quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sofrimento Mental e Crescimento



            Ultimamente tenho visto o quanto o sofrimento mental vem sendo mal compreendido. É interessante notar que todas as tecnologias criadas que melhoraram tanto nossas vidas, deixando-as mais fáceis e confortáveis, não diminuiu em nada a questão do sofrimento mental. Até mesmo os remédios psiquiátricos de última geração vieram apenas como paliativos, mas não são uma solução definitiva. Na era em que vivemos, na qual tudo é para ontem e as soluções se apresentam prontas, o sofrimento psicológico parece ser um paradoxo. Passa a ser incansavelmente combatido, mas não pensado. Tentam exterminá-lo, mas não o compreendem. Mas será que o sofrimento mental é um vilão tão mau assim?
            Penso que não. A vida está repleta de sofrimentos sejam psicológicos ou físicos: envelhecemos, adoecemos, nos apaixonamos e nos decepcionamos, temos ódio, inveja... Em qualquer dimensão da vida humana há existência do sofrimento. Aqueles sofrimentos que podem ser “curados” pelos medicamentos e cirurgias ou por qualquer outro meio externo tudo fica bem. Mas o que fazer com aquilo que é despertado em nossas mentes e nos angustia? Como lidar com isso?
            Quando o sofrimento é psicológico não temos como nos livrar dele facilmente. Está em nós. Podemos fugir para o Ceilão, mas nossa mente e tudo o que está nela vai conosco. Não há escapatória e nem cirurgia que extirpe o sofrimento mental.
            A única saída possível é aceitar esse sofrimento para poder pensá-lo, elaborá-lo e transformá-lo em matéria prima para o nosso crescimento. Como já dizia um ditado antigo “A privação é mãe da criação” e o sofrimento psicológico é uma privação da mente. É quando não podemos contar com recursos internos para lidar com nossas angústias de uma forma mais eficaz. É quando ficamos presos a um determinado tipo de atitude e visão de mundo que nos causa dissabor e desesperança. É quando nos sentimos fracos e impotentes para enfrentar viver nossa vida. Mas todas essas privações podem ser justamente aquilo que nos impele para frente, para a criação e transformação. Quando passamos a ficar incomodados com o que nosso presente nos apresenta e procuramos nos transformar e melhorar. Enfim, quando nos desacomodamos para seguir em frente em busca de uma vida que tenha significado.
As pessoas mais experientes são aquelas que passaram por muitas provações e em vez de sucumbirem e se entregarem à derrota e lamentação, usaram da própria experiência de sofrimento para se transformarem em pessoas mais fortes e preparadas para a vida.
            E como fazer isso? Não há uma receita milagrosa. Esse processo de transformação se dá na medida em que a pessoa se permite viver a vida com todo o sofrimento que ela traz. Alguns poucos conseguem fazer isso sozinhos. Tiveram uma boa base e têm recursos que os ajudam nessa empreitada. Muitos outros precisam de ajuda. A psicoterapia psicanalítica é uma dessas possíveis ajudas. Ela permite que uma pessoa tome esse caminho de acolher as próprias dores sem recorrer a mecanismos de fuga e de respostas prontas. Permite que a pessoa reconstrua sua vida através de outras perspectivas e encontre as suas respostas. É difícil e laborioso esse caminho, mas usar do nosso próprio sofrimento como instrumento de enriquecimento pessoal é o único que possibilita uma vida digna e mais prazerosa.

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