Imagine-se numa jornada de trem que
levará algum tempo para acabar. Você carrega consigo uma mala com seus
pertences. Entretanto, você comprou passagem apenas para você e não para a sua
mala e como você é bastante responsável não quer pôr a mala no chão, pois teme
perdê-la, então você a carrega em cima de sua cabeça. Assim você segue viagem,
com a mala tornando-se cada vez mais pesada. Obviamente essa viagem seria
extremamente desconfortável e nada prazerosa. Essa imagem é muito similar à
forma como muitas pessoas vivem.
Carregamos pesos que não
precisaríamos e angústias que seriam melhor postas de lado. Nos apegamos aos nossos
medos desmedidos, ansiedades intoleráveis e sofrimentos desnecessários como
alguém que carrega uma mala pesada que estorva. A grande maior parte do nosso
sofrimento são apegos que construímos ao longo da vida sem nem perceber que
poderíamos viver diferentemente. Quando nos apegamos ao que nos pesa achamos,
erroneamente, que estamos sendo cuidadosos e conscienciosos com nossos
problemas, mas ocorre justamente o contrário.
É fácil falar sobre não carregar os
problemas, mas como se faz isso? O erro está em pensar em se livrar deles. Não
temos como nos livrar dos nossos fardos e adversidades que sempre serão como
malas que nos pertencem. Contudo, o que podemos fazer é mudar nossa relação com
esse peso, transformar a forma como carregamos nossas malas/problemas. A
ansiedade que sentimos, por exemplo, não pode ser jogada fora, mas podemos
olhar para ela e tratá-la de maneira diferente e mais eficiente de modo que não
nos pese.
Com uma mala podemos pô-la ao nosso
lado para que assim não precisemos carrega-la toda hora. Estando próxima ela
poderá ser devidamente cuidada sem sobrecarregar sua cabeça e ombros. Com os
nossos problemas também funciona assim. Onde os colocamos? Que lugar damos a
eles na jornada de nossa vida? Uma das grandes belezas e utilidades da
psicanálise é nos fazer viver uma nova forma de colocar os problemas para que
não nos pese demasiadamente. A psicanálise não faz sumir os problemas, mas traz
outras perspectivas para aquilo tudo que se tornou um fardo e nos adoece a
ponto de não aproveitarmos mais a vida.
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