segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Convenções


            É muito comum encontrar analisandos que cobram de seus analistas um diagnóstico. Querem ser “enquadrados” em alguma palavra dos manuais de patologia. Mesmo aquelas pessoas que dizem que não ligam nada para a questão do diagnóstico, ás vezes, desejam que lhe sejam dadas algum nome de algum distúrbio. Isso acontece porque as pessoas, de maneira geral, querem se apegar a alguma coisa, querem uma palavra para o que lhes acontece e um nome para o que sentem, ao invés de se descobrirem e se construírem.
            É bastante comum, também, encontrar analisandos que se perguntam com freqüência se são normais. Como se normalidade pudesse ser algo palpável, mensurável e que dissesse alguma coisa. O que no fundo acontece nisso tudo é o desejo das pessoas de se enquadrarem em algo. Para algumas é insuportável não se saber pertencer em algum tipo de descrição. Não é a toa que hoje transbordam pseudos diagnósticos como bipolar, depressivo, borderline, etc. É um festival de diagnósticos que só serve mais para atrapalhar do que ajudar.
            Os diagnósticos podem ser bastante úteis para o profissional pensar e estudar seu trabalho, porém não devem ser dados a torto e a direito. Diagnóstico em si não quer dizer muita coisa e precisa-se de tempo para ser elaborado com respeito. Portanto, não é algo que deveria ser “distribuído” com tanta falta de cerimônia. Muito mais importante do que o diagnóstico em si é a pessoa que está ali procurando ajuda. Isso, sim, é o que importa: a pessoa. Tanto que não se vai tratar do diagnóstico, mas da pessoa. 
            A busca por diagnósticos e pela normalidade é um engano. Isso diminui a pessoa e exalta a tipificação. Quando isso acontece as palavras passam a ter um sentido perverso e servem para encobrir as singularidades e características das pessoas. Em vez de serem convidadas a se descobrir e usar suas potencialidades, a pessoa que se apega ou é levada a se apegar ao diagnóstico se empobrece, pois fica tão agarrada a uma ou algumas palavras que se esquece de ver o que tem de bom e em potencial dentro de si. O que deve importar na vida é se realizar e não ser normal ou possuir um bom diagnóstico. O bem viver deve estar acima de qualquer convenção.

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