Foto: Elyas Pasban on Unsplash
Um amigo meu que foi à praia me contou de uma observação sua. Pela praia estar lotada muitas pessoas ficavam próximas umas das as outras e cada grupo tinha consigo uma daquelas caixas de som ligadas por bluetooth ao celular para tocar músicas. O volume era estratosférico e ficava uma cacofonia que meu amigo disse que se sentiu intoxicado de tanto barulho. Realmente, uma coisa é escutar música, outra bem diferente é fazer barulho. Lamentavelmente, as pessoas fazem e escutam mais barulho do que música em si.
Aliado a essa observação do que se passava na praia, percebi no aeroporto onde estive esperando por um vôo uma moça que falava com todo mundo. Ela não conseguia parar de falar e discorria sobre os mais variados temas. Percebi que algumas pessoas que não estavam à vontade com ela e sua verborragia. Ela não notava que estava sendo inconveniente. A sensação que ela passava é que ela não conseguia ficar quieta. Não conseguia, em outras palavras, ficar consigo mesma.
Pensando sobre essas duas observações acima dá para constatar o quanto é difícil para muitas pessoas o silêncio. Elas fazem barulho, ruídos, seja falando sem parar seja ouvindo coisas continuamente. Estar em silêncio é um estado que permite que uma pessoa se escute. Não é à toa que inúmeras pessoas temem ficar sós, já que quando estamos sós estamos na verdade com nós mesmos e temos a oportunidade de nos escutarmos. Há pessoas que fogem de qualquer situação em que ficam sós tal como o diabo foge da cruz.
Escutar-se pode ser difícil e doloroso. Sabermos de nós mesmos não é uma experiência fácil. Tendemos e também estamos habituados a “escapar” de tudo aquilo que é nosso. Buscamos distrações as mais diversas para não termos que nos dar conta do que sentimos, para não termos que lidar com a nossa natureza interna. Num processo analítico é muito frequente que muitos analisandos, por exemplo, fiquem com medo de em um dado momento na sessão ficarem em silêncio, um medo de escutarem o que muitas vezes sempre foi evitado escutar internamente.
A moça que presenciei no aeroporto não mantinha uma conversa com as pessoas que ela se dirigia, mas fazia um discurso. Uma conversa requer que haja interação, ou seja, interlocutores, mas no discurso não, precisa-se apenas de plateia, de audiência. Ela pegava alguém e supostamente iniciava uma conversa, mas ficava tal como uma hemorragia porque ela não parava de falar um minuto sequer por, ao que tudo indica, ter medo de ficar consigo mesma.
Na praia que meu amigo foi, a guerra de som a que cada grupo contribuía aumentando o volume e deixando o ambiente um desordenado estardalhaço mostra o quanto parece custoso suportar ficar consigo próprio e com os próximos que estavam juntos. O barulho, nesses casos, servia como algo que impede um de escutar o outro. A fala era gritada e deveria deixar todos cansados prejudicando a comunicação entre eles. Talvez o objetivo inconsciente era justamente esse: barrar a comunicação de uns com os outros e principalmente de cada um consigo próprio. Quanto mais ruídos e barulhos menos precisamos nos escutar.
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