Existe o outubro rosa que alerta as mulheres sobre os
perigos do câncer de mama bem como as incentiva a cuidar-se de maneira
apropriada. Há o novembro azul que se atenta sobre o câncer de próstata,
convocando os homens a serem mais conscientes com a própria saúde. São
movimentos que visam chamar atenção sobre questões de saúde que podem e devem
ser tratados para melhorar nossa qualidade de vida. Há agora o janeiro branco
que coloca em cena a questão da saúde mental que, geralmente, é tão esquecida e
relegada a segundo plano.
Quando alguém quebra um braço ou perna todos reconhecem
que se faz necessário cuidados adequados. Se alguém desenvolve tumor ninguém
duvida que tratamentos apropriados e específicos são de extrema importância.
Mas quando alguém aparece com algum distúrbio psicológico como depressão,
ansiedade excessiva, compulsões, etc., não recebe um olhar compreensivo. Pelo
contrário, é até capaz da pessoa que padece psicologicamente ser tratada como
“sensível demais”, “fresca”, “com tempo livre de sobra” e por aí vai. O que se
passa na dimensão da mente não é valorizado o tanto o quanto deveria.
Essa desvalorização para com o sofrimento mental se deve
ao fato de que não é algo que se confirma em algum exame de sangue, ultrassom
ou raio x. É algo que reside no subjetivo e não no concreto. No entanto, mesmo
sendo subjetivo tem consequências sérias e variadas, inclusive concretamente
levando à doenças físicas ou até a acidentes e/ou tragédias. É um mal
silencioso que, com frequência, é desconsiderado como algo menor e sem
importância, mas que destrói a vida de muita gente. Tanto de quem sofre quanto
quem está próximo de quem sofre. O janeiro branco é um alerta para chamar
atenção para a nossa saúde mental.
Como vocês podem ver não é muito conhecido. Talvez até a
grande maioria de vocês que estão lendo esse texto nem fazia ideia de que
existia o janeiro branco. Pudera! Ele não é divulgado com tanta pompa
justamente porque ainda existe preconceito para com os distúrbios da mente. "É
coisa de gente louca e sem nada melhor para fazer". Mas na verdade o sofrimento
psicológico está em todas as camadas sociais, econômicas, gêneros e idades. Há
inúmeros distúrbios e padecimentos que minam a vida, deixando-a empobrecida e
intolerável. Que corrói os relacionamentos, destruindo-os. Que diminui as
chances de crescimento, empacando os sujeitos em posições desconfortáveis. A
coisa é séria e enquanto o olhar que temos para com nossa saúde mental não
mudar pessoas e sociedades vão continuar sofrendo de muitos males
desnecessários.
Quando não cuidamos do nosso mundo interno adoecemos. É
incrível o número de pessoas que cuidam de seus corpos, de suas dietas, de suas
carreiras, de seu patrimônio e isso tudo é importante e vital, mas que se esquecem
de cuidar da própria mente. Acabam tendo, externamente, uma vida confortável e
cheia de recursos, mas vivem muito mal, cheio de impasses e sofrimentos. Não
sabem ou não conseguem aproveitar os recursos que possuem e ficam em situações
lamentáveis. Quem não se cuida e nem aprende a se responsabilizar pelas
escolhas que faz ao longo da vida acaba por entrar em relações toxicas e
abusivas, coloca-se em riscos desnecessários e leva uma vida cheia de
insatisfações. Ao não prestarmos atenção à nossa mente vamos escolher mal,
porque escolhemos de fato, mesmo que sem saber, correndo o risco de escolher
aquilo que faz mal e adoece. Quem aprende a cuidar da própria saúde mental tem
mais chances de escolher aquilo que lhe vai fazer bem e não vai entrar em
qualquer barca furada.
Sem desenvolver uma mente não há a menor chance de haver
vida. Pelo menos não uma vida digna.
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