segunda-feira, 25 de março de 2013

Reinventar Sempre


            O casamento é uma grande celebração do amor. Quando um casal decide se casar depois de um namoro é porque acredita no amor que sente e na possibilidade de uma vida conjunta, com todos os percalços que isso certamente traz, mas também com todas as alegrias que surgem. O momento inicial do casamento costuma ser maravilhoso e o primeiro ano entre os recém-casados é uma grande lua de mel. No entanto, como tudo na vida, as coisas tendem a se desgastar e o que antes parecia ser perfeito começa a trazer problemas e aborrecimentos.
            Até mesmo a vida sexual do casal com o tempo se modifica e o que era prazeroso torna-se rotineiro e muitas vezes sem graça. É natural que isso tudo aconteça e não é indicativo de falta de amor. É que a vida requer constante reinvenção, senão corre o risco de se tornar algo morno. O que mais move as pessoas é sempre a busca por novidades, pois são as novidades que trazem aquele arrepio que nos deixa vivos. Quando a vida fica monótona nos sentimos um pouco mortos, como se mais nada nos atraísse.
            Quando um casal vai perdendo o interesse sexual é porque a vida a dois está se tornando monótona e isso acontece porque, com muita freqüência, os casais esquecem de algo muito importante na relação. Esquecem de namorar. A época do namoro é uma das épocas mais felizes e românticas na vida de qualquer casal, pois demandou criatividade em se conquistar o outro. Namoro é um momento de sedução, onde não há rotina, mas onde procura-se sempre encantar o outro. Os namorados necessitam ser importantes e atraentes para quem amam, querem ser lembrados a toda hora e por isso mesmo é um momento onde se dá e ganha muitos presentes. Pena que muitos casais se esqueçam de namorar e deixem o relacionamento cair numa pasmaceira.
            Se o casal não procura mais encantar e seduzir o outro, o casamento enfrentará problemas. As brigas podem ficar mais freqüentes, os aborrecimentos com as manias do outro se tornam presentes e a vida sexual vira um fardo em vez de ser um prazer e parte importante da vida a dois. Sexo, tal como a vida, exige reinvenção. Se faltar sedução faltará estímulos para tornar a vida sexual rica e viva. Quando a monotonia toma conta do casal a possibilidade de infidelidade aumenta, pois se está mais disponível para novidades que vão ser procuradas fora do casamento. Deixar o casamento chegar nesse estado pode significar o fim e abrir as portas para muitas mágoas.
            Para isso não acontecer é preciso voltar a namorar. Cortejar é uma palavra que anda meio fora de moda, mas que é de enorme importância para a vida do casal. Quando um corteja o outro alimenta o interesse e o desejo sem os quais nenhum relacionamento sobrevive. Ao haver interesse e desejo o sexo passa a ser mais excitante e sempre novo. Sexo e casamento têm que ser reinventados quase todos os dias e namorar é a melhor forma de realizar isso. O verdadeiro namoro não conhece o comodismo, mas conhece a vontade de alimentar o desejo do outro. Tal como uma fogueira necessita de lenha para continuar queimando, assim é também o casamento. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Pergunta de Leitora - Mudar de Posição



Ano passado engravidei e hoje estamos casados e há 5 anos juntos. Na minha gravidez passei por humilhações onde trabalhei, por momentos chocantes e tive que ser afastada, ficando 3 meses sem receber e tendo auxílio-doença negado pelo INSS... foi mto difícil p mim! No final da gravidez qdo estava com 8 meses, descobri que fui traída pelo meu noivo. Foi a maior decepção da minha vida. Ele era meu príncipe, um relacionamento mto bom. Fiquei chocada pois a mulher que ele ficou era casada, bem mais velha que ele... mas é dessas mulheres que tem  corpão! Inclusive mandou pra ele fotos com lingerie. Isso acabou cmg, pois sempre fui mto insegura. Sou bem magrinha, cara de menina e ela é o oposto de mim.
Separei dele, mas depois de um tempo voltei, porém sinto que não o perdoei completamente e sofro mto com isso até hoje. Vira e mexe me vejo olhando a rede social dessa pessoa. Perguntei a ele se deixei de fazer algo para que ele me traísse. Sempre fomos unidos, parceiros, companheiros e ele diz que não faltou nada e que não devo me comparar a ngm, que isso que aconteceu foi ridículo, e que se arrepende.
Depois que meu bebê nasceu emagreci mto, até além do que engordei na gravidez e hoje nem deixo ele me ver sem roupa....pois não sou aquele perfil de mulher que ele ficou. Vou estar mentindo se eu disser que não confio, pois voltei a confiar (mas não da msm forma claro) mas pq isso não sai da minha cabeça? Tenho vontade de saber os detalhes da traição e pq será? Quem ama trai? Falei varias vezes a ele que quem ama não trai... ainda mais com a esposa grávida.


