domingo, 6 de fevereiro de 2022

Análise do filme Não Olhe para Cima (2021): Verdade nua, crua e inconveniente


O filme da Netflix Não olhe para cima, do final do ano passado, é um daqueles produtos midiáticos que trazem mensagens importantes para como o mundo vem se conduzindo e chamando atenção para o fato de que se não mudarmos a rota o resultado vai ser trágico.

No enredo, um cometa gigante que está prestes a colidir com o planeta causando destruição total, mas esse fato é negado de todas as maneiras. Ninguém quer saber de notícia ruim e todos querem “dourar a pílula” se afundando em prazeres e em jogos de poder. Os políticos no filme estão preocupados com suas necessidades mesquinhas mais imediatas e pouco se importam com o que a ciência tem a dizer do que estão enfrentando. Qualquer coincidência com o que vivemos não é mera coincidência.

Vivemos atualmente uma sucessão de negações dos mais variados tipos: dos efeitos da mudança climática, do coronavírus, da eficiência das vacinas, etc. Negar aquilo que é obvio é sempre caminho certo para a tragédia. Quando negamos aquilo que está à vista, mas que insistimos em não enxergar, não tem como acabar bem. Olhem para a vida pessoal de vocês: quando vocês negaram alguma coisa em suas vidas pessoais isso não acabou aumentando de tamanho e se tornando pior? Com certeza sim.

Para o psicanalista Wilfred Bion (1897-1979), um dos grandes nomes da psicanálise, a verdade é importante porque é o alimento da mente. Sem verdade a mente não tem como se desenvolver porque o que sobra são alucinações. Verdade e alucinação não andam juntas e seus caminhos jamais se cruzam. Quando negamos estamos fazendo uso das alucinações e não da verdade.

Porém, ai de quem dizer a verdade! A verdade é sempre persona non grata já que incomoda muito. Uma matéria da revista Veja de 17 de novembro de 2021 mostrou que cientistas dedicados aos estudos da vacina e remédios foram hostilizados das mais variadas formas por dizerem a verdade. Receberam ofensas e atitudes violentas porque ousaram falar fatos comprovados que frustravam as alucinações de quem não queriam ser contrariados. Me lembra quando Copérnico ousou falar que o sol era o centro do sistema solar e não a Terra ou quando Darwin propôs a teoria da evolução. A verdade sempre incomoda.

Freud, criador da psicanálise, sabia muito bem disso, tanto que ele sofreu muitas ofensas e violências por ter criado a psicanálise que se ocupa sempre com a verdade. Uma pessoa que se coloca em análise se depara com as próprias verdades de sua vida e se não conseguir tolerar o que enxerga provavelmente vai parar o processo e dizer que de nada serve essa tal de psicanálise. Contudo, só podemos crescer quando lidamos com a verdade, só podemos nos desenvolver quando nos ocupamos e toleramos aquilo que é verdadeiro.

Para se expandir a mente precisa de alimento e sem este (a verdade) ela fica desnutrida. No filme mencionado quero chamar atenção para um fato. Um aplicativo muito certeiro desenvolvido por um gênio da tecnologia sem coração algum previu como seria a morte de dois personagens. Uma delas se concretizou como previsto, a outra não. Só não se concretizou a morte daquele personagem que se permitiu enxergar a verdade e aprender alguma coisa com ela: aprender a ver as coisas que realmente importam.


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