapitado pelo IE. Inconformada por Gaza.
Sylvio, eu não aguento mais não conseguir conter a minha tristeza com fatos que fogem completamente do meu controle. Gostaria de uma dica para não permitir meu pensamento sobre questões que não me levam a nada a não ser à tristeza.
Então, me refiro àquela leitora que te perguntou " Como podemos ser felizes com tanta agressão e loucura no entorno?” É realmente muito difícil. O mundo é bonito, o amor é lindo, o abraço dos meus filhos não têm preço, amo o meu marido e estou bem resolvida, mas não consigo parar de me afligir. Esse é o ponto. Ter empatia é bom, mas dessa forma está me atrapalhando. Se tiver uma dica para enganar o cérebro, eu quero.
Fico inconformada com situações como a do filho do produtor do curta (segue abaixo) que ficou sem oxigênio ainda no ventre. Foi um acidente. Ninguém teve culpa, mas fico inconformada. Inconformada por dias e dias e dias. Isso me atrapalha muito. Aqui no metrô tem muita criança com paralisia cerebral ou Down circulando. Fico sempre muito, muito angustiada quando os encontro. E sempre os encontro. Quando o menino Bernardo foi assassinado precisei de mais de dois meses para me conformar. E nem conhecia o garoto e ficava pensando comigo ( e infelizmente ainda penso) por que ele não tinha nascido na minha casa, e por que as pessoas do entorno não conseguiram perceber que precisavam ter tomado uma atitude. Pensamentos completamente inúteis, haja vista a desgraça já ter acontecido. Inconformada por um menino tão lindo ser tão desamparado por um pai que tinha cultura , mas amor nenhum. Agora, inconformada com o repórter americano sequestrado desde 2012 e decapitado pelo IE. Inconformada por Gaza.
Sylvio, eu não aguento mais não conseguir conter a minha tristeza com fatos que fogem completamente do meu controle. Gostaria de uma dica para não permitir meu pensamento sobre questões que não me levam a nada a não ser à tristeza.
Então, me refiro àquela leitora que te perguntou " Como podemos ser felizes com tanta agressão e loucura no entorno?” É realmente muito difícil. O mundo é bonito, o amor é lindo, o abraço dos meus filhos não têm preço, amo o meu marido e estou bem resolvida, mas não consigo parar de me afligir. Esse é o ponto. Ter empatia é bom, mas dessa forma está me atrapalhando. Se tiver uma dica para enganar o cérebro, eu quero.
Você não
consegue parar de se afligir e fica dias e dias inconformada com o que sabe que
não te levará a lugar nenhum. Pede por uma resposta, uma dica, uma maneira,
enfim algo que te ajude a enganar o seu
cérebro, ou seja, algo que tem por fim tirar a sua angústia e sofrimento.
Não é dos fatos externos que você está falando, mas do que lhe acontece
internamente. Você está inconformada é com a maneira que você funciona. O que
será que isso tudo pode dizer de você?
O menino
Bernardo, as crianças com paralisias e deficiências, o repórter decapitado, as
pessoas na Faixa de Gaza despertam em você uma angústia que é difícil de
tolerar: a impotência. Na vida nem tudo podemos e há coisas que estão
completamente fora do nosso alcance. Em outras palavras, somos impotentes e
essa impotência faz parte da nossa natureza. O que lhe parece ocorrer é que você
não aceita o quão impotente você pode ser. Você briga com isso e se revolta
criando um impasse em sua vida. Muitas vezes somos chamados apenas para aceitar
a vida com todos os seus percalços e nada mais além disso. Porém, você não quer
aceitar a vida.
Aceitar a
vida implica também aceitar o sofrimento e o sentimento de impotência. A vida
não é como desejamos ou achamos que tem que ser, ela é como é. Agora, se você
aceitar que o sofrimento e dor fazem parte da vida, que é natural, você
aprenderá a acolher e valorizar o que tem de bom a sua volta. Se você aceita a
vida e isso só pode se dar de maneira integral, com as coisas boas e más, você
poderá se permitir ser feliz e vivenciar tudo o que é bom, porque entenderá que
não há tempo a perder e que por dispor de tão pouco tempo não irá desperdiça-lo
se angustiando, mas vivendo. Hoje você não se permite ser feliz porque não
aceita que a vida também traz sofrimentos.
Viver bem,
então, não é ser indiferente com o que se sucede ao redor, mas é saber sobre o
que se pode fazer, em melhorar o que estiver ao nosso alcance, mas também
aceitar os limites. Quando aceitamos a realidade da nossa natureza descobrimos
que podemos fazer muito mais do que acreditávamos antes, mas de uma forma real
e verdadeira e não como imaginávamos que tinha que ser. Você precisa abrir mão
da ilusão. É difícil, porém abrindo mão da ilusão nos permitimos crescer e
aprender com a vida ao invés de a temermos. Procure ajuda de um bom analista
que consiga ouvir as sua dores e te mostre que você pode cuidar delas de uma
maneira mais eficiente. Leia também O que
é o budismo? da Coleção Primeiros Passos que mostra que quando aceitamos o
sofrimento com dignidade este passa a não ser mais sofrimento porque o
aceitaremos e saberemos que ele não é uma perseguição do destino, mas algo que
faz parte. Tenha uma boa caminhada de aprendizagens.
P.S. Obrigado pelo curta que me enviou e que segue abaixo
para os leitores assistirem. Mostra muito bem que mesmo nos momentos mais
difíceis e dolorosos podemos aprender muita coisa e mudar a nós mesmos e quando
mudamos a nós mesmos mudamos o mundo. Mudar a si mesmo já está de muito bom
tamanho.