            Você ficou chocada com as humilhações sofridas no trabalho e ficou também chocada com a humilhação da traição. Será que há uma ligação entre esses dois eventos? Será que há, inconscientemente, uma “tendência” sua para situações de humilhação? Aliás, você também se humilha quando se compara com a mulher que tem um corpão, pois nessa comparação você se sente em grande desvantagem.
            Quando você se pergunta os por quês da traição você se impede de seguir em frente na vida. É como se você quisesse, com o por quê, encontrar uma justificativa para a traição e arrisco a dizer que você espera uma razão que aponte para uma falha sua que, então, o teria levado a te trair. Você procura se humilhar. Nada de bom há de vir enquanto você não mudar a sua posição. Se ele te traiu a responsabilidade desse ato é dele e não sua.
            Muito provavelmente você possui uma baixa autoestima. Tem vergonha de você mesma e se sente sempre por baixo. Seu namorado é um príncipe e a mulher com quem ele te trai é um mulherão e o que sobra para você? Você vê os outros de baixo para cima como se fosse uma criança e eles adultos. A questão a que você deve se deter para encontrar uma resposta é por que você não se autoriza a ser uma mulher adulta, uma mulher com uma auto-imagem mais confiante das suas possibilidades e parar de se repetir no sofrimento.
            Essa resposta você pode encontrar na sua análise. A escuta do analista te possibilitará a se escutar e a entender porque você fica numa posição que não te satisfaz e só te causa prejuízo. Na sua análise terá a chance de reconstruir uma auto-imagem na qual não mais necessitará se por em situação de desvantagem. Quando você aprender a ser sujeito da sua vida e deixar de lado a posição de vítima, as dúvidas que te prendem hoje já não mais terão sentido para existir.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Filhos ou Produtos de Consumo?



            Quem resiste à imagem de um bebê bonitinho rindo? Quem não gosta daquele cheirinho de bebê? Quem não se encanta com os movimentos desajeitados de um bebê? Quase ninguém. É algo que quase natural se sentir atraído por aquele serzinho tão maravilhoso. No entanto, se sentir atraído e ser responsável por um bebê são coisas bastante diferentes. Ver um bebê e ficar com ele por algumas poucas horas é gostoso e divertido, porém ser pai e mãe de um bebê e ter que cuidar dele exige muito mais e nem sempre é tão gostoso assim.
            Com isso não digo que ter um filho não seja algo bom, mas é preciso ter em mente que nem tudo é um mar de rosas e haverá momentos em que o cansaço e os aborrecimentos se farão presentes. É que muitas vezes os filhos são apresentados como produtos de consumo e não como seres que demandam toda uma série de cuidados. Ver os filhos como produtos que se precisa ter para viver uma vida feliz, como muitos infelizmente acreditam, é desumanizador. Filhos não são produtos e devem ser desejados de fato.
            Que os bebês são encantadores e lindos não há a menor dúvida, mas o que muitas pessoas não enxergam é que os bebês fazem cocô e necessitam serem limpos. Eles choram nos horários mais impróprios e demandam constante vigilância para que nada de mal aconteça a eles. Quando os pais realmente desejaram essa criança todo esse trabalho, por mais exaustivo que seja, é encarado com amor. O trabalho não passa a ser algo pesado e aborrecido do qual querem se ver livres o mais rápido possível, mas se torna um relacionamento de trocas afetivas e enriquecedor. O amor torna todos os cuidados necessários em coisas naturais e até desejadas. O mesmo já não acontece com quem não desejava um filho. Nesse caso o trabalho se torna irritante e a criança não recebe amor.
            Nunca podemos ter certeza absoluta se queremos mesmo filhos ou não. Mas é possível se ter uma idéia. Para isso se faz necessário se conhecer e saber o que se quer. Filhos não resolvem o casamento de ninguém e nem são garantias de felicidade. Ter filhos não é uma obrigação, mas precisa ser uma escolha. É porque quando escolhemos algo nos sentimos responsáveis por nossas escolhas e criamos amor por isso. Quando apenas fazemos algo, sem pensar, não há uma verdadeira ligação e isso é vital para a criação de uma criança. Quem deseja filhos desenvolve amor por eles, cresce junto com eles. Quem não os quer de fato é melhor pensar muitas vezes antes de tê-los. Se não houver um sentimento genuíno por se ter um filho, é melhor não ter e seguir com a própria vida sem mágoa e sem culpar ninguém.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Pergunta de Leitora - Libertação



