segunda-feira, 30 de abril de 2012

Tristes Partidas



            É sempre duro quando alguém querido morre. O sentimento pode chegar a ser massacrante e dar a impressão de que jamais vai passar. A morte dos pais tem um significado de extrema importância nas nossas vidas. Os pais, tanto a mãe quanto o pai, foram aqueles responsáveis pelo nosso nascimento e educação e durante muito tempo representaram tudo o que nós precisávamos para viver. Quem teve uma relação satisfatória com os pais se lembra deles como aquelas pessoas que podiam contar sempre e não importava o que fizéssemos, eles estariam do nosso lado. Na adolescência, muitas vezes, os pais se tornam alvos de muitos ataques vindo dos filhos, mas mesmo isso, quando a relação é verdadeiramente forte, não é suficiente para estragar o amor dos pais por eles.
            Conforme passa o tempo os pais vão envelhecendo e aquelas figuras que era tão poderosas na infância vão se revelando frágeis e necessitadas de cuidados. É estranho se dar conta disso. Na nossa onipotência tendemos a acreditar que os pais são eternos, que sempre estarão presentes e carregando toda aquela força do passado. Frequentemente negamos a realidade dos fatos para não percebermos que os pais são seres humanos comuns, que envelhecem e um dia morrem. Quando esse dia da morte deles chega algo em nós acontece. Nos damos conta que perdemos pessoas queridas que não só nos deram a vida como também nos ajudaram a nos desenvolver e fazer quem somos. Não podemos mais contar com a pessoa física dos pais e o que resta são memórias e aprendizagens.
            Com a morte dos pais também nos damos conta da nossa própria mortalidade e nos lembra de que para tudo há um fim. Sendo que esse fim vem de qualquer maneira é necessário usar o tempo para vivermos bem, o que sempre foi o desejo dos pais para nós. A melhor maneira de se honrar a memória dos pais é viver a vida da melhor forma possível para que todo o trabalho deles seja recompensado com nossa alegria. É o ciclo da vida que exige que sempre nos renovemos, até mesmo e principalmente, nos momentos mais dolorosos e difíceis.
            Há aqui um link de um desenho belíssimo e de extrema sensibilidade mostrando um pai, um filho e a chegada da morte desse pai. Chama-se O Farol. Aliás, o farol é uma bela analogia para representar os pais, já que ele é algo que sempre mostra uma luz no meio da escuridão e das horas mais temíveis. Tal como os pais em nossas vidas que nos dão luz e segurança quando mais precisamos. Vale a pena assistir e se emocionar.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pergunta de leitora - Agressividade e arte



Meu filho tem 14 anos e é muito agressivo. Ele não dá nenhum problema ainda, mas ele gosta de desenhar coisas feias com muita riqueza de detalhes. Sempre gente morrendo, sangue para todo o lado e coisas assim. Fico temerosa de que ele se torne alguém que venha a dar problemas para a sociedade. Que se envolva em crimes e venha a ser preso. Meu outro filho é muito calmo, totalmente o oposto e não entendo porque ele tem que ser assim tão agressivo. Queria que ele fizesse coisas normais e não ficasse desenhando besteiras. Temo que ele venha a ser louco por gostar dessa arte violenta. Como posso saber se ele não venha a ser alguém do mal?

            Pelo que eu entendi ele não deu problemas, mas você está preocupada que ele venha a dar. Quando fala dele você parece ter certeza de que ele vai dar problemas. De onde tirou isso? Só por causa dos desenhos?
            Você é injusta quando o compara com seu outro filho, pois cada um é cada um. Não é só porque são filhos dos mesmos pais que eles deveriam ser iguais. Os irmãos são diferentes uns dos outros e saber acolher essas diferenças é muito melhor. Você quer que ele seja quem ele não é. Será que suas comparações não o deixam irritado?
            É mais do que esperado que um menino de 14 anos tenha agressividade. Alguns praticam esportes para dissipar essa agressividade, outros escrevem estórias e há os que desenham. Parece ser esse o caso do seu filho, que coloca através dos desenhos a agressividade que sente no seu mundo interno. Mas isso é sinal de saúde e não de doença, porque ele consegue transformar em algo bom, no caso o desenho, um impulso que deve deixá-lo confuso e perdido.
            Bosch, Salvador Dali, Goya são pintores maravilhosos que pintaram cenas de violência e loucura. Só por causa disso eles foram criminosos? Muito pelo contrário. Eles criaram fama como grandes mestres das pinturas. A arte pode estar a serviço da saúde e ajudar a sublimar um impulso agressivo tornando-o em algo refinado. Ainda bem que seu filho desenha e coloca a arte como forma de sublimação. O fato de ele desenhar coisas que você considera assustadoras não significa que ele vai realizá-las e nem que ele seja louco. Será muito mais produtivo você parar de julgá-lo e procurar entender o que ele desenha.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vidas e velas



