Minha irmã
é uma pessoa extremamente insegura. Dificilmente toma as próprias decisões.
Sempre recorre a minha mãe, a mim ou, agora, ao marido. Mesma eu sendo mais
nova me comporto como a irmã mais velha que cuida. Cresci ouvindo da minha mãe
que não podia contar tudo para ela (problemas financeiros de casa, entre outras
coisas) porque ela ficava muito impressionada. Sobrava pra mim. Atualmente ela
está com síndrome do pânico. Enfim, a gente sofreu um acidente de carro quando
ela tinha 4 anos. Eu tinha 2. A história que minha mãe conta é que ela voou do
carro e ficou embaixo dele, desacordada, num buraco “que o anjo da guarda fez”,
ou o carro a teria esmagado... mas conversando com minha madrinha esses dias
(irmã da minha mãe) ela disse que não foi assim. Que viraram o carro e minha
irmã estava acordada, de olho arregalado, totalmente em choque. Eu fiquei
pensando que esse fato pode ter a ver com a personalidade dela, mesmo ela não
se lembrando. Será que faz sentido? Tenho medo de contar pra ela e deixá-la
ainda mais impressionada sem motivo.
A
mente precisa de alimento para se desenvolver. Qual o alimento da mente? Para o
psicanalista W. Bion esse alimento é a verdade. Sem a verdade não há a menor
possibilidade de haver crescimento. A verdade dói com certeza, mas sem dor
também não há como crescer. Esconder a verdade, floreá-la, nunca é algo que
funciona de fato. Pode, pelo contrário, gerar muita confusão.
Obviamente
que a verdade não precisa ser contada de forma fria e jogada rispidamente. Isso
nada mais é que crueldade. Falar a verdade requer delicadeza e respeito.
Acontece, infelizmente, que muitas vezes queremos proteger aqueles que amamos e
ao invés de nos atermos à verdade a ocultamos com histórias mirabolantes. Assim,
uma ocorrência ruim e perigosa vira uma coisa mística, um milagre, uma mágica,
um evento fantástico ou simplesmente uma aventura. Acha-se que assim estará
protegendo quando está confundindo.
Sua
irmã, por ter passado por uma experiência traumática, foi cercada de uma
proteção sufocadora. Passou a ser tratada como coitada. Acreditava-se que ela
não podia mais se deparar com a vida, com os problemas financeiros, com as
dores, etc. Ela passou a ser vista por todos da família como uma eterna criança
indefesa e assustada. Ninguém mais acreditava que ela podia crescer. E parece
que ela mesma hoje não acredita em si própria.
Sua
irmã precisa de análise para que ela venha a se desenvolver de verdade. Ela
precisa aprender a criar seus recursos mentais para dar conta da vida e para
contar consigo mesma. Ela não precisa de anjo da guarda. Isso é o que contamos
às crianças, mas como adulta ela precisa dela mesma. Sua irmã também necessita
deixar de ser vista por todos como uma pobre criatura. Só vive em estado de
pânico quem não aprendeu a contar consigo mesmo.
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