Dá para se notar que é alto o número de pessoas que fazem uso de remédios psiquiátricos. Praticamente dentro de toda família tem alguém ou até mesmo mais de um que toma remédios psiquiátricos controlados. Antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores e mais isso e aquilo. Nunca essa classe de medicamentos foi tão usada e abusada quanto agora e isso merece uma boa reflexão. Vejo que há dois motivos para esse excesso.
O primeiro deles é que hoje em dia há toda uma evolução nesses remédios que antes não existia. Há remédios muito mais eficientes e que quando bem usados podem fazer um divisor de água nas vidas de muitas pessoas que sofrem com diversos tipos de distúrbios. Temos que ser honestos e justos: os remédios psiquiátricos também são aliados importantíssimos para muitos casos e sem eles muitas pessoas não teriam o mínimo de qualidade de vida. Ninguém precisa sofrer desnecessariamente se há recursos válidos para ajudar alguém a ficar bem ou pelo menos melhor em seu sofrimento. Então, vamos deixar claro que para muitas situações esses remédios são instrumentos que viabilizam uma qualidade de vida imprescindível. E por isso mesmo, por haver vários tipos de remédios eficientes, eles acabam sendo mais utilizados do que jamais foram
No entanto, quero chamar atenção para outro lado bem obscuro e preocupante. Quando esses mesmo remédios não são usados simplesmente, mas são abusados. Viram a panaceia para todos os males. O que temos aqui é algo de outra natureza. Não tem mais a ver com tratamento sério e eficaz, mas com escapismo simples e puro. O ruim é que vivemos atualmente uma epidemia de abusos desses medicamentos e isso é muito prejudicial.
Para muitas dores há remédios eficientes e recomendáveis, para outras dores não há química possível, mas necessita-se de outra abordagem para tratar delas. Muitos dos nossos sofrimentos psíquicos não podem ser “varridos” e “eliminados” das nossas vidas com ajuda farmacêutica, porém podem ser elaborados e transformados através da mente para que fiquemos mais fortes e capazes nessa vida para lidar com tantas adversidades. Sem desenvolver uma mente por mínima que seja ficamos incapacitados para lidar com a vida, com o que sentimos, com nossos desejos e angústias.
Tornar-se humano tem a ver com desenvolver uma mente que dê conta de pensar as experiências de vida, de digeri-las. Quando digo mente não me refiro à mente lógica, intelectual, mas a mente que nos possibilita pensar de fato a vida. Há muita gente bem inteligente que não tem mente desenvolvida e sofrem muitos sofrimentos intensos e que minam suas vidas.
O grande problema é que entrar em contato com a dor da vida é algo que dá medo e assusta. Não é à toa então que os remédios psiquiátricos são utilizados indiscriminadamente para entorpecer e assim não nos deparamos com aquilo que é nosso e precisa ser enfrentado, com tudo aquilo que é humano e que se pensado nos enriqueceria muito. Todos querem evitar as dores, mas não compreendem que nem toda dor é uma inimiga em si. Ela pode ser algo que nos leve a mudar, a transformar muitas coisas em nossas vidas. Mas se alguém está ‘anestesiado’ não vai poder pensar a própria vida e ficará sempre refém da medicação.
Precisamos reavaliar como lidamos com nossas dores.
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