sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Pergunta de Leitora - Caos interno


Estou numa situação da qual não sei sair. Tenho 26 anos, sou codependente de minha família (que é superprotetora e me sufoca), sinto medo do mundo, os pensamentos negativos e pessimistas são diários, não tenho amigos (mesmo!), não tenho emprego ou uma carreira, nenhum lazer, não consigo dirigir por ser desatenta e ter lapsos de fuga da realidade... Meus fins de semana são em casa, sozinha no quarto. Enfim, não tenho uma vida comum e saudável, é totalmente sem significado. Minha única atividade no dia é ficar na internet e estudar para concurso, acreditando que se for aprovada tudo mudará.
Mas estou imensamente infeliz! Constantemente faço comparações com outras pessoas, na minha mente todos estão bem, e, pra mim, não há solução. Deixei de conversar com meus pais sobre meu estado emocional e psicológico, pois já possuem problemas que sequer conseguem resolver. Moro também com meus irmãos e não trocamos uma palavra, o que me provoca culpa.
Tenho pensamentos suicidas, porém me sinto presa a minha família, que sofreria caso algo ocorresse. Tentei viver de modo leve, participei de grupos diversos em minha cidade, pratiquei exercício físico, PNL, fiz terapia, mudei minha alimentação, aumentei a dose do antidepressivo... E mesmo nesses períodos sinto que há algo de errado comigo.
Estou desconectada (não sei se é essa a palavra) da realidade. Fico mais no meu mundo interior e tenho pouca, quase nula, ação. Por exemplo, algo que parece sem importância, mas diz muito: há anos não organizo meu quarto. Tudo está no mesmo lugar desde que mudei de apto. Só vou jogando meus pertences em qualquer lugar e assim fica.

Mudanças me assustam, no entanto, não suporto mais a mim e como sobrevivo. Preciso de referências positivas para aprender o que é viver. Pode me orientar?

            Dizer que você teme a vida é chover no molhado porque disso você já sabe. Porém o que você não sabe é o que teme de verdade, o que evita quando não se permite viver. O que você necessita é compreender as razões inconscientes que te levam a viver de uma maneira empobrecida quando poderia ser diferente. Esse saber só é conseguido na análise, quando você aprender a se escutar e dar sentido para o que você se faz.
            Você se define como dependente, sem amigos, sem dirigir. O que é difícil dirigir não é um carro, mas a própria vida. Você ainda não pegou na sua própria direção e ser dependente da família é uma maneira de evitar ter que dirigir sua vida. É como se ficasse num estado infantil, que precisa ser cuidada e jamais pode assumir responsabilidades pelas suas escolhas. É uma posição cômoda, contudo limitada.
            Talvez crescer, virar adulta de fato, lidar com as consequências de suas escolhas te assusta muito. E assim você vai empurrando tudo com a barriga, tal como seu quarto. As coisas vão simplesmente se acumulando, mas nada pode ser organizado. Não acredite que seu problema esteja em por ordem no quarto, isso é apenas reflexo do que se passa internamente. A dificuldade está em trazer ordem para a vida. Entretanto, isso só você mesma poderá fazer e ninguém poderá lhe dirigir nisso.
            Um analista até pode te orientar, mas dirigir a vida terá que partir de você mesma. Você já tentou tantas coisas, mas me parece que antes mesma de começar você já tinha certeza do fracasso. Que tal mudar, mesmo com medo? Medo a gente pode suportar, mas o desperdício da vida não. Não perca tempo, pois este não volta e nem é recuperado, para começar uma análise de verdade com um bom psicanalista para que comece a dar sentido no seu caos interior. Hoje lhe falta uma mente que te auxilie a ordenar o que está bagunçado. Sem mente não nos organizamos internamente. Seu email foi muito bem escrito, você tem material para falar e discutir numa análise, bem como sensibilidade para tratar de assuntos subjetivos. Só que está esperando demais e vai precisar de uma relação analítica verdadeira que não tem como se dar apenas através da internet e de ficar no mundo virtual. 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Gratidão e Riqueza