                É sempre importante perceber como você vê a vida e lida com ela. Se auto-observar é uma atitude que pode ser bastante construtiva e caso você veja que vive de uma maneira que não lhe convêm, é necessário fazer ajustes.
                Agir de uma forma pessimista é ficar preso à lamentação. Reclama-se tanto e de tudo que os olhos só passam a valorizar aquilo que há de mais feio e ruim. Tudo, para essas pessoas, dá errado e elas ficam cada vez mais afundadas em suas reclamações. Com isso perdem o gosto pela vida, se tornam amargas e se esquecem dos sonhos que algum dia tiveram. Certamente não é bom viver assim.
                Há outras pessoas que não reclamam. Reclamar dá muito trabalho para elas! É preferível se acomodar e aceitar tudo como está, assim, não há motivos para aborrecimentos. Essas pessoas têm sonhos, criam toda uma fantasia do que querem para si, mas não fazem nada para que os sonhos saiam do reino da fantasia e comecem a entrar no da realidade. Esperam que as coisas simplesmente aconteçam sem que delas nada seja exigido. Se tornam preguiçosas e por isso nada alcançam que seja de valor.
                E há pessoas que aprendem. Essas têm sonhos e ambições que querem realizar e para isso se permitem aprender com as experiências da vida. Não temem os próprios erros. Quando algo dá errado elas podem usar suas mentes para refletir e criar alternativas que as permitam se transformar. Não ficam presas nas lamentações, pois valorizam o tempo e sabem que este não volta e por isso mesmo deve ser bem aproveitado. Não esperam que as coisas caiam do céu porque entendem que são responsáveis por si próprias e caso não se cuidem, ninguém mais o fará.
                Precisamos nos transformar sempre e acompanhar o tempo para não corrermos o risco de passar pela vida sem dela nada ter aproveitado e feito. William George Ward tem uma frase bem interessante para refletirmos: O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas. 


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pergunta de leitor - Desconhecido



Sofro de ejaculação precoce. Muitas vezes nem inicio a relação sexual e já ejaculo, o que termina por me frustrar muito. Não sei o que me acontece. Tenho já 29 anos e no passado não era tanto assim. Já fui a dois urologistas que me disseram que está tudo certo no meu corpo, mas que deve ser um problema emocional. Não entendo que problema emocional seria esse já que está tudo bem na minha vida fora esse problema. Ele me indicou um psicólogo, mas tenho receio de ir em um e ter que falar. Não gosto disso e nunca foi assim que resolvi meus problemas. Você acha que a ejaculação precoce pode mesmo ter raízes emocionais?

            A ejaculação precoce é o problema sexual masculino mais ouvido pelos especialistas e traz muitas angústias. Entende-se por ejaculação precoce quando o homem não é capaz de controlar a própria ejaculação e ejacula antes do tempo que gostaria.
            Os médicos lhe disseram que não há problema orgânico nenhum e desconfiam que um problema emocional possa estar por detrás disso, coisa essa que você não acredita muito. O corpo e a mente funcionam juntos e um pode interferir no outro facilmente. Ao não aceitar isso, você nega que exista uma vida mental que pode estar interferindo na sua qualidade de vida.
            Será que você tem medo de se abrir? Porque quem vai a um psicoterapeuta se abre e, muitas vezes, descobre coisas que antes nem mesmo suspeitava. Entendo que você tenha receio, pois o desconhecido, mesmo que seja o nosso próprio, sempre causa apreensão.
            Mas a questão é se você pode se abrir para essa experiência e ver no que dá ou continua a carregar esse problema. Talvez ao se abrir você entenda o significado emocional da sua ejaculação precoce e do por que ela existe, poderá encontrar meios para se libertar e viver uma sexualidade mais satisfatória. Há muitas razões inconscientes que podem atrapalhar a vida e descobri-las é a melhor maneira de não ficar tão vulneráveis a esse desconhecido que gera sintomas desagradáveis. Cabe se decidir se aceita pagar o preço por conhecer sua mente.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Tudo passa



