segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A carroça vazia


Certo dia um mestre e um discípulo estavam passeando por um bosque quando decidiram descansar em determinado ponto. Após um tempo de silêncio o mestre perguntou ao discípulo:
- Você consegue ouvir algo mais além do cantar dos pássaros?
Apurando os ouvidos o discípulo respondeu que ouvia também o barulho de uma carroça.
- Isso mesmo –disse o mestre- E de uma carroça vazia.
- Mas mestre, como o senhor sabe que se trata de uma carroça vazia?
- Ora, é muito fácil. Quanto mais vazia está a carroça, maior é o barulho que ela faz.

     Aquelas pessoas que mais fazem barulho, que mais adoram gritar aos quatro ventos alardeando de todas as formas são as pessoas mais vazias. Há pessoas que sabem gritar e se apresentar por meio de tanto barulho que muitas vezes enganam os outros vendendo uma imagem que não corresponde à realidade. Por outro lado também tem muita gente que adora o barulho e, por isso mesmo, se deixa enganar facilmente. Ao invés de ver o conteúdo que a “carroça” traz foca-se mais no barulho que ela produz e acha-se que está fazendo um belo negócio buscando essa “carroça”. 
    Só que esse negócio de valorizar alguém mais pela imagem e pelo som vistosos que geram pode ser uma tremenda ilusão. Morando uma parte da minha vida em sítio lembro-me bem de uma observação sobre a galinha e a pata que minha mãe contou. Quando uma galinha bota ela faz todo um estardalhaço, cacareja para quem quiser ouvir. Já a pata bota quieta, sem alarde depois. Contudo, o ovo da pata é maior e mais nutritivo que da galinha, mas muitas vezes é menos valorizado. Quantas pessoas cheias de bons conteúdos não são reconhecidas simplesmente por não saberem usar o do barulho como recurso? E quantas pessoas estridentes, prometendo o céu e a terra não acabam sendo ouvidas com muito mais frequência mesmo sendo pobres em sentido?
    Quanto mais vazia é uma pessoa mais ela vai se valer de elementos externos para sentir que tem algo. Mais ela vai se valendo de convencer a si e os outros que ela está cheia. Quem nunca viu ou ouviu aqueles colegas de trabalho que raramente apresentam alguma coisa consistente ou fazem alguma diferença, mas sabem vender muito bem a ideia de que são extremamente atuantes? Eles sabem fazer barulho, são excelentes em fazer comerciais, mas estão vazios.
    Nesse tempo atual que vivemos, às portas da eleição, vamos ver um alto número de políticos gritando e fazendo muito barulho. Porém, creio que vale muito a gente saber ouvir de fato. Será que o que estamos ouvindo é uma carroça vazia que achamos se "vendendo" como um bom negócio ou algo verdadeiro, que realmente tenha conteúdo e venha a nos servir? Não só para saber votar, mas também para nos relacionarmos melhor na vida é preciso discriminar no que nos atentamos. Ao que nos ligamos? Será que estamos correndo atrás e valorizando pessoas vazias que fazem barulho ou vamos atrás daquilo que realmente tem algo a ser oferecido verdadeiramente?
    Não basta saber escutar, mas compreender o que escutamos.

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