quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Série AMOR: #1 Distorcendo o amor

     Iniciei nesta semana uma série sobre o amor romântico, com pequenos vídeos no Instagram que replico aqui no site. O primeiro tem como tema "Distorcendo o amor".
     Assista, comente, compartilhe.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Seguir a si mesmo para viver bem



     Há uma anedota que conta que um mendigo que vivia de pedir esmolas num pequeno vilarejo, era motivo de chacota da população. Tudo porque quando alguém mostrava duas notas de dinheiro de diferente valor o mendigo sempre escolhia a de menor valor para si próprio. O povo achava tudo muito engraçado e vivia mostrando o quanto o mendigo era tonto ao repetir a mesma experiência. Um forasteiro, vendo a cena, foi um dia conversar com o mendigo e o questionou se ele tinha consciência dos sarros de que era vítima e porque nunca escolhia a nota de maior valor. O mendigo lhe sorriu e disse que no momento que escolhesse a nota mais valiosa a brincadeira deixaria de ter graça e ele perderia sua fonte de renda.
     Com essa parábola podemos aprender várias coisas. Uma delas é que as aparências nem sempre são verdadeiras. O mendigo parecia idiota, tonto, mas na verdade ele estava sendo mais esperto que a população que o considerava como tal. Isso mostra o quanto olhar apenas as aparências pode ser extremamente enganoso. Uma segunda coisa que podemos aprender com essa história é que se a ambição for demasiada pode por tudo a perder. Caso o pedinte começasse a cobiçar mais e mais, uma hora isto seria percebido e seus planos iriam por água abaixo. 
     Já a terceira lição que penso que pode ser depreendida da anedota é a que considero mais importante: o que os outros pensam de nós e o que nós pensamos de nós mesmos. Podemos ficar bem mesmo quando a opinião das pessoas de fora não está a nosso favor. Em outras palavras, a opinião alheia conta muito pouco quando estamos certos daquilo que nos faz bem e é nosso caminho. Infelizmente muita gente esquece disso e fica à mercê do que os outros dizem ser correto. 
    Acontece que nossa realidade, aquilo que sabemos de nós mesmos, não tem como ser apreendido pelo outro, que vai fazer apenas julgamentos de valores que nada têm a ver com nossa realidade interna. Saber viver e ter esses jogos de cintura fazem com que a vida se torne possível.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A carroça vazia


Certo dia um mestre e um discípulo estavam passeando por um bosque quando decidiram descansar em determinado ponto. Após um tempo de silêncio o mestre perguntou ao discípulo:
- Você consegue ouvir algo mais além do cantar dos pássaros?
Apurando os ouvidos o discípulo respondeu que ouvia também o barulho de uma carroça.
- Isso mesmo –disse o mestre- E de uma carroça vazia.
- Mas mestre, como o senhor sabe que se trata de uma carroça vazia?
- Ora, é muito fácil. Quanto mais vazia está a carroça, maior é o barulho que ela faz.