Havia um rei muito bom e que tentava sempre ser justo e sábio. Depois de algum tempo no trono ele passava por um momento muito difícil e por isso mandou chamar um velho e reconhecido mestre de sabedoria. Ele pediu ao mestre que o ajudasse a encontrar uma maneira de não se entregar ao desânimo. O mestre pensou e pediu ao rei que lhe entregasse a sua coroa para ele e que depois de um tempo ele a devolveria. Passado um tempo o mestre retornou e entregou a coroa ao rei que a colocou em sua cabeça.
O rei lhe perguntou: O que há de diferente nela?
O mestre pediu ao rei que se olhasse no espelho e ele assim fez. Quando se olhou ele viu que havia uma frase escrita na frente de sua coroa de modo que quando ele se visse num espelho essa frase sempre estaria aparecendo. O rei riu e entendeu porque o mestre era tão sábio. A frase escrita na coroa era: Vai passar.

            É muito comum que pessoas que passem por determinadas dificuldades se entreguem ao desânimo e à descrença em si próprias de que as coisas possam melhorar. Ficam tão identificadas com seus problemas e com o desprazer que eles trazem que se esquecem de pensar em como sair deles. Tememos, irracionalmente, que os problemas se prolonguem eternamente, mas isso é muito ruim, pois nos faz acreditar que os problemas são mais fortes do que nós.
            É muito útil ter em mente que as coisas passam e se usarmos nossas mentes para pensarmos e não ficar apenas se lamentando, os problemas podem passar mais rápidos ainda. A transitoriedade das coisas, mesmo dos problemas, está sempre presente no pensamento oriental que é sábio porque orienta a pensar e a procurar a iluminação.
            Nada pode ser tão ruim para a vida de alguém do que se identificar com seus problemas e não sair deles. É preciso nos tornamos conscientes de que as dificuldades, por piores que sejam, passam. Ou até melhor dizendo, nós é que passamos pelas dificuldades e ao as atravessarmos temos a chance de ficarmos mais fortes e sábios. É justamente ao passarmos por dificuldades que crescemos e evoluímos. Tudo depende da direção que vamos dar para os nossos problemas. Quando estiver desanimado e descrente lembre-se de que vai passar e assim não precisará mais se identificar tanto com suas dificuldades.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Pergunta de leitora - Se desfazer ao vento



Estou numa confusão total. A mulher que sempre pensei que fosse minha mãe não é minha mãe e minha irmã que sempre pensei que fosse apenas uma irmã é minha mãe de verdade. Meu pai é agora meu avô e meu pai de verdade é casado com uma prima minha. É tudo muito confuso, sinto me desfazer ao vento. Tenho 20 anos e soube de toda essa história agora em setembro passado. Não sei mais o que pensar. Minha família me enganou todo esse tempo. Minha irmã, que é minha mãe, tinha 16 anos quando me teve. Como a acharam nova demais ficou combinado que meus avós iriam passar por meus pais. Numa briga de família tudo foi revelado e agora me sinto perdida. Sem mãe, sem pai, sem nada. Não sei mais o que pensar.

            É realmente confusa e delicada a sua situação, tanto que para entender o seu enredo familiar tive que ler seu email várias vezes. A história contada para você não corresponde a realidade, ou seja, você vivia uma historia fabricada. Isso é de deixar qualquer um perdido e confuso.
            Não só tudo isso é bem confuso, como também tem um agravante; você foi enganada e lhe foi roubado conhecer desde o inicio a sua história. É que nossa história serve para nos construirmos, nos dar um lugar no mundo e com isso desenvolver uma identidade. Isso tudo lhe foi tirado e oferecido no lugar uma mentira e hoje você se sente se desfazer.
            É totalmente compreensível você estar perdida. Agora você se vê na necessidade de contar sua história para que possa entendê-la e criar um novo espaço para você. É muito duro e difícil ver que tudo que você pensava e acreditava teve uma reviravolta que te deixou sem pontos de referência.
            Fica claro que na sua família ninguém seguiu um papel real, ou seja, ninguém sabe que lugar ocupa. Sua mãe é sua avó e sua irmã é sua mãe, fazendo com que todos os membros da sua família não saibam propriamente quem são de fato. Um pega o lugar do outro, outro assume uma posição que não é a dele e por aí vai. Resta agora juntar os cacos de sua história para você se reconstruir. É preciso que você se dê uma identidade. É um trabalho longo e penoso, mas que lhe é vital para se sentir em paz.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A riqueza dos contos de fada



