Um grande e
poderoso monarca, que sofria de terríveis sofrimentos em sua alma, mandou chamar
um famoso curador. Chegado o curador o monarca ordenou que este o curasse de
seus padecimentos. O curador então convidou o monarca a falar de suas dores,
mas o monarca se irritou com isso e disse-lhe que não queria falar sobre o que
se passava, mas queria ser curado sem ter que lidar com o que sentia. O curador
pensou um bocado e disse que precisava sair do castelo para retornar com a
solução. Após algumas horas o curador retornou com outro homem e disse ao
monarca: “Eu pedi para que você falasse sobre o que lhe aflige e agita a sua
alma porque isso me indicaria a natureza dos seus problemas para podermos
curá-lo, mas você não quis conversa. Entretanto, só sei trabalhar assim, mas
trouxe este homem que é um veterinário e ele cura seus pacientes sem que estes
tenham que conversar. Faça bom proveito”
É um grande engano crer que possamos nos livrar daquilo
que nos perturba como se se tratasse de algum objeto que inutilizamos jogando
na lata do lixo. Sentimentos e sofrimentos internos não são objetos concretos
que podem ser destruídos ou arremessados para longe. Porém, são parte do nosso
ser e para não mais sofrermos com eles é necessário transformá-los.
A gente transforma aquilo que nos causa dor em nossas
vidas através da mente, quando a gente passa a se encontrar de frente com
nossos conteúdos para entender o que eles significam. A importância de se
compreender o sentido de nossas dores é que elas dizem o que estamos fazendo de
maneira ineficiente e que gera tanto custo. A doença mental é justamente isso;
um alto custo de uma ineficiência na maneira que vivemos e nos relacionamos
conosco e com o mundo.
Falar sobre o que se passa no nosso mundo interno é a via
que a psicanálise encontrou para desenvolvermos consciência na forma que
vivemos. Por isso a psicanálise requer que o analisando seja ativo na sua cura
e não passivo. Sem a participação do analisando não há jeito de se entender o
que se passa e nem de procurar encontrar outros caminhos para que o sofrimento
não seja mais uma condição. Biologicamente somos todos seres humanos, mas não é
bem assim em termos simbólicos porque ser humano implica em se fazer humano. A
gente só se torna humano quando participamos de nossas vidas e dores. Não há
outra forma.
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