Há muitos anos, um homem estava sentado num barranco, numa calma contemplação, quando foi importunado por um mendigo da aldeia.
-“Onde está a pedra?”, perguntou o mendigo. “Preciso da pedra preciosa!”
O homem levantou os olhos na sua direção sorrindo. -“Que pedra procura?”
-“Tive um sonho”, continuou o mendigo, mal se acalmando para falar, -“e nesse sonho uma voz disse-me que se eu viesse ao barranco, encontraria um homem que me daria uma pedra preciosa que me salvaria da pobreza para sempre!”
O homem olhou pensativo, depois alcançou o seu saco e retirou um grande diamante.
-“Será esta a pedra?”, perguntou gentilmente. -“Encontrei-a pelo caminho. Se a quiser, pode ficar com ela.”
O mendigo nem podia acreditar na sua sorte, arrancou a pedra das mãos do homem e correu de volta para a aldeia, antes que ele mudasse de ideia.
Um ano mais tarde, o mendigo, já vestido com roupas de homem rico, regressou ao barranco à procura do seu benfeitor anónimo.
-“Está de volta, meu amigo!”, disse o homem, de novo sentado no seu local favorito, apreciando a paisagem. -“O que aconteceu?”
O mendigo curvou-se perante o homem.
-“Aconteceram-me muitas coisas maravilhosas por causa da pedra que tão graciosamente me ofereceu. Tornei-me rico, casei e arranjei casa. Posso hoje dar emprego a outros e fazer o que quero, quando quero e com quem quero.”
-“Então porque regressou?”, perguntou o homem.
-“Por favor”, disse o mendigo, “ensine-me tudo o que há dentro de si que lhe permitiu oferecer-me aquela pedra tão generosamente.”

            A gratidão é um dos melhores sentimentos e estado de mente que devemos cultivar. A gratidão nos permite ser verdadeiramente ricos. A riqueza é muito mal compreendida. Muitos acham que se trata apenas das posses materiais e de sua quantidade. Enquanto que a verdadeira riqueza tem a ver com a capacidade de se olhar para vida com gratidão.
            Ser grato implica ser rico pode dentro. Só podemos dar aquilo que temos. Se temos boas condições de vida, uma mente eficiente que nos auxilia nessa jornada que é viver, podemos retribuir isso tudo a nossa volta. Nos relacionamos com o mundo da mesma forma que nos relacionamos conosco mesmo.
            Por outro lado, quando não desenvolvemos uma mente rica não temos o que oferecer. Estamos pobres internamente e achamos que só temos que receber e ganhar. Muitas pessoas, ricas ou pobres financeiramente, vivem assim, sem gratidão nenhuma e sem nenhuma capacidade de compreender do que se trata a verdadeira riqueza.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Pergunta de Leitora - Onipotência é prisão


Meu pai é homossexual. Ele se descobriu gay quando tinha 50 anos e eu 22. Ele se separou da minha mãe e acabou assumindo um relacionamento com outro homem 10 anos mais novo. Já se passaram alguns anos e eu até hoje não consigo aceitar que meu pai seja gay. Hoje sou casada e tenho um filho e não quero que meu filho se encontre com meu pai, não aceito a condição dele. Nada vai me fazer mudar de idéia. Só quero que ele volte a ser o que era, um pai, um homem casado com mulher, como os homens devem ser. Meu pai me deixa irritada e infeliz.

            O que te deixa irritada e infeliz não é o modo como seu pai vive a vida, que é dele por sinal, mas por insistir no pensamento rígido que não admite mudança e aprendizagem, ou seja, que vai contra a realidade de que você não controla o mundo. Acreditar na onipotência e se deparar que ela é ilusão é o que te aborrece.
            Marco Feliciano e a história da cura gay serve para você aprender algo importante. Quem acha que pode mudar o comportamento do outro ou simplesmente estabelecer o que é certo e errado está preso na onipotência. Onipotência só leva ao preconceito e este só leva ao distanciamento entre as pessoas. Hoje você vive afastada do seu pai por preconceito e não porque ele te impede a aproximação.
            Ele não se descobriu gay aos 50, ele apenas se permitiu viver a sua orientação sexual aos 50. Não é fácil mudar a rota da vida, mesmo quando necessário, é um ato que requer muita coragem e isso seu pai mostrou. Será que por essa atitude ele não mereceria alguma demonstração de afeto e respeito?
            Não cabe a você decidir o que seu pai seja ou não. Você só pode aceitá-lo. Devemos desejar que as pessoas que amamos sejam felizes e só podemos ser realmente felizes quando podemos ser nós mesmos. Você exige que seu pai seja outro, contrariado e reprimido e ele deu mostras de que não aceita isso. Ainda bem que assim seja. A vingança de impedir seu filho de conviver com o avô é prejudicial a todos e só ensina o ódio e o ressentimento. Enquanto não largar a onipotência a maior perdedora será você mesma.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Análise de Filme: Sequestros em Cleveland


