Estou numa situação da qual não sei sair. Tenho 26
anos, sou codependente de minha família (que é superprotetora e me sufoca),
sinto medo do mundo, os pensamentos negativos e pessimistas são diários, não
tenho amigos (mesmo!), não tenho emprego ou uma carreira, nenhum lazer, não
consigo dirigir por ser desatenta e ter lapsos de fuga da realidade... Meus
fins de semana são em casa, sozinha no quarto. Enfim, não tenho uma vida comum
e saudável, é totalmente sem significado. Minha única atividade no dia é ficar
na internet e estudar para concurso, acreditando que se for aprovada tudo
mudará.
Mas estou imensamente infeliz! Constantemente faço
comparações com outras pessoas, na minha mente todos estão bem, e, pra mim, não
há solução. Deixei de conversar com meus pais sobre meu estado emocional e
psicológico, pois já possuem problemas que sequer conseguem resolver. Moro
também com meus irmãos e não trocamos uma palavra, o que me provoca culpa.
Tenho pensamentos suicidas, porém me sinto presa a
minha família, que sofreria caso algo ocorresse. Tentei viver de modo leve,
participei de grupos diversos em minha cidade, pratiquei exercício físico, PNL,
fiz terapia, mudei minha alimentação, aumentei a dose do antidepressivo... E
mesmo nesses períodos sinto que há algo de errado comigo.
Estou desconectada (não sei se é
essa a palavra) da realidade. Fico mais no meu mundo interior e tenho pouca,
quase nula, ação. Por exemplo, algo que parece sem importância, mas diz muito:
há anos não organizo meu quarto. Tudo está no mesmo lugar desde que mudei de
apto. Só vou jogando meus pertences em qualquer lugar e assim fica.
Mudanças me assustam, no entanto, não suporto mais
a mim e como sobrevivo. Preciso de referências positivas para aprender o que é
viver. Pode me orientar?
Dizer que você teme a vida é chover
no molhado porque disso você já sabe. Porém o que você não sabe é o que teme de
verdade, o que evita quando não se permite viver. O que você necessita é
compreender as razões inconscientes que te levam a viver de uma maneira
empobrecida quando poderia ser diferente. Esse saber só é conseguido na
análise, quando você aprender a se escutar e dar sentido para o que você se
faz.
Você se define como dependente, sem
amigos, sem dirigir. O que é difícil dirigir não é um carro, mas a própria
vida. Você ainda não pegou na sua própria direção e ser dependente da família é
uma maneira de evitar ter que dirigir sua vida. É como se ficasse num estado
infantil, que precisa ser cuidada e jamais pode assumir responsabilidades pelas
suas escolhas. É uma posição cômoda, contudo limitada.
Talvez crescer, virar adulta de
fato, lidar com as consequências de suas escolhas te assusta muito. E assim
você vai empurrando tudo com a barriga, tal como seu quarto. As coisas vão
simplesmente se acumulando, mas nada pode ser organizado. Não acredite que seu
problema esteja em por ordem no quarto, isso é apenas reflexo do que se passa
internamente. A dificuldade está em trazer ordem para a vida. Entretanto, isso
só você mesma poderá fazer e ninguém poderá lhe dirigir nisso.
Um analista até pode te orientar,
mas dirigir a vida terá que partir de você mesma. Você já tentou tantas coisas,
mas me parece que antes mesma de começar você já tinha certeza do fracasso. Que
tal mudar, mesmo com medo? Medo a gente pode suportar, mas o desperdício da
vida não. Não perca tempo, pois este não volta e nem é recuperado, para começar
uma análise de verdade com um bom psicanalista para que comece a dar sentido no
seu caos interior. Hoje lhe falta uma mente que te auxilie a ordenar o que está
bagunçado. Sem mente não nos organizamos internamente. Seu email foi muito bem
escrito, você tem material para falar e discutir numa análise, bem como
sensibilidade para tratar de assuntos subjetivos. Só que está esperando demais
e vai precisar de uma relação analítica verdadeira que não tem como se dar
apenas através da internet e de ficar no mundo virtual.