Passei por períodos difíceis em minha vida, e queria saber se o problema nisso tudo que vou lhe falar está em algo que eu tenha de melhorar. Sou de família evangélica, meus pais me ensinam sobre Deus desde pequena, sobre o respeito ao próximo e o amor, só que quando meu pai foi levantado para pastor via ele pregar muitas coisas que não vivia, via ele julgando as pessoas diretamente no pulpito e comecei a ficar triste, aí falava com meu pai do que eu não concordava, sempre com cautela e ele falava que filho não ensina pai. Então comecei a sofrer com isso, ele foi mudando muito o jeito de ser, minha mãe também, tudo foi me enojando, me casei e nossa história é linda, hoje tenho 11 anos de casada, com 2 filhos, somos unidos e falamos sobre tudo. Um dia, uma irmã minha, que nunca me dei bem, foi se casar com um ricão, velho, a beira da morte, não concordei, não que estava julgando, só não concordei com muitas mentiras que ela não assumia, vi ela manipulando e não fui ao casamento, mas não contei a ninguém meus motivos, então muitos me julgaram, até meus pais pararam de falar comigo. Passou-se um ano, tendo ouvido muitos absurdos, inclusive de meus pais, mesmo assim fui ve-los e queria saber se sou muito rigida? bom sinto uma carencia enorme pois sempre fui muito atenciosa. o que você acha de tudo que lhe falei?

            Somos ensinados desde pequenos a honrar pai e mãe. Está até nos dez mandamentos e muitos pais tornam perversa a sua relação com os filhos achando que estão amparados pela lei religiosa e moral e se considerando acima de qualquer crítica. Só que os dez mandamentos são falhos porque não falam nada em os pais saberem, também, honrar seus filhos. E que infeliz é o pai que não se permite aprender com o filho, pois não reconhece uma oportunidade de ouro.
            Seu pai vive uma vida dupla, dissociada. Ele não vê que suas palavras e suas atitudes são contraditórias e causadoras de mal estar e culpa. Ele prega a lei do “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, tornando o próprio discurso vazio de sentido. Ele fala para os outros e não para si mesmo e com isso se torna arrogante. Quem é arrogante está sempre pronto para julgar os outros, mas jamais faz uma autoreflexão. Com esse comportamento ele te distanciou. Não é a toa que você ficou enojada.
            Na sua família a cultura predominante é a das falsas palavras. As palavras são usadas para condenar, enganar e manipular, mas jamais para serem veículos de afetos e verdade. Só que você é diferente e não quer saber de viver como sua família. Escolheu outro caminho e foi construir outro viver. No entanto, há ainda em você um sentimento de culpa sobre o que você pensa dos seus pais e da sua irmã. Apesar de saber, racionalmente, que o modelo deles não te serve, emocionalmente você se coloca em dúvida ao perguntar se não está sendo rígida demais com eles.
            A atenção da qual você se sente carente não virá dos seus pais, mas poderá vir dos seus relacionamentos saudáveis. Está na hora de abrir mão da aprovação que você espera da sua família e aceitar que dificilmente eles te entenderão e te acolherão. Para obter a atenção dos seus pais você teria que se submeter a ser do jeito que eles querem. Acha que conseguiria ser feliz se você se traísse? Então só resta cuidar das feridas para que elas não se infeccionem e se transformem em amargura e seguir em frente no seu caminho com pessoas que te merecem e que entendam o seu valor.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Alquimia da Alma