            A definição de resiliência no dicionário é: capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças. O filme americano Sequestros em Cleveland (Cleveland Abduction, 2015) mostra a incrível resiliência de três mulheres, especialmente Michelle Knight, que foram sequestradas por um psicopata e permaneceram anos em cativeiro.
            A história é real e não fictícia o que a torna então mais assustadora, porém muito mais inspiradora. O que é inspirador nesse caso é que Michelle, que ficou onze anos aprisionada, sai do inferno com capacidade de sentir gratidão com a vida e sorrir. Ela foi a que mais tempo ficou presa e sofreu inúmeros abusos, estupros e teve cinco abortos provocados pelo sádico homem sem contar com nenhuma assistência médica e menos ainda apoio psicológico.
            Michelle só pôde contar consigo mesma, com sua própria mente. Sua capacidade para manter esperanças é incrível. Devido a tanta violência ela tinha todas as condições para desacreditar de tudo, mas isso não ocorre e depois de um período de reorganização hoje trabalha para melhorar as condições de vida de muitas mulheres que sofrem abuso e violência. No tribunal, de frente para o seu agressor, ela diz que ele a havia roubado de uma maneira irrecuperável, mas que não ia permitir que ele a continuasse roubando. Foi sábia porque entendeu que em sua mente quem mandava era ela mesma.
            O filósofo existencialista Sartre dizia que na vida não importa o que os outros nos fizeram, mas o que nós vamos fazer com o que os outros nos fizeram. Saber disso é importante para que possamos ser sujeitos de nossas próprias vidas. Todos nós passamos por situações de adversidades. Algumas delas são trágicas outras menos trágicas, contudo precisamos nos reconstruir sempre e para esse trabalho de reconstrução necessitamos de uma mente. Sem uma mente não há a menor possibilidade de lidarmos com o que nos acontece. Desenvolver a própria mente é o melhor recurso para suportarmos a vida e ainda por cima sermos gratos a ela.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Pergunta de Leitora - Eclipse Sem Fim


Tudo que faço na minha vida parece dar errado. Todos os meus planos nunca se realizam, todos os meus desejos ficam insatisfeitos. E o pior de tudo é que eu sei disso. Sempre sei que as coisas vão dar errado mesmo. Fico muito angustiada com isso. Tenho até medo de sonhar e fazer planos porque eles jamais trarão algo positivo. Sempre penso que o melhor seria desistir de sonhar e aceitar que tenho um destino funesto. Quem sabe se eu parar de brigar e aceitar que minha vida foi escrita do jeito torto eu passo a sofrer menos? O que me diz?

            Digo que deve ser duro viver numa eterna noite fria, sem vislumbrar nenhuma possibilidade de um amanhecer que traga luz e calor, ou seja, que traga vida. A sua angústia é compreensível já que viver sem esperanças é algo aterrador. Agora, o que me deixa curioso é entender como foi que você entrou nesse lugar de escuridão sem fim para acabar acreditando num destino funesto.
            A primeira pergunta que você deve se fazer é se você tem medo de ter sucesso. Parece-me que você teme fazer planos que venham a dar certo e se descobrir como uma pessoa potente. Você prefere se ver como alguém que lamenta a vida e não como alguém que pode celebrá-la. Quando diz que sabia de antemão que seus sonhos dariam errado parece que não é a frustração que te invade, mas um sentimento de alívio por saber que sua previsão foi acertada.
            Num plano muito superficial de sua vida você quer que as coisas deem certo e quer encontrar prazer no viver, porém há também outro lado que já define tudo como um fracasso e te leva a fracassar. Saber que vai fracassar soa como uma defesa para evitar o sucesso que poderia obter. Você vive uma contradição consigo mesma e ninguém pode estar bem ao se encontrar nesta posição.
            Hoje você se repete num destino escrito por você mesma e só você poderá reescrever essa história de outra forma. Para isso se faz importante entender o temor que tem do sucesso e por que o evita, inconscientemente, ou seja, sem nem saber. Para algumas pessoas ter sucesso traz um forte sentimento de culpa e ao tentar evitar esse sentimento de culpa acaba por evitar também o próprio sucesso. Claro que não sei se esse é o seu caso, mas você só tem a ganhar se procurar descobrir. Procure um analista que se coloque disponível para te escutar e te entender para assim te ajudar a sair da repetição desse eclipse sem fim.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Pergunta de Leitora - Que tipo de Curadora?