            Os contos de fada são populares e resistentes ao tempo porque contam uma verdade subjetiva. As crianças que escutam ou lêem os contos de fada se identificam com o herói ou heroína que são obrigados a sair em jornada em busca de algo e nessa busca acabam crescendo e descobrindo talentos que antes não se sabia ter. Nessas estórias o protagonista sempre sofre inúmeras provações e quase sempre desiste, mas consegue se superar e enfrentar os obstáculos para no fim vencer. Há perdas, mortes, abandonos e outros exemplos que precisam ser vencidos nesses contos e eles demonstram que a frustração faz parte da vida, porém que se houver persistência pode-se triunfar.
            Na vida real não temos fadas, bruxas e monstros, mas conhecemos muito bem o sofrimento. A frustração, seja nos contos ou na vida real, está sempre presente e exige que lidemos com ela da melhor maneira possível. Tal como nos contos de fada viver é uma grande jornada. E nessa jornada podemos descobrir mais sobre nós mesmos, vencer nossos obstáculos e crescer. Nós somos os heróis e heroínas de nossas próprias vidas e sempre estamos em busca de algo: nós mesmos!
             Agressividade, compaixão, raiva, vingança, amor, felicidade estão presentes na grande maior parte dos contos e revelam a verdade do que encontramos na vida real que vivemos no dia a dia. Os contos de fada não adoçam a vida, pelo contrário, mostram que a vida é dura e que há muitos perigos e tormentos. No entanto, também mostram que a felicidade existe se nos esforçamos por ela. A recompensa de uma vida realizada e feliz pode acontecer caso estejamos dispostos a batalhar por isso. A batalha por uma vida melhor se faz presente nos contos e na vida e pode ser uma luta árdua.
          Através dos contos de fada as crianças podem ser apresentadas à realidade da vida e a acreditarem em si mesmas. É até uma maneira de se lidar com impulsos como agressividade, inveja e ciúmes já que podem notar que esses sentimentos são comuns até em seus heróis. O drama de um conto de fada reflete o que se passa na cabeça do ser humano e os ajudam a pensar sobre a vida e a resistir ao fracasso. Não é a toa que essas estórias encantam gerações.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ressurreição



            Estamos perto da páscoa e ressurreição tem tudo a ver com essa celebração que é uma das mais importantes para a religião católica. Depois da quaresma, que é um período de reflexão, se celebra a páscoa que é um momento onde a ressurreição domina o tema. A palavra ressurreição vem do latim ressurrectione que quer dizer levantar, erguer. Na tradição clássica católica a páscoa é o momento em que Cristo ressurge dos mortos para demonstrar a imortalidade da alma. Deixando de lado os dogmas religiosos podemos aprender muito com o simbolismo dessa festa.
            Quantas vezes na vida não tomamos um caminho errado e do qual nos arrependemos? Quantas vezes não nos olhamos e notamos que precisamos mudar para viver melhor? Quantas vezes, ao longo das nossas vidas, não precisamos renovar as esperanças para continuarmos bem? Os tombos são sempre freqüentes na vida e quando caímos ficamos frustrados e decepcionados. É justamente quando nos encontramos caídos que perdemos completamente a esperança na nossa capacidade de se superar e podemos nos entregar a uma autocomiseração sem fim. Todos nós, em algum momento da vida, nos encontramos assim.
            É bem aí que se faz necessário que utilizemos nossas mentes para aprender. Refletir sobre o que nos levou a cair e porque escolhemos esses caminhos e não outros que nos seriam mais favoráveis. É o momento de pensar em novos caminhos e novas atitudes. Enfim, é a oportunidade de se encontrar maneiras de se erguer e continuar a vida agora de uma forma mais sábia, tendo aprendido com os erros do passado. A nossa quaresma pessoal pode ser um período muito enriquecedor para abrir as portas para uma nova fase.
            E essa nova fase tem a ver com esse erguer-se, esse levantar-se e seguir em frente mais fortalecido. A verdadeira ressurreição se dá na nossa vida diária quando alimentamos a esperança de uma vida melhor, não nos deixando abater pelo desânimo. Que nessa páscoa todos possamos morrer para aquilo que não mais nos serve para nos reerguermos em uma nova vida com novos significados.