domingo, 2 de abril de 2023

Etarismo, quando a juventude é hiper valorizada

 


A situação de preconceito para com a idade de uma universitária em Bauru deu o que falar pelo país afora. Ainda bem. Algumas situações devem mesmo ganhar relevância para que possamos pensar sobre elas. É pensando e refletindo que as coisas podem mudar. O etarismo, preconceito com idades mais avançadas, já não pode ter mais lugar.

Esse preconceito ocorre porque a juventude é hiper-valorizada. Os jovens estão repletos de energia, naturalmente, e cheios de ousadia e novidades. É muito bom quando os jovens têm participação ativa na sociedade e questionam coisas que antes eram inquestionáveis. O novo pode ser bem-vindo e transformador. Os jovens, com seus sonhos e inspirações, são fundamentais para soprar uma brisa fresca e contemporânea para como funcionamos na sociedade. 

O mundo não pode ser apenas uma coleção de velharias e ficarmos fixados apenas no que já existe e já é conhecido. Há inúmeras necessidades de progressos e avanços. A juventude tem muito a contribuir. Porém, ela também tem muito a aprender. 

Não bastam apenas inspirações e arrojos. Caso contrário vira-se petulância, arrogância e até mesmo desaforo. Em outras palavras, vira mera má educação. Com educação não me refiro aos conhecimentos intelectuais, mas a maneira que nos relacionamos com o mundo e os outros. Uma pessoa má educada é na verdade uma pessoa sem educação emocional alguma. Não sabe como lidar com o que sente e pensa e geralmente acaba caindo na insolência pura e simples.

Os jovens têm muito o que aprender, como já dito acima e uma das coisas mais importantes a aprender é como lidar com a realidade. Se existir apenas idealizações a realidade pode não ser levada em consideração e isso é sempre um mau negócio. Se as ideias não darem a mão para se juntar com a realidade não haverá transformações de fato, contudo apenas ilusões, lindas na teoria, mas ineficazes na prática. 

Uma ilusão que muitos jovens têm é a de que a juventude é a coisa mais importante do mundo. Ser jovem tornou-se status quo e quem vai ganhando idade vai sendo considerado que passou do ponto, que já não tem mais nada a oferecer e contribuir. A juventude super valorizada é nefasta e cria preconceitos desnecessários e crueis. 

Corpos jovens são desejados e buscados, em alguns casos, com desespero. Há toda uma ‘indústria’ que prega que devemos parecer jovens o maior tempo possível. Isso acaba se tornando uma tortura. Alguém mais velho parece que se torna um estranho. Todavia, envelhecer é inevitável, mas o que importa é como vamos envelhecer. Podemos envelhecer tentando ridiculamente parecermos jovens ou podemos envelhecer amadurecendo.

A universitária que sofreu preconceito em Bauru não era velha e mesmo se fosse e daí? Ela não poderia iniciar uma fase nova? Interesses novos? Hoje a idade está bem mais elástica e não é impeditiva para uma pessoa mais madura descobrir e desenvolver novas forma de vir a ser. A atriz Michele Yeoh, ganhadora do Oscar agora em 2023, disse em seu discurso de vitória para que não se permita que ninguém diga que a sua melhor fase já passou. Isso foi dito a ela quando ela tinha 50 anos e agora aos 60 anos ela ganhou o oscar. Imagine se ela tivesse acreditado nesses preconceitos tolos? Juventude, é acima de tudo, um estado de espírito que se permite ir adiante e não uma questão cronológica. 


Um comentário:

  1. Dr. Envelhecer está se tornando um castigo ! Felicito a moça porque pra ela tornou-se um prêmio e ao senhor por brilhantemente tocar nesse assunto. Realmente há uma gostosa de que os mais idosos,ouviram músicas sensacionais, leram livros magníficos, ( se perguntar para alguns jovens , eles nem sabem que existe o prêmio Nobel de Literatura) .Cultivar a vida em busca de um auto conhecimento. É tudo de bom. Bom dia.

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