Sou uma psicóloga clínica bem reconhecida. Atendo vários pacientes e muitos confiam em mim seus segredos e dores mais íntimas. Já tenho 25 anos de estrada em atender pacientes. Hoje, no entanto, estou me sentindo desestimulada com o trabalho que faço. Não sei explicar bem mas parece-me que está tudo sem sentido. Nunca fiz psicoterapia como paciente e pela primeira vez senti essa vontade, mas em quem confiar? Já tenho muitos conhecimentos nessa área e não sei se alguém poderia realmente me ajudar. Moro numa cidade pequena e sou tipo a melhor das psicólogas aqui, então como ficará minha fama? Muitos são capazes de pensar que sou louca. Pode parecer besteira mas são coisas que levo em consideração. Pensei que após anos atendendo eu não teria mais problemas pessoais, mas vejo que não está sendo assim. Será que é normal sentir-se assim depois de tantos anos de trabalho?

            Nada substitui a própria análise pessoal. Nem os longos anos de estrada em atender outras pessoas, nem o conhecimento intelectual que alguém é capaz de acumular no decorrer dos anos. A análise pessoal é uma experiência intransferível e de extrema importância, principalmente para alguém que exerce a psicologia clínica. Por que será que você desconsiderou isso?
            Psicoterapeutas também são humanos e possuem determinadas questões internas que se não bem resolvidas custarão caro tanto em termos pessoais quanto profissionais. Ainda bem que hoje a angústia está te pegando e levando você ao incômodo. Essa angústia que sente pode ser uma das melhores coisas que poderiam te acontecer. Quem está incomodado procura mudar, faz com que se procure outra posição mais favorável. Agarre essa angústia e a use bem para enfim empreender a sua análise.
            O escritor Hermmann Hesse escreveu uma estória chamada O jogo das contas de vidro que conta que dois curadores famosos em suas respectivas vilas acabam adoecendo na alma e resolvem um procurar o outro para encontrar ajuda. No meio do caminho eles se encontram e o curador mais jovem pede ajuda ao mais velho. Este por sua vez fica envergonhado de pedir ajuda ao mais novo e não conta o que o preocupa. No final ambos saem transformados da experiência que vivem, porém o curador mais velho saiu menos transformado e não aproveitou a oportunidade que tinha em suas mãos por orgulho e embaraço.
            Há dois tipos de orgulho, um deles tem a ver com a autoestima e com a possibilidade de aproveitar com prazer e amor as coisas que conquistamos e construímos. O outro tipo de orgulho tem a ver com a vaidade, que é extremamente nociva. A vaidade não nos favorece em nada e só está serviço das aparências. Vaidade é ilusão e não uma experiência verdadeira e por isso mesmo não incentiva a mudança e o crescimento. O curador mais velho da estória era vaidoso e o mais novo realista. Cabe a você decidir que tipo de curadora quer ser consigo mesma.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Saber Onde Procurar