            Há inúmeras lendas e romances contando estórias de alquimistas tentando transforma chumbo em ouro. Penso que isso não só é uma bela estória como também é algo verdadeiro e possível. Não falo do aspecto físico e químico da coisa, mas me refiro ao significado simbólico dessas lendas. As coisas podem ser entendidas literal ou metaforicamente dependendo daquilo que queremos ou podemos ver.
            Chumbo é um metal ordinário, não há nenhuma nobreza e elegância nele. É bruto, destinado ao trabalho pesado e não carrega nenhuma glória.  Entretanto, sem ele muitas coisas seriam impossíveis de serem realizadas. Apesar de não o valorizarmos ele é parte do nosso dia e facilita  muito nossas vidas. Já o ouro está como o mais precioso dos metais nas estórias, lendas e no mundo real. Toda a nobreza e glória são exaustivamente mostradas pela versatilidade e beleza que o ouro proporciona. Coroas, anéis e colares são confeccionados para encantar e são, geralmente, feitos desse metal tão cobiçado. O ouro representa a pureza e as características mais almejadas.
            Nas lendas, os antigos alquimistas sonhavam em conseguir transformar um metal tão reles e comum como o chumbo em algo tão mais belo e refinado como o ouro. E, simbolicamente, esse processo pode acontecer de fato. Quando em vez de pensarmos em metais pensarmos na nossa mente estaremos vislumbrando a oportunidade desse processo de transformação acontecer. Tal como a transformação dos metais nossas mentes também podem se transformar. É a alquimia da alma.
            Carregamos em nossas mentes muitos sentimentos pesados e sem graça. As vezes esses mesmos sentimentos nos afundam em vez de nos elevar. É duro ter que conviver com eles e se sentir desprovido de nobreza. No entanto, assim como o chumbo na vida real tem uma serventia, o chumbo metafórico também serve para entendermos que ele existe para ser transformado em algo melhor e mais refinado. É nosso trabalho transformar o que há de mais primitivo na mente em algo que seja muito mais belo. Visto através desse prisma somos todos alquimistas em nossas vidas.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Pergunta de Leitora - Eu oculto




No mundo de hoje, as metas tem um papel fundamental: seja nas empresas ou até mesmo no planejamento familiar ou pessoal.
Porém, o que acontece quando não sabemos como defini-las?
O que acontece quando não sabemos o que queremos?
Aonde se resgata um desejo? Define-se um, nomeia-se algum?

            O que mais me chamou a atenção no seu email foi a falta do pronome “eu”. Você fez uma pergunta, provavelmente se referindo às suas indagações e inquietações, no entanto você não se colocou presente. Em sua pergunta você se encontra dissolvida, tal como uma gota de essência se dissolve num oceano.
            Talvez seja importante você investigar porque usou o pronome nós ao invés da primeira pessoa do singular. Qual o problema de se colocar de forma mais direta e objetiva? Parece-me que você se esconde através das indagações e do pensamento e com isso fica perdida. O uso que você faz das suas dúvidas serve mais para confundir do que para clarear e provavelmente seu pensamento está mais a serviço da ocultação de você mesma do que da revelação.
            Parece-me, também, que você fica muito insegura por não ter certeza do que realmente quer. Pensa em “metas” como se você fosse uma empresa que necessita de um organograma. Este pensamento é empobrecedor já que é desumanizador, pois as empresas funcionam direcionadas para o lucro enquanto o indivíduo deveria funcionar direcionado para a autorealização. Ao procurar metas você se esquece de se humanizar, ou seja, não dá voz para você mesma.
            Aonde se resgata um desejo? você se pergunta, talvez esperando uma revelação grandiosa. O que lhe falta resgatar é o seu Eu, a sua essência. É criar a possibilidade de desenvolver um autocontato mais verdadeiro e que te propricie a autocompreensão. Quem não se entende fica fadado aos desmandos do inconsciente e se repete no sofrimento. Para encontrar as respostas que podem te ajudar é necessário que você venha a entrar numa análise, pois nada substitui a fala do analisando e a escuta do analista e a partir do que surgir nesse encontro você poderá se conhecer e se compreender, bem como dar voz ao seu desejo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Análise de Filme - As aventuras de Pi



