sexta-feira, 29 de março de 2019

Pergunta de Leitora - Orar ou Mudar de Vida?

Arte: @dalton.albertin


É difícil estar aqui desabafando, mas confesso que estou precisando muito de ajuda. Acabei me casando com uma pessoa errada, sem ambição nenhuma na vida. Um homem que mal trabalha e vive às custas da mãe de 70 anos. Moramos separados porque ele tem que cuidar da mãe e eu preferi ficar na minha casa. Ele só passa final de semana em casa. Colabora com apenas 200 reais por mês. Sempre fui batalhadora paguei minha faculdade, trabalhei muito na vida. Ele dorme até meio dia, faz os serviços de banco para a mãe e a noite sai com os amigos desocupados. Recebeu algum dinheiro antes de nos casarmos e não sei até hoje onde gastou. Comigo não gastou nada. Tem um carro velho e nem esse carro quer trocar. E acha ruim porque me recuso a andar no carro, diz que sou metida, que só quero aparecer. Meu Deus o que fiz pra ter um carma destes? Faz um ano que casei e já não sei mais o que faço, não sei até quando vou aguentar essa situação. Estou me sentindo muito triste, infeliz, porque sei que não posso contar com uma pessoa assim. Tenho vontade de jogar tudo paro o alto e partir para outro, mas fico pensando nos meus parentes. Fico rezando pedindo pra Deus me ajudar me mostrar o caminho certo. Espero que Deus esteja me ouvindo.



            Você ora pedindo uma resposta e solução para a situação em que você se encontra, mas nunca lhe ocorreu que o que você precisa não vai vir de fora, como uma resposta pronta que basta você seguir. Você pede por uma receita e enquanto insistir na receita continuará impotente.
            A verdade é que você entrou nesse buraco e só você mesma poderá encontrar uma maneira de sair dele. Entretanto, você espera que alguém te tire desse buraco. Aliás, você se sentir na pior alimenta um sentimento de autopiedade e autocomiseração. Em outras palavras, você sente pena de si mesma e de seu horrível destino. Acontece que você entrou nesse casamento, ninguém te empurrou nele. Portanto, mais do que sentir pena de si própria se faz vital compreender as razões que te fizeram embarcar numa barca furada.
            Quando você se sente vítima você se coloca numa posição muito impotente e que precisa ser salva. Contudo, se você puder aceitar que tem responsabilidade na posição em que você se colocou poderá aprender algo importante sobre si e terá a chance de isso não se repetir no futuro. A questão então não é para você se sentir culpada por estar onde está, mas para investigar como uma pessoa tão inteligente e capaz como você, segundo você mesma percebe, se colocou numa situação dessas.
            Como alguém que sempre batalhou e foi abrindo portas como você foi se prender a um sujeito que, aparentemente, não tem compromisso com a vida? A conta no fim da história não fecha e apenas mostra que você mesma se colocou numa enrascada. A razão disso que precisa ser descoberta para você conhecer ao que responde e repete na sua vida. Quem sabe você se disponibilizar para ouvir o que você faz consigo própria não é o que lhe falta e o que vai te ajudar a sair desse buraco? Em outras palavras, que tal buscar se conhecer?