            Há uma piada muito interessante e que pode nos fazer refletir sobre onde procuramos as coisas que realmente nos valorizam e dignificam. A piada é assim: Um homem andando na rua numa noite vê outro embaixo de um poste iluminado olhando para baixo como se estivesse procurando algo. Ele resolve parar e perguntar se o outro precisava de ajuda e o que estava procurando. O homem então lhe responde que estava procurando pela chave de casa que havia deixado cair e os dois passam a olhar para o chão e ver se conseguiam encontrar a chave perdida. Após algum tempo em que a busca nada resulta o primeiro homem reclama que não achavam a chave em lugar algum e pergunta se o outro tinha certeza de que não havia deixado a chave cair em outro lugar. Este responde que tinha deixado a chave cair na outra esquina e não ali onde estavam procurando. Seu interlocutor surpreso lhe pergunta por que estavam procurando a chave no lugar errado e o homem lhe responde que lá na esquina estava completamente escuro e que se sentia mais confortável procurando onde tivesse luz, ali embaixo do poste. Essa piada nos faz ver que saber onde procurar faz toda a diferença.
            Há inúmeras pessoas que procura no lugar errado e de forma errada o que mais faltam em suas vidas. Somos carentes de um encontro verdadeiro conosco mesmo, não queremos muitas vezes saber de nossas verdades internas que são sempre dolorosas. Procuramos então alguma coisa que venha a nos trazer um sentimento de realização. E onde procuramos? Onde conseguimos enxergar. E a coisa que mais conseguimos ver está sempre fora de nós e não dentro. Portanto, dá para se ver que quando procuramos fora de nós algo que nos venha a satisfazer estamos, na verdade, procurando no lugar errado.
            Não é à toa que há tanto consumo de drogas ilícitas, bebidas alcoólicas, comportamentos compulsivos, que são formas de se procurar por algo e maneiras de se lidar com o que se sente. As pessoas se desesperam e tentam encontrar a todo custo, fora delas mesmas, aquilo que venha trazer uma tranquilidade interna. Afinal, tudo que está do lado de fora é de fácil percepção enquanto que o que está dentro fica muito mais complicado perceber. Dentro de nós há um mundo desconhecido e geralmente escuro. Pede por iluminação e para iluminarmos o que se passa dentro de nós mesmos é algo que demanda muito trabalho, paciência e tolerância.
            Preferimos procurar na luz, ou seja, em tudo aquilo em que ver fica mais fácil, mas quando fazemos isso fugimos de nós e tudo o que encontrarmos não será o que estamos procurando e precisando. Aceitamos abraçar o que quer que seja que a gente vê, no lugar de construirmos em nós aquilo que de fato necessitamos e que nos fará bem. Enquanto não compreendermos que o que mais necessitamos está dentro de nós para ser desenvolvido ficaremos procurando nos lugares errados. O que já escutamos de gente dizendo que quando comprarem tal ou qual coisa serão felizes, que quando tiverem esse ou aquele emprego estarão satisfeitos, não dá para contar. Não que as coisas externas a nós não sejam importantes, elas são, porém jamais darão o que nos proporcionará um sentimento de se estar vivendo de verdade. Precisamos sair debaixo dos postes para nos aventurarmos dentro das nossas escuridões e assim encontrar o que vale a pena.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Pergunta de Leitora - Vários Nomes para o Amor


Me comunico muito através da internet com pessoas de lugares variados. No momento estou mantendo contato com dois homens da mesma idade. Eu já conheci pessoalmente os dois mas os dois são tão diferentes. O primeiro conheci mais rápido, saímos juntos e acabamos indo para um motel, foi algo intenso e enlouquecedor, que me tirou do chão e me fez ver estrelas. O segundo foi bem mais demorado. A princípio ele não queria me encontrar já que estamos distantes e ele não queria criar falsas expectativas. Porém, acabamos nos encontrando e foi como se ele e eu fossemos amigos de longa data. Ele não me era desconhecido. Fomos também para motel e foi muito gostoso. Ele gostaria de me namorar e o primeiro cara também. Esse primeiro é que nem fogo e sei que pode em algum momento me trazer decepção e o segundo é que nem água. Não sei o que realmente sinto. Sei que quero escolher um, mas quem?

            Quem disse que amor é tudo igual? Há várias formas de amor e infinitas maneiras de amar. Tudo depende do que queremos, do momento em que vivemos e do sentido que cada forma de amar nos propicia.  Os antigos gregos é que foram sábios pois na língua deles não existia uma única palavra para designar o amor, mas muitas sendo que cada uma delas era para descrever um tipo diferente de amor.
            Só se voltando para você mesma é que vai ajuda-la a tomar a decisão mais apropriada. Um deles te promete o amor do fogo da paixão, que queima, que traz a sensação de que mais nada importa no mundo. Entretanto, esse amor pode também trazer sofrimentos, pois quem brinca com fogo pode acabar queimado. Esse amor é para quem pode suportar o sofrimento e não prescinde dele.
            Já o segundo rapaz é o amor amigo que já existia antes mesmo do encontro de vocês. Tanto que quando você o encontrou não o estranhou, era como se já o conhecesse. É o amor delicado, amigo e cortês. Esse rapaz quer viver o amor como algo tranquilo e calmo, ele se baseia na amizade para esta ir se desenvolvendo em algo maior.
            Água e fogo, dois elementos de naturezas diferentes. Agora, você sabe deles, mas de você? O que sabe? Qual é o elemento que mais te proporciona sentido, pelo menos nessa etapa da sua vida? A resposta só pode ser encontrada quando você entender mais quem é você. Se entender também se faz importante porque assim você tem menos chance de se enganar e de idealizar o que não precisa ser idealizado. Em outras palavras, você tem menos chance de errar porque saberá o que quer.