Sofri
abuso sexual do meu próprio pai dos 8 até os 11 anos. Antes do abuso eu era um
menino alegre, curioso com a vida e aprontava as minhas molecagens. Depois tudo
mudou, o mundo ficou perigoso e eu ficava cada vez mais quieto e recluso. Não
conseguia fazer mais amigos, não confiava em ninguém. Minha mãe não acreditou
em mim quando falei o que estava acontecendo, meu pai, depois dos 11 anos parou
de abusar, mas as marcas ficaram. Hoje tenho 22 anos e não moro com eles, mas
com minha avó materna que prefere não acreditar no que passei, mas que me dá um
lar e condições para eu terminar minha faculdade. A questão é que hoje eu não
me relaciono com ninguém e tenho medo do sexo. Aliás, nem sei se sou hetero ou
homossexual. As vezes quando penso em sexo sempre fantasio que estou sendo
estuprado por um outro homem ou até por uma mulher, mas depois que fantasio
isso me sinto sujo e errado. não consigo ter outra fantasia que não seja um
estupro. Será que um dia vou poder ser normal? Deixar tudo isso para trás?
O abuso sexual em crianças é uma violência física e
psicológica das mais devastadoras que existe e quando essa violência é
praticada por aqueles que deveriam zelar pelo bem estar da criança, como os
próprios pais, a experiência se torna mais marcante ainda. Hoje você está
marcado por essas experiências dolorosas e impensáveis entre pessoas
verdadeiramente civilizadas. Você viveu e ainda vive o horror.
Você não só sofreu o horror de ter seu pai como algoz e
sua mãe indiferente como também sofreu com a sexualidade despertada muito cedo
e de forma desastrosa. Uma criança abusada sexualmente tem a sexualidade
despertada, mas de maneira violenta. O sexo ganha contornos de agressão e por
isso não é à toa que em suas fantasias sempre há o estupro. Hoje a sua
sexualidade está marcada pela agressão tornando-a impossível de ser vivida.
Seu desenvolvimento psicosexual ficou, obviamente,
comprometido. Tanto que você não sabe se é heterossexual ou homossexual até
porque a única referência sexual que você possui é a da violência. Nunca houve
relacionamentos afetivos bons o suficiente para que tivessem criado pontos de
referência saudáveis. Se relacionar ficou improvável, afinal, o horror está
sempre presente na sua mente como um fantasma.
Marcas a gente não tem como apagar, mas tem como
superá-las com muito trabalho interno. Você não tem como esquecer o que te
aconteceu, mas pode aprender a fazer com que esse passado não venha contaminar
a sua vida presente. Precisa se recriar de outra maneira e vai necessitar de
ajuda para isso. Uma análise com um profissional que saiba te ouvir e que te
ajude a repensar e sair do horror é fundamental. Não perca mais tempo revivendo
o horror, mas use o tempo para buscar uma luz e uma saída. Esse seu email foi o
primeiro passo, que tal dar os seguintes?
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