segunda-feira, 25 de março de 2019

O objetivo de um tratamento psicanalítico




            São muitas as pessoas que ainda não entenderam qual o objetivo de um tratamento psicanalítico. Muitos até reclamam do tempo e custos e acreditam que não precisaria ser assim e com isso terminam por procurar tratamentos que prometem resultados rápidos e fáceis, mas a realidade é que quando nos voltamos ao mundo mental adentramos um território desconhecido e, muitas vezes, assustador, que gostaríamos que não existisse dentro de nós. A verdade, entretanto, é que cada um de nós carrega uma mente e que precisamos cuidar dela, lidar com ela. Não tem outro jeito. Se não lidarmos com nossa mente ninguém vai fazer esse serviço por nós.
            E qual é o problema de não lidarmos com nossa mente? Algum de vocês podem perguntar. Bem, se assim não o fizermos vamos pagar caro para viver. Na vida tudo se paga um preço, nada existe de graça. Pagar caro para viver é viver com sofrimentos, angústias, com pouco ou nenhum prazer. Enfim, uma vida com pouca qualidade e viver desse jeito não vale muito a pena. Dentro de nós há labirintos e se não aprendermos a sair deles vamos nos perdendo até mesmo podendo chegar a um ponto onde não nos encontramos mais.
            Contudo, aprender a lidar com a mente é justamente criar meios de se achar saídas para esses labirintos internos. Quando conseguimos nos livrar de becos sem saídas, encruzilhadas podemos trilhar outros caminhos muito mais prazerosos e eficientes que levem a uma vida com mais qualidade e digna. Quando vivemos melhor pagamos um preço justo e não caro pela vida.
            O tratamento psicanalítico, portanto, nos ajuda a pagar um preço mais justo pela vida, nos fazendo sair de alguns labirintos que possuímos internamente. Nos proporciona a chance de repensar a forma que vivemos e que escolhas fazemos. Nas palavras de Freud, criador da psicanálise, o tratamento psicanalítico nos permite deixar de sermos estúpidos em como vivemos.
            Essa possibilidade de sair desses labirintos e deixar de ser estúpido ocorre porque no tratamento temos a chance de repensar como nos colocamos frente à vida e suas adversidades. Assim não precisamos repetir o passado. É fato que o futuro será sempre o passado se não modificarmos o presente. Em outras palavras, vamos nos repetir sem parar enquanto não mudarmos o hoje.
            A psicanálise nos proporciona a possibilidade de construirmos uma nova vida, sem os mesmos vícios do passado para que vivamos com mais qualidade. Isso é um processo que precisa de tempo para acontecer. Não tem como se dar de uma semana para outra, mas necessita de tempo para que as mudanças vão realmente se instalando. Difícil e árduo esse caminho de se estar numa análise, mas vale muito a pena para não termos que viver com tanta ineficiência e pagando caro.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Pergunta de Leitor - Amor ou Lei da Gravidade?

Arte: @dalton.albertin


Tirando os elementos fisiológicos (hormonais) envolvidos numa paixão, porque é tão difícil parar de amar uma pessoa por mais que ele se mostre indisponível e desinteressado em você? Até que ponto esse sofrimento está fora do nosso controle? Nos últimos dois anos minha vida tem sido ser um satélite desse cara, que por acaso é meu melhor amigo e com quem eu moro. Mas eu tô exausto desse sentimento. Do sofrimento que isso causa. É possível eu e ele sermos amigos íntimos e ter uma amizade intensa sem que eu sofra por amar ele? Ou me afastar dele e mudar a minha vida do avesso seria a única solução? Nós basicamente vivemos como um casal. Mas não somos um. Ele tem esse limite bem estabelecido. Somos apenas amigos. Ainda que transamos eventualmente. E todo o resto de nossa rotina seja a de um casal (exceto o posicionamento afetivo dele em relação a mim).


            Não mandamos em nossos sentimentos. O que sentimos está fora de nosso controle, mas o que vamos fazer com o que sentimos podemos, sim, lidar de uma maneira eficiente. Se sentir um satélite é deixar a sua vida de lado, afinal um satélite orbita ao redor de algo, está preso na gravidade de algo maior. Os planetas orbitam o sol, pois a força gravitacional deste “capta” os planetas mantendo-os numa posição definida. A questão agora é você compreender porque será que você fez desse sujeito algo tão grande que te capturou?
            Você gosta dele, claro, sente atração, mas não sabe qual a sua posição com ele. Amigos vocês não são porque amigos não transam. A amizade é uma relação que não envolve o sexo, mas namorados vocês também não são porque ele não assume. Na verdade, você está no limbo, nem uma coisa nem outra, e isso vem lhe trazendo sofrimento. Ele não é o sol para te prender em sua força gravitacional, mas quem te prende então? A resposta é você mesmo!
            Não escolhemos por quem sentimos atração e afetos. Até aí tudo bem, mas por que será que você insiste em alguém que nas suas próprias palavras se mostra indisponível e desinteressado? Você se coloca nessa posição e persiste nela mesmo que às custas de sofrimento. Também segundo você ele já estabeleceu que não quer um relacionamento, mas você espera que algo mude. Para ele, parece, está muito bem e cômodo assim. Quem está incomodado é você e deverá partir de você uma mudança. Deverá primeiro saber de verdade o que você quer. Ser amigo? Para isso terá que abrir mão do sexo com ele definitivamente e abandonar o desejo por um namoro. Ser namorado? Deverá ser franco com ele e botar as cartas na mesa sobre como você se sente.
            Seja qual for a sua ação não saberemos antecipadamente quais serão as consequências. É pagar para ver. No entanto, o que lhe é prejudicial é ficar orbitando ao redor de algo que não mudará. Hoje você não o tem nem como amigo nem como companheiro. Vivem e não vivem e com isso prolonga o seu sofrimento. Que tal sair de órbita?

quarta-feira, 20 de março de 2019

Palestra gratuita sobre "Felicidade"


No próximo dia 28 de março, às 19h30, estarei no Espaço Multiplique, em Londrina, ministrando a palestra "Felicidade Possível e Impossível". O evento é uma oportunidade para falarmos abertamente - e sob a perspectiva da psicanálise - deste assunto tão desejado mas, por vezes, mal compreendido.

