segunda-feira, 18 de junho de 2018

Saco Sem Fundo




            A voracidade gera um estado de mente muito empobrecedor, bem como coloca quem o vive num beco sem saída. A voracidade leva à ganância e ao sentimento de que precisamos estar satisfeitos a todo momento e  a toda hora, sem espaço algum para frustração. A ambição desmedida mobiliza o sujeito a sempre ter mais e mais, sem que o que tenha seja usufruído devidamente. O indivíduo voraz quer sempre mais e não só no que se relaciona aos bens materiais, mas sempre exige mais e cruelmente do amor dos outros e de si mesmo ficando impossibilitado de aproveitar o que tem agora para viver. Quem funciona através da voracidade sempre estará insatisfeito por mais que tenha.
            É o que popularmente chamamos de saco sem fundo porque nunca enche, nunca chega a um estado de satisfação onde o que foi conquistado possa ser aproveitado prazerosamente. Pessoas vorazes desconhecem a dimensão do prazer, porém reconhecem e se lamentam sempre da insatisfação que vivem. A voracidade alimenta a inveja, o ciúme, o ódio ao mundo e à realidade. Está sempre de olho naquilo que não tem ou não é e pouco caso faz daquilo que tem e é.
            O estado de voracidade causa muito desentendimentos entre as pessoas, seja nos seus relacionamentos, nos seus trabalhos ou com a sociedade. A vida fica impossível. Quanto mais voraz é alguém, por mais posses até que tenha, mais pobre é essa pessoa e mais insatisfeita fica. A história budista a seguir é de grande valia para pensarmos sobre isso.
            Um rico mercador, que tinha uma bela família e amigos, estava de viagem até chegar a um lugar deserto onde encontrou uma caverna para passar a noite e descansar para seguir adiante no dia seguinte. Ao olhar mais detalhadamente a caverna encontrou sete grandes jarros fechados. Sua curiosidade o impeliu a abrir o primeiro jarro que continha muitas moedas de ouro, mas tinha também um bilhete que dizia que todos os jarros estavam cheios de tesouros e que ele poderia ser dono deles todos, mas que ao se apossar deles ele deveria saber que tinham também uma maldição. O mercador considerou, mas sua ganância o fez com que quisesse, mais do que tudo na vida, possuir toda aquela riqueza e decidiu levar todos os jarros consigo. Chegando em casa ele resolveu contar suas moedas de ouro e para sua surpresa percebeu que o sétimo jarro estava cheio só até metade. Ficou bravo e chegou à conclusão que deveria comprar mais ouro para deixar todos os vasos cheios por igual. Foi acumulando cada vez mais moedas para preencher esse jarro, mas por mais ouro que pusesse o jarro nunca ficava cheio, mas sempre pela metade. E assim ele gastou toda a vida enchendo o sétimo vaso que nunca enchia ao invés de aproveitar a riqueza que tinha.

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