terça-feira, 18 de abril de 2023

Somos todos (ir)responsáveis


Não há jeito de não olhar tristemente para os acontecimentos recentes de ataques nas escolas aqui no Brasil. Aquilo que achávamos que acontecia apenas lá fora, num lugar distante, está presente em nosso país, estados e cidades. Compromete a vida de todos, tanto das crianças que sofreram o ataque, de suas famílias, funcionários e educadores como também afeta gerando medo e insegurança nas crianças, jovens, familiares, funcionários e educadores de todas as escolas por aí. Ninguém sabe se e onde ocorrerá o próximo massacre. É mesmo algo de tirar o sono.

Diante de tais atos de violência ficamos perplexos e impotentes. Já há violência demais com roubos, furtos, agressões, etc, mas agora adiciona-se mais esse que são os ataques nas escolas. Há várias explicações e razões, mas nenhuma é definitiva, ou seja, não sabemos por onde começar a evitar todo esse problema de maneira eficaz. Quando sabemos que algo ocorre por causa disso ou daquilo podemos tentar tomar algumas providencias que sejam certeiras, mas quando é tudo muito vago, sem nitidez do que está realmente ocorrendo fica-se muito mais difícil e nos sentimos vulneráveis e atordoados.

Há desde explicações sociais, econômicas e culturais que são, certamente, fatos reais e que devem ser levados em consideração, mas também há algo muito mais sutil que muitas vezes relutamos em ver que é a própria condição humana. Freud, criador da psicanálise, em 1930 escreveu o brilhante texto “O mal estar na civilização’ onde discorreu sobre a agressividade que existe dentro de cada um de nós. Ninguém de nós está isento dessa agressividade que pode irromper a qualquer momento nos transformando em verdadeiras bestas. Não somos seres angelicais, mas também não somos seres demoníacos. Somos humanos e precisamos aprender a lidar com a humanidade em nós.

Freud afirma nesse texto que só é possível haver uma civilização se houver uma contenção dos impulsos agressivos que existem dentro de nós. Dentro de cada pessoa, falando a grosso modo, há um conflito se expressando entre a pulsão de vida e a pulsão de morte e esse mesmo conflito se expressa na sociedade. A pulsão de vida se manifesta por tudo aquilo que pode ser construído, reunido e integrado enquanto a pulsão de morte é tudo aquilo que desintegra, aniquila e busca um estado de não-estímulo, de não vida. A violência é resíduo da pulsão de morte.

Quando ataques como ocorreram nas escolas são cometidos e muitas outras situações aterrorizantes que presenciamos no dia a dia são corriqueiras fica-se a impressão que estamos todos falhando na organização das sociedades como também na organização da nossa própria vida mental. Não sei se para esses ataques há uma explicação apontando para isso ou aquilo que precisaria ser melhorado ou se podemos ver isso como algo que precisamos (re)pensar como vivemos dentro de nossas famílias, nas escolas e nos lugares que frequentamos. Como estamos desenvolvendo nossos laços afetivos, como tratamos os outros e a nós mesmos? Como lidamos com nossa vida mental que embasa todos os nossos relacionamentos? Há muitas coisas a serem analisadas e avaliadas. Estamos falhando nitidamente em lidarmos de maneira eficiente com nossa humanidade. Somos todos responsáveis.


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