domingo, 23 de janeiro de 2022

Análise do filme Encanto (2021): Quando a Casa cai

 


A animação da Disney Encanto (2021) é um daqueles filmes para toda a família e não só para as crianças já que nele conta-se a história de uma família com um funcionamento bem peculiar, mas que está ruindo. É um chamado de alerta para muitas famílias. A mensagem da animação é uma que deveria ser muito bem compreendida, porém assistimos tais coisas mais como uma simples distração e não como uma diversão bastante inteligente.

A família retratada na animação é comandada pela matriarca que no passado passou por um trauma muito doloroso e ela tomou para si a tarefa de fazer sua família triunfar e prosperar. Cada membro de sua família recebia um “dom” mágico, um talento que era usado para o benefício de todos, tanto da própria família quanto da comunidade em que viviam. Contudo, uma menina muito espirituosa quando chega na idade de receber o seu dom mágico não o recebe e ela fica meio que marcada como alguém de fora, alguém que não cumpre os desígnios que se esperava dessa incrível família. Essa menina, Mirabel, cresce e se sente excluída e realmente é excluída principalmente pela sua avó, a matriarca, que não aceita o fato de sua neta não ter recebido nenhum dom mágico para acrescentar à coleção de dons da família.

Todavia, apesar de cada um possuir um dom eles estão cansados e carregam dentro de si um desejo por viver de maneiras diferentes e mais livres, mas que iriam contrariar sua tão amada avó. A casa em que moram começa a rachar, começa a mostrar que as coisas não são tão perfeitas quanto se imaginavam. A metáfora para as rachaduras da casa é mostrar as rachaduras que havia nos relacionamentos familiares. Algo não estava se sustentando mais.

Em muitas famílias apesar de haver grande amor há também certo aprisionamento entre os seus membros. Pais desejam que seus filhos sejam isso ou aquilo e quando estes contrariam os desejos dos pais, ás vezes, formam verdadeiras rachaduras dentro da dinâmica familiar. Desejar pelo outro e se impor ao outro cria situações de ruptura que machucam muita gente. Muitos pais, avós e até mesmo filhos em relação aos pais desejam uns pelos outros formando prisões e pressões desnecessárias.

Imbuído das melhores intenções muitas vezes decidimos o que é o melhor para o outro, só que como já diz um antigo e sábio ditado “De boas intenções o inferno está cheio”. Mesmo que alguém esteja carregado das melhores intenções possíveis desejar pelo outro e impor que o outro tenha que ser de um jeito determinado acaba produzindo uma prisão muito pesada. Quantas famílias não vivem assim?

Quando prevalece sobre o amor a idealização de como cada um dentro da família tem que ser, a casa cai mesmo. Primeiro haverão rachaduras que irão aumentar cada vez mais até tudo desmoronar. Uma casa/relacionamentos ruindo devem ser reconstruídos, só que agora de uma maneira bem melhor, bem mais verdadeira, bem mais estruturada, ou em outras palavras, devemos abrir mão das idealizações e deixar que cada um seja quem tiver que ser. Só pode haver amor e felicidade se houver liberdade para se ser quem se é. O amor deve sobressair sobre qualquer ideia de casa/lar que muitas vezes carregamos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário