segunda-feira, 25 de junho de 2018

A Vida e os Riscos




            Muitas pessoas indagam a razão dos esportes radicais ou situações que ofereçam algum tipo de risco ser tão atraentes. Até mesmo atividades de entretenimento como uma montanha russa geram doses de medo bem como de prazer. Há até empresas de RH, nos grandes centros urbanos, especializadas em levar seus funcionários a viver aventuras na natureza ou em coloca-los em situações que atingem picos de tensão. E quando todas essas pessoas depois voltam dessas situações limites contam grandes histórias, com o espírito renovado e algumas até cheias de coragem, sonhando com a próxima aventura. Por que será que esse prazer ocorre?
            Na nossa vida diária nos apegamos a ideia de que estamos sempre muito seguros e que temos controle sobre tudo ou quase tudo. Apesar de isso ser uma bela falsidade imaginamos que somos muito poderosos e nos afastamos da natureza recorrendo cada vez mais aos aplicativos, televisão, surfar na internet e por aí vai. É que no mundo das redes sociais temos muito poder e controle. Nos sentimos meio divinos. Afinal muitos dos nossos desejos estão a apenas a um clique de distância. Como não nos acharmos no Olimpo? Só que isso tem um efeito colateral que é fazer com que muitos se sintam amortecidos, meio afastados da vida e da própria humanidade.
            Já quando nos deparamos com a natureza o modo como vemos a vida muda completamente de perspectiva. A natureza é perigosa, oferece riscos reais e nos obriga a descer do Olimpo quase divino para a condição humana. Vivenciar situações de riscos é justamente se dar conta de nossa humanidade e mortalidade. É ter a consciência que temos muito pouco controle sobre a vida e isso nos ensina a aproveitar mais o que temos no tempo presente. Quando vivemos a nossa condição real de vulnerabilidade e impotência frente a várias adversidades passamos a dar valor a pequenas coisas que são importantíssimas na vida.
            Quando um grupo de pessoas são levados ao extremo num acampamento sem muito conforto e é exigido trabalho duro e muita cooperação elas voltam renovadas.  Ora, foi justamente se deparar com a falta de confortos e com a necessidade de se trabalhar de maneira diferente da que estão acostumadas que fizeram com que dessem um alto valor as coisas e confortos do dia a dia que nem prestavam atenção. Puderam mudar a perspectiva com que viam e se relacionavam com a vida diária. Isso faz com que permanecemos mais no tempo presente do aqui e agora e saboreamos o que temos no momento.
            Ao correr riscos nossa visão pode se transformar e trazer um gosto novo. Nos sentimos mais vivos e sedentos pela vida. Pena que muita gente não expande esse sentimento que vivem por algum tempo para mudar de fato como vivem a vida. Deixam que isso vá se apagando e retornam para a mesma visão de mundo anterior que só leva aos mesmos caminhos e experiências. Ficam tão acostumadas com a morte interna que se esquecem como viver de verdade. O que viveram vira apenas uma memória, quase um sonho e não mais uma realidade.

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