A relação que muitas pessoas desenvolvem com seu próprio
corpo é bastante cruel. O corpo virou um espetáculo, um objeto para exposição.
Isso é tão intenso que as vezes parece como se os corpos fossem desabitados e
se tornassem peças de exibição. Não é à toa que a cirurgia plástica encontrou
uma vasta oportunidade hoje em dia. Não há problema nenhum em intervenções
cirúrgicas e a ciência deve mesmo estar a nosso serviço, mas quando o corpo se
desumaniza isso passa a ser um problema.
Dietas malucas, exercícios exagerados, exposições de
corpos na mídia trazem a idéia de que quem não tem um corpo espetaculoso é uma
pessoa descuidada e relaxada, alguém que é um fracassado. Como se sucesso fosse
ter um corpo esculpido. Pouca atenção se dá aos atributos da pessoa que vive
dentro do corpo. Aquilo que é interno está oculto e portanto não pode ser visto
e nem exibido. Mas não custa lembrar de que somos mais do que apenas corpos.
Claro que devemos cuidar do corpo e aliás devemos cuidar
muito bem, afinal o nosso corpo é também uma realidade de nossa identidade. A
questão preocupa quando o corpo passa a ser a única marca. Nesses casos o corpo
deixa de ser um corpo e passa a ser uma vitrine. Tratar o corpo dessa maneira
acarreta em vários problemas. Um deles muito grave é o esvaziamento da
sexualidade. Com “corpos objetos” o ato sexual não é mais um encontro, uma
descoberta e uma união, mas passa a ser algo vazio onde o que importa apenas é
a procura por outros corpos perfeitos. A sexualidade deixa de ser algo emocional
para se tornar apenas mecânico. Esse tipo de relação sexual até oferece um
certo prazer momentâneo, porém percebe-se vazio e sem significado. O corpo se
torna fonte de excitação, mas não de encantamento.
O ideal de um corpo perfeito é um
grande malefício, pois coloca as pessoas numa posição de insatisfação consigo
próprias. Anorexia, bulimia, compulsões e uso de substâncias prejudiciais à
saúde são coisas cada vez mais encontradas nos consultórios psicanalíticos e
médicos. Reverter essa situação significa humanizar o corpo em vez de
esvaziá-lo, ter para com o corpo uma relação saudável onde o que deve ser
valorizado é a saúde e o bem estar e não uma imagem idealizada. O nosso bem
estar deve ser sempre nossa prioridade.
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