O que as pessoas, sem exceção, mais querem e buscam na vida é a felicidade. Entretanto, a imensa maioria nunca a encontra. Às vezes encontram alegrias, mas um estado de felicidade mais perene e verdadeiro é raro. Isto ocorre porque o que entendemos por felicidade - e a busca por ela - vem nos trazendo enganos.

Estamos procurando por uma felicidade impossível, cujo único resultado é um permanente estado de infelicidade. Que tal refletirmos sobre o que é felicidade possível e impossível?

As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no site do Sympla.

Serviço
Palestra: Felicidade Possível e Impossível
Data: 28/03/2018
Hora: 19h30
Local: Espaço Multiplique - Rua Senador Souza Naves, 771, sala 2
Inscrições: https://www.sympla.com.br/palestra-gratuita-felicidade-possivel-e-impossivel__474763

segunda-feira, 18 de março de 2019

O guarda-chuva e a Preparação para o Amor




            Numa pequena vila que passava por uma severa seca muitos dos seus habitantes sem saber mais o que fazer decidiram organizar na igreja local um grupo de orações para pedir à Deus pela chuva. O padre se colocou em frente de todos da comunidade para dar início às orações, mas antes olhou para as pessoas lá reunidas. Viu muita gente se cumprimentando, fofocando, contando as últimas, reclamando e falando mal dos vizinhos até que seu olhar se demorou sobre uma menina que estava sentada e muito concentrada em suas orações. Ao olhar mais detidamente percebeu que ao lado dela havia uma guarda-chuva. Ele sorriu percebendo que ela era a única que havia vindo com uma guarda-chuva pois esperava que a seca terminaria a qualquer momento mesmo sem saber quando.
            No amor isso acontece frequentemente. Muitos querem um companheiro ou companheira e reclamam em alto e bom som que estão se sentindo sozinhos e tal, mas nunca se preparam para o amor. Preparar-se para o amor é cuidar de si mesmo, é desenvolver-se. Não basta apenas querer uma namorada ou namorado, pedir em orações ou fazer simpatias. Isso tudo não nos prepara para reconhecer e tirar o melhor proveito do amor quando este surgir.
            Não sabemos nem mesmo quando o amor poderá aparecer já que isso não está dentro do nosso controle. Agora, por outro lado, quando cuidamos de nós mesmos, de nossas vidas algo acontece. Ao nos desenvolvermos ficamos mais apaixonados pela vida, mais interessados nela e isso nos enriquece verdadeiramente a tal ponto que uma hora chega que alguém também interessante se sente atraído por nós. A nossa vitalidade e energia é o melhor chamariz para um amor bom nascer. Preparar-se para o amor é viver bem a vida. Não há outro jeito.
            Não controlamos o amor assim como não controlamos a vida.  Não adianta rezar, fazer mandingas e reclamar. Isso só nos tornará cada vez mais descrentes de nossas potencialidades e cada vez mais menos atraentes. Na mitologia grega o deus do amor, Cupido, era um moleque zombeteiro e incontrolável. Ele atirava as flechas quando bem queria e entendesse e não era suscetível aos desejos e pedidos dos mortais. Entretanto, quando ele via alguém preparado lá ia ele mirando o alvo e dando início a uma nova história de amor. Melhor que pedir por um amor é melhor se preparar para quando ele vier e nos pegar.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Pergunta de Leitor - Quando o mundo Desaba



Tenho 19 anos e minha vida já desabou. Foi de mal a pior: acabou a escola, não consegui entrar na faculdade que tanto queria e lutei para conseguir, não consegui manter meu emprego que me sustentava financeiramente, nunca dei certo com ninguém, ninguém nunca me amou e perdi a vontade de viver. O que fazer? Tenho vontade de morrer. Me diga porque tenho que continuar vivo? Me prove que vale a pena continuar nessa vida? O que tem de bom na p**** dessa vida?