     Aquelas pessoas que mais fazem barulho, que mais adoram gritar aos quatro ventos alardeando de todas as formas são as pessoas mais vazias. Há pessoas que sabem gritar e se apresentar por meio de tanto barulho que muitas vezes enganam os outros vendendo uma imagem que não corresponde à realidade. Por outro lado também tem muita gente que adora o barulho e, por isso mesmo, se deixa enganar facilmente. Ao invés de ver o conteúdo que a “carroça” traz foca-se mais no barulho que ela produz e acha-se que está fazendo um belo negócio buscando essa “carroça”. 
    Só que esse negócio de valorizar alguém mais pela imagem e pelo som vistosos que geram pode ser uma tremenda ilusão. Morando uma parte da minha vida em sítio lembro-me bem de uma observação sobre a galinha e a pata que minha mãe contou. Quando uma galinha bota ela faz todo um estardalhaço, cacareja para quem quiser ouvir. Já a pata bota quieta, sem alarde depois. Contudo, o ovo da pata é maior e mais nutritivo que da galinha, mas muitas vezes é menos valorizado. Quantas pessoas cheias de bons conteúdos não são reconhecidas simplesmente por não saberem usar o do barulho como recurso? E quantas pessoas estridentes, prometendo o céu e a terra não acabam sendo ouvidas com muito mais frequência mesmo sendo pobres em sentido?
    Quanto mais vazia é uma pessoa mais ela vai se valer de elementos externos para sentir que tem algo. Mais ela vai se valendo de convencer a si e os outros que ela está cheia. Quem nunca viu ou ouviu aqueles colegas de trabalho que raramente apresentam alguma coisa consistente ou fazem alguma diferença, mas sabem vender muito bem a ideia de que são extremamente atuantes? Eles sabem fazer barulho, são excelentes em fazer comerciais, mas estão vazios.
    Nesse tempo atual que vivemos, às portas da eleição, vamos ver um alto número de políticos gritando e fazendo muito barulho. Porém, creio que vale muito a gente saber ouvir de fato. Será que o que estamos ouvindo é uma carroça vazia que achamos se "vendendo" como um bom negócio ou algo verdadeiro, que realmente tenha conteúdo e venha a nos servir? Não só para saber votar, mas também para nos relacionarmos melhor na vida é preciso discriminar no que nos atentamos. Ao que nos ligamos? Será que estamos correndo atrás e valorizando pessoas vazias que fazem barulho ou vamos atrás daquilo que realmente tem algo a ser oferecido verdadeiramente?
    Não basta saber escutar, mas compreender o que escutamos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Lidando com as tempestades internas


    Contra as forças naturais não podemos lutar. Elas podem ser muito violentas, trazer muita destruição e causar inúmeras catástrofes. Não podemos, por exemplo, tapar um vulcão para que ele não entre em erupção. Também não podemos desfazer um tufão que vem destruindo tudo por onde passa. Nada podemos contra tsunamis que causam tantos estragos, nem podemos acalmar o solo para aplacar os terremotos que ceifam tantas vidas mundo afora. As forças naturais são imensamente vigorosas e quando elas vêm precisamos sair do caminho. Quem tenta lutar contra elas sempre se dá mal.
   Se não podemos nada contra elas, podemos através da nossa engenhosidade encontrar e criar meios para nos preservar delas da melhor forma possível. No Japão, as construções são preparadas para “tolerar” os tremores dos terremotos e reduzir os danos e prejuízos. Na Islândia, aproveitam os vulcões para gerar energia termoelétrica que abastecem o país. Nos Estados Unidos, a meteorologia avisa com certa antecedência a rota dos furacões para que a população possa se arranjar com mais segurança. 
  Tal como as forças da natureza que podem causar enormes catástrofes, em nossa mente também há forças imensas que podem nos ser muito perigosas. A essas forças chamamos de impulsos e eles podem nos dirigir para a tragédia. Quantas pessoas não acabam matando outras por um “simples” impulso? Quantas desgraças não ocorreram e ocorrem porque uma força dentro de nós prevaleceu demolindo nossas vidas e planos?
  Algumas pessoas - e especialmente as religiões - acreditam que é preciso lutar contra essas forças (impulsos) com todas as armas. O problema é que as armas que usam são toscas e nada eficientes. Usam a repressão. Acham que a melhor maneira de se lutar contra os impulsos da mente é reprimindo o que se passa nela. Há um desejo que não condiz com as normas sociais? Reprima! Sufoque tudo o que não for considerado adequado! Bom, não dá para reprimir um vulcão, um furacão ou um tsunami. Tentar isso é aumentar a tragédia.
  Só resta mesmo aprender a lidar com nossas forças internas, encontrar meios de nos preservar daquilo que pode nos fazer mal. Ao mesmo tempo que nossa mente contém impulsos que podem ser prejudiciais ela, se for desenvolvida, pode criar meios inteligentes de lidar e negociar com os mesmos impulsos. A psicanálise é uma forma engenhosa que favorece um indivíduo em se conhecer melhor, saber que “forças” ele possui para ir encontrando meios criativos e eficientes de lidar com a própria vida sem que tenha que cair em tragédias que poderiam ser evitadas.
   Um sujeito que não nega seus impulsos, que não os coloca fora da consciência fingindo que eles não existem, pode desenvolver recursos que o permita se preparar de forma que uma tragédia possa ser evitada. Já uma pessoa que nega sempre as forças naturais internas que carrega fica despreparada para enfrentar a vida. De nada adianta lá no Japão eles negarem os terremotos e fingirem que eles não virão uma hora ou outra. Será inútil ficar cantando canções de ninar para a terra para que ela fique calminha. O que tem que ser feito é usar de toda a criatividade para criar mecanismos mais eficientes e preparados para lidar com aquilo tudo que é da natureza. Natureza não mudamos, mas mudamos como vamos lidar com ela. Na nossa mente é assim também!

