Natal chegando e nessa data, principalmente depois dos dois últimos anos com o horror da pandemia, muitas famílias vão se permitir enfim se reunir com um pouco mais de tranquilidade. As decorações natalinas já estão nas ruas e parece que há uma necessidade, merecida, de se celebrar essa data com toda pompa e circunstância. Depois das privações de encontros para evitar aglomerações nada mais natural que queiramos todos nos ver e nos abraçar e o natal é uma data propícia para que tal evento se dê. A festa das luzes está sendo mais do que bem-vinda esse ano.
Todavia, nem tudo são flores. O fim do ano apesar de ser desejado e inspirar tantos corações também traz dor. Pessoas queridas que morreram e não mais estão conosco, brigas e ressentimentos familiares que se formaram ou se solidificaram ao longo do ano, desejos frustrados e perdas as mais diversas, surgem como fantasmas que podem estragar e atacar nossa celebração e trazer um gosto azedo e amargo. Fora, claro, as famigeradas comparações que fazemos uns com os outros nessa época do ano e que nos geram uma sensação de fracasso. Sim, o natal pode não ser só alegria, mas um momento de muito sofrimento.
Geralmente o sofrimento que vivemos nessa data vem da idealização de que tudo tem que ser perfeito e maravilhoso. Idealizamos que o natal tenha que ser um gozo sem fim, um prazer explosivo que não dê espaço para mais nada. Queremos a mágica, mas a mágica impossível, aquela que nasce da nossa ignorância e não da nossa sabedoria.
O natal e a vida podem ter muita mágica, mas apenas se entendermos do que esta realmente se trata. Na antiguidade acreditava-se que alquimistas eram capazes de transformar chumbo em ouro. A ignorância não permite ver o simbolismo de nada, mas quer tudo de forma literal e aí está o equívoco que leva a tantos sofrimentos. O mito da alquimia se refere a transformar tudo aquilo que é pesado e denso dentro de nós, que nos faz sofrer e ficar mal, em algo melhor e muito mais nobre. O chumbo que vira ouro é a mágica que pode acontecer dentro de nós, na nossa mente, nas nossas experiências de vida. Assim, fica-se verdadeiramente rico. Quando transformamos internamente nossos sofrimentos para uma consistência mais nobre e sutil, nos enriquecemos.
O natal e toda nossa vida, como dizia acima, podem ser mágicos se forem assim compreendidos. Não se trata de viver algo perfeito e que só nos dê gratificações sem limites. O desejo de que as coisas sejam assim, gratificações atrás de gratificações, é um lado infantil nosso que atrapalha vivermos o que está ao nosso alcance, impede vivermos a realidade.
Se nossa crença dita que o natal, os encontros familiares e as vivências precisam ser de uma maneira muito específica e sem defeitos, nos impedimos de viver aquilo que está à nossa frente, dentro das nossas possibilidades. Aí não ficamos com o que temos, mas ficamos com o que achamos de como as coisas deveriam ser. É um mau negócio que dificulta encontrarmos satisfações reais.
Que nesse natal possamos tirar o melhor dele e que nossas vidas sejam vividas sempre aproveitando o que temos e não nos lamentando pelo o que achamos que precisamos ter para ser feliz. Um feliz Natal!!!