            O filme As aventuras de Pi (Life of Pi – 2012) conta a história de um garoto cujo apelido é Pi e de sua família, donos de animais de um zoológico,  que resolvem se mudar da Índia para o Canadá em busca de uma vida melhor. No meio da jornada, no oceano pacífico, o navio afunda devido a uma forte tempestade fazendo com que o garoto tenha que sobreviver num barco pequeno com a presença de um feroz tigre de bengala. A presença de um tigre coloca o garoto em perigo inúmeras vezes, bem como o garoto também coloca a sobrevivência do tigre em risco. Os dois precisam entrar num acordo caso queiram sobreviver, um acordo que permita um espaço para a coexistência de ambos.
            Esse filme é baseado no premiado livro do autor canadense Yann Martel e não precisa ser entendido literalmente, mas requer outro tipo de compreensão que seja alegórica e mais subjetiva. Apesar da estrutura central da história se deter nas conseqüências trágicas do naufrágio e na sobrevivência do garoto e do tigre, há outra história por detrás dessa que tem a ver com o estabelecer um acordo, conosco mesmo, para podermos sobreviver ao mundo e às suas vicissitudes.
            Entendendo simbolicamente, o tigre representa um lado do menino, lado esse que é selvagem, que se apega à vida com garras fortes e que quer viver a todo custo. Um lado primitivo que na realidade existe em todos nós e que nos permite enfrentar determinadas dificuldades inerentes à vida de forma a não sermos dominados pelo desânimo e desesperança. Já o garoto representa o lado racional, intelectual, que é capaz de avaliar a vida e criar formas de sobrevivência dependentes da racionalização. Tanto o tigre como o menino podem ser entendidos como se tratando de diferentes lados de uma só pessoa.
            Já o barco, em que os dois se encontram, é a representação do ser único e integrado que contem esses dois lados distintos e, as vezes, tão contraditórios. Portanto o significado subjetivo do filme diz que se qualquer pessoa quiser viver ela precisa entrar num acordo com seus dois lados para fazer a vida funcionar. Caso um dos lados morra a vida não é possível, pois uma parte nossa morreu. A vida só pode existir através do acordo entre nossas partes contraditórias.
            O ser humano é feito de contradições. Não é realista nos imaginar seres exclusivamente coerentes e quando fazemos isso é porque estamos tentando trazer uma visão mecanicista sobre nós mesmos. Qualquer visão mecanicista é limitadora da vida porque nega tudo aquilo que contradiz um pensamento linear. Ao insistir na linearidade da vida o ser humano se desumaniza. Entretanto, o ser humano não precisa ser só emoção e lado primitivo, porque aí viraria uma besta perigosa.
            O que se faz necessário, então, para a vida acontecer, é entrar em acordo com os dois lados: entre razão e emoção. Só o acordo permite um equilíbrio entre esses dois lados que sustentam a vida. É claro que haverá desentendimentos entre esses dois lados durante uma jornada, mas não tem nada demais, contanto que o acordo sempre se faça presente e possível. Esse filme trata da vida de cada um e da necessidade de cada um aprender a fazer acordos consigo mesmo caso queira viver. As aventuras de Pi nada mais é do que as nossas próprias aventuras.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Pergunta de Leitora - O amor causa união



Tenho três filhos entre 20 e 26 anos. Os dois mais velhos se saem muito bem em tudo o que fazem. Têm boas notas e jamais me deram problemas. Em compensação o mais novo sempre me trás muitos problemas. Ele não é tão ambicioso como os irmãos e nem tão maduro. Sempre fiz meus filhos quererem o melhor da vida e sempre os coloquei em disputa porque só assim eles chegam em algum lugar. Meu filho mais novo não gosta de competir em nada: em esportes, em jogos e na vida. Sempre aponto isso para ele para ver se acorda. Acabo sempre premiando meus dois filhos mais velhos e nada dou para o mais novo, já que a vida é assim mesmo: premia os melhores. Meu marido fica meio estarrecido com esse meu comportamento e acha que é um absurdo. Mas entre meu marido e eu, eu me saí bem melhor. Sou bem mais forte que ele. Creio que meu filho mais novo puxou meu marido. Como pode alguém se satisfazer na mediocridade?


            Não entendi bem qual a sua questão. É preocupação com seu filho ou lamentação por ele não ser como você gostaria? É um desabafo em relação ao marido ou à vida em geral? Para mim ficou meio confuso compreender o que de fato quis comunicar.
            Mesmo assim podemos pensar que a sua atitude tem a ver com a competição e não com o amor. É claro que a vida exige muita competição e que sejamos muito bons. A competição está presente nas escolas, nas universidades, nos esportes, nas empresas e em tudo o mais. No entanto, só existir competição é algo cruel, principalmente quando a competição existe com tanta intensidade dentro da família.
            Entre irmãos, naturalmente, já há disputa. Pior é quando os próprios familiares e neste seu caso a própria mãe incentive a disputa. Como se a única coisa que valesse a pena fosse só o status de melhor e não a pessoa em si. A família deveria ser um lugar de acordos e não de disputas. Ao valorizar a competição entre seus filhos com tanta veemência você fecha um porta para o amor entre eles e isso pode ter conseqüências severas e tristes para o resto da vida. Você convida o ódio entre eles e não a aceitação.
            Atitudes assim são encontradas em técnicos esportivos que priorizam o pódio dos vencedores. Para a função materna se faz necessário o acolhimento e a compreensão; entender que nem todos os filhos são e precisam ser iguais. Alguns podem ser mais competitivos e agressivos e outros mais calmos e introspectivos. Aceitar as diferenças é o melhor caminho para fazer o amor viver. E tem mais, há varias formas de competir bem na vida e talvez a maneira de seu filho seja uma que você não entenda. Entretanto, o que você deve desejar, de fato, é que seus filhos encontrem realizações na vida.