            A vida desabou, nas suas palavras. Você enfrenta adversidades como qualquer outra pessoa no mundo. E como qualquer outra pessoa no mundo precisa continuar lutando. Por que com você teria que ser diferente? A ideia que você tem de como tem que ser a vida, sem desgostos, não é real e só lhe traz sofrimentos desnecessários.
            Para alguém tão jovem há muito pessimismo em você. Você dispõe de tempo, uma das mercadorias mais valiosas da vida, já que não pode ser comprada, para seguir adiante em trabalhar e construir o que tanto quer e precisa. A vida não acabou, o que acabou é a vida que você conhecia e que agora  pede por reformulações.
            A ideia que você me passa ao ler sua mensagem é que há muito ódio em você. Ódio de que as coisas não funcionam como gostaria e de que elas são independentes da sua vontade. Você que terá que se adaptar à vida e não ela a você. A vida exige que você lute e se recrie em cada adversidade que encontra. Parece que você quer fugir disso.
            Quem lhe disse que viver é fácil? Ou de que viver é algo que não implica em tolerar frustrações? É mais fácil deixar de viver. Muito mais fácil. Contudo, nem sempre o caminho mais fácil é o que precisamos trilhar. Você precisa aprender a tolerar e aceitar mais as frustrações que a vida sempre impõe. Em outras palavras, você precisa crescer e amadurecer para enfrentar a vida com mais eficiência. Atualmente você vive de maneira ineficiente e sofre além da conta quando não precisa ser assim. Vale refletir como você vem vivendo o seu ódio.

segunda-feira, 11 de março de 2019

A Paixão pela Ignorância




            Muito se tem falado sobre sobre educação sexual para crianças e adolescentes ultimamente. Infelizmente, um assunto tão importante quanto este é tratado com tanta paixão que fica deturpado. A paixão a que me refiro aqui é a paixão pela ignorância. Nos dicionários ignorância é definida como “estado de quem não está a par da existência ou ocorrência de algo, estado de falta de conhecimento” e o que mais vemos é o quanto esse assunto sobre a sexualidade para crianças e adolescentes é algo envolto em uma névoa escura que traz inúmeros prejuízos a todos os envolvidos.
            Aqueles que são contra uma educação sexual nas escolas e em livros justificam que ela é um incentivo à sexualidade, que se tira a inocência dos jovens levando-os à uma vida sexual promíscua. Ora essa, o objetivo de uma verdadeira e séria educação sexual é justamente levar informações para que os jovens se protejam do que vão encontrar no futuro em suas vidas. A sexualidade, queira ou não, é algo que faz parte da vida dos jovens e eles precisam ser preparados para vive-la bem.
            Quanto mais se evitar falar sobre sexualidade não vai fazer com que os jovens se esqueçam dela. Eles a viverão e a experimentarão de qualquer maneira. E se houver informações que os ajudem a pensar e refletir sobre o que é viver uma vida sexual, mais eles estarão preparados para não cair em armadilhas e não meterem os pés pelas mãos. Deixar de falar, não abrir espaço para conversar não extirpa a sexualidade, apenas a deixa mais obscura, mais perigosa.
            Os jovens viverão a sexualidade, isso é certo, mas como queremos que eles vivam essa experiência? Com que qualidade? Enquanto a sexualidade for tratada como algo que se deve descartar e como algo ruim vamos todos continuar caindo na infelicidade. Ninguém pode ser feliz quando se nega aquilo que é natural, aquilo que é da natureza. E a sexualidade é parte da nossa natureza. Freud, criador da psicanálise, nos ensinou que a sexualidade já começa muito cedo na nossa vida física e psíquica. Desde que somos bebês, para dizer a verdade. Claro que se trata de uma sexualidade embrionária e infantil, ainda com características muito peculiares, mas mesmo assim sexualidade do mesmo jeito.
Quando negamos a importância de cuidar do meio ambiente, por exemplo, de se fazer com ele o que se bem entende sem nenhum cuidado o que vemos é o surgimento de tragédias, secas, enchentes, mudanças que trazem muito sofrimento. Não adianta negar o meio ambiente, ele existe, precisamos encara-lo, aprender a lidar com ele de forma eficiente para que possamos todos encontrar uma maneira equilibrada de viver. Com nossa sexualidade também funciona assim. Quanto mais se nega a sua existência, mais trágica ela se dará.
O atual governo quer tirar a educação sexual da pauta das escolas e de livros, quer retirar-se também do Acordo de Paris, que versa sobre a necessidade de se cuidar do meio ambiente com mais zelo. Será que a paixão pela ignorância vai ser o tom para o que vamos nos deparar? Para Buda a pior coisa que poderia haver era a paixão pela ignorância. Tristes tempos.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Pergunta de Leitora - Cada um tem seu Limite