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Com quem você se relaciona todos os dias?



      A escritora Rupi Kaur escreveu: “Se sou o relacionamento mais longo da minha vida será que não é hora de encontrar intimidade e amor com a pessoa com quem durmo toda noite”? Pois é, nessa vida temos que viver um relacionamento conosco, não há como fugir, então o melhor que podemos fazer é aprender a nos relacionarmos conosco de uma maneira boa.
   É incrível como muitas pessoas esquecem isso, de se relacionar consigo mesmas. Acreditam, erroneamente, que os únicos relacionamentos que importam são os que vivemos com outras pessoas. Estão sempre procurando relacionamentos externos, sempre lá fora. O relacionamento consigo mesmo passa batido e isso é extremamente prejudicial.
     Nessa vida o único relacionamento que somos obrigados a manter é o consigo mesmo. Até mesmo os relacionamentos familiares podem ser desfeitos. Ninguém é obrigado a se relacionar com outra pessoa. Podemos até nos mudar para outro país, continente, podemos até ir embora para a estação orbital. Mesmo assim, para onde quer que vamos sempre levaremos juntos nós mesmos. Não tem escapatória.
    Se não há como escapar de si mesmo, só nos resta encontrar meios de desenvolver um relacionamento consigo que seja bom e prazeroso. Estamos todos os dias, horas, minutos e segundos conosco. E o que significa estar consigo próprio? O que quer dizer isso?
    Estar consigo mesmo implica em estar em contato com a própria mente, com os próprios pensamentos e emoções. Parece algo muito simples ficarmos em contato conosco, mas é uma das coisas mais difíceis e raras de se encontrar. O que mais existe são pessoas que estão constantemente atrás de distrações e procurando externamente coisas para se ligar e que pouco conseguem suportar estar em contato consigo mesmas. Não é à toa que muitas pessoas não conseguem ficar em silêncio por um breve tempo que seja.
    Quando alguém fica irrequieto quando está só ou em silêncio é provavelmente porque não consegue ficar consigo. Na verdade, ninguém está só. Nunca estamos sozinhos completamente. Estamos conosco. Porém, nem sempre isso é lembrado e muitas vezes quando estamos nos sentindo sós corremos para fazer algo ou procurar alguém apenas para preencher um espaço que não sabemos utilizar.
   Carregamos em nossas mentes emoções, fantasias, desejos, sentimentos e pensamentos dos mais variados possíveis. Alguns são muito agradáveis, mas outros são assustadores porque não sabemos que aquilo tudo é nosso. Aquilo que desconhecemos tendemos a colocar à distância. Contudo, se distanciar disso, ou seja, do que é nosso é tentar evitar o relacionamento consigo mesmo. Bom, nunca é um bom negócio viver dessa maneira. Imagine passar a vida inteira com uma pessoa desconhecida aí dentro de você mesmo? Será que essa pessoa aí dentro (você mesmo) não merece mais consideração?