Numa famosa feira de tecnologia nos
EUA foi apresentado um produto novo feito por uma turma de engenheiras que deu
o que falar. O produto era um vibrador para mulheres cheio de características
inovadoras que, segundo se dizia, podia substituir um homem. O prazer
proporcionado por essa engenhoca tecnológica era garantido, o que nem sempre
acontece quando se trata de um acompanhante masculino. Inicialmente, o vibrador
foi saudado como revolucionário e aplaudido, mas depois de um tempo foi
retirado da feira e considerado obsceno e profano. Na verdade, foi um grupo de
homens que esteve por detrás dessa reviravolta fazendo a engenhoca cair do
Olimpo para o inferno.
A sexualidade feminina ainda não é
bem aceita. O fato é que de forma geral a sexualidade não é bem aceita, tanto a
masculina quanto a feminina. Os homens, apesar de parecer gozar de uma
sexualidade mais direta e livre, vivem tantos conflitos e inseguranças que não
dá para dizer que estão resolvidos nessa área. Homens e mulheres se
desencontram no campo sexual e vivem com muita pouca qualidade aquilo que é tão
importante para a vida.
Tradicionalmente, ficou vinculado
que a sexualidade masculina é dominante, agressiva, que os homens são mais
sexuais e vão atrás do que querem. Já às mulheres ficou reservado o papel de
submissas, passivas, não tão sexuais (até porque aquelas mulheres mais
sexualizadas eram consideradas como devassas) e que ficam sempre à espera dos
homens. Só que sexualidade não é isso. Aliás, isso tudo é uma limitação muito
grande da dimensão sexual que temos disponível em nossas vidas. Vivemos pobres
quanto à sexualidade.
No caso do vibrador acima ficou
escancarado o quanto os homens ficaram inseguros. Um aparelho que promete
prazer ao público feminino e até ser mais satisfatório que os próprios homens
fez com que muitos deles se movimentassem para condenar o produto e
qualifica-lo como algo ruim. Ora, se as mulheres se tornam mais satisfeitas,
mais realizadas, elas ficam cada vez menos submissas e isso representa toda uma
mudança no que tradicionalmente se fez valer. Homens e até mulheres temem muito
mudar a atual condição em que vivemos.
Em vários lugares no mundo mulheres
têm o clitóris extirpado. Alguns querem acreditar que isso é cultural, mas na
verdade não. É que mulheres mutiladas, humilhadas, acabam por ficar mais
submissas, não lutam por seus direitos e nem procuram mudanças na vida. Em
outras palavras, tornam-se sujeitas ao outro, tornam-se objetos e como tal
podem ser usadas. Tanto as religiões quanto a política no decorrer da história
sempre apresentaram fortes condenações à sexualidade. Um povo que não se
conhece (e viver plenamente a própria sexualidade é se conhecer mais) é
facilmente manipulado e em vez de serem pessoas livres ficam crianças
assustadas e dependentes.
A revolução sexual que se diz que
ocorreu na década de 60 não foi uma verdadeira revolução. Trouxe imensos
benefícios como métodos contraceptivos e maior liberdade, mas ainda há muito
por fazer. Ainda carecemos de uma verdadeira revolução na maneira que vivemos a
dimensão da sexualidade. Enquanto esta não acontecer vamos continuar sofrendo
muito e desnecessariamente. Homens e mulheres.
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