Arte: @dalton.albertin



Sou casada e amo meu marido. Nós temos uma vida sexual bem saudável, eu faço tudo pra agradar, não sou quadrada, mas agora ele me pediu para fazer uma coisa que eu não sei se eu vou conseguir. Ele me disse que quer me assistir a transar com outro homem. Como pode isso? Em um primeiro momento eu disse que não seria possível, porém como ele vem insistindo muito tenho pensando: vai que isso pode ser agradável? Mas como eu nunca fiz eu não sei nem por onde começar. O que pensa disso e o que acha que devo fazer?

            As fantasias sexuais são várias e nenhuma delas é ruim ou inadequada enquanto forem entre adultos e por livre e espontânea vontade. Algumas delas podemos pôr em prática enquanto outras é melhor que permaneçam apenas como fantasias a nunca serem realizadas. O que vai definir para uma dada fantasia ser ou não experimentada é o limite pessoal de cada um. Jamais temos como ultrapassar nossos limites sem pagar um preço alto demais.
            Me chama atenção que você diz que faz tudo para agradar e que não é quadrada. O que será que isso quer dizer? Soa como uma justificativa para explicar que você é uma boa mulher. Porém, o que é ser uma boa mulher? É aquela que agrada o parceiro? Pode ser, porque quem ama quer agradar o outro, mas quem ama nunca obriga o outro a fazer o que não quer ou o que não pode. Será que seu marido está insistindo em algo além do seu limite?
            Você não tem a obrigação de agradar o seu marido quando isso lhe é impossível. Ninguém pode fazer o impossível. Se ele não entender é porque não te ama e nem te respeita. A sua ideia em ceder à fantasia dele tem mais a ver em querer agradá-lo do que ser algo verdadeiramente compartilhado entre vocês. Caso você ceda poderá odiar seu marido e o pior, a si própria. Quando fazemos algo obrigado criamos um ressentimento que pode não ter mais volta.
            A vida sexual deve ser sempre uma fonte de prazer e nunca de infelicidades. Você tem o direito tanto de dizer não quanto sim. Acredito que você já saiba disso e por isso me escreveu pedindo minha opinião. Está na hora de rever como você se coloca frente ao seu marido para que ele venha a entender que num casamento não é só o desejo de um que deve prevalecer.

sexta-feira, 1 de março de 2019

Pergunta de leitor - Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

Arte: @dalton.albertin


Tenho 18 anos e sofro muito na vida. Não tenho dinheiro para ir ao psicólogo. Também tenho vergonha de falar como me sinto aos outros. Tenho TOC, sinto muita ansiedade e sensação de vazio na vida, tristeza e desespero, como se fosse perder a cabeça. O que posso fazer? Queria sumir? Queria dormir e não acordar mais.

 

            Me parece que você fica num beco sem saída. Veja: você não tem dinheiro para ir ao psicólogo, mas se tivesse também teria vergonha de falar sobre o que sente aos outros. Percebe? Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

            A questão presente aqui é começar a compreender porque você se coloca nessa posição tão difícil. O lugar que você se coloca é tal qual como se você estivesse além da ajuda. Todavia não precisa ser assim.

            TOC, ansiedade e sensação de vazio são os sintomas que você reconhece, mas o que falta é dar um sentido para todos esses sintomas. Os sintomas não surgem à toa, mas como forma de lidarmos (ineficientemente) com as questões da vida. Investigar a origem dos sintomas é que te ajudará a transformar a maneira que vem vivendo.

            Para isso precisa da análise porque só ao se debruçar sobre a sua história e sobre os nós cegos que foram criados ao longo da sua vida poderá compreender melhor o que se passa e como mudar o que não te faz bem. Querer sumir é fácil, mas como não é possível só resta mesmo aprender a lidar com tudo isso. Ao invés de dormir, que tal despertar? Há muitos lugares que você pode procurar ajuda profissional sem ter dinheiro. Há saídas, mas o que importa é se você aceita sair do que já conhece e ir em direção àquilo que ainda lhe é desconhecido. Esse beco sem saída não existe na realidade, mas dentro de sua mente.