segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O Processo da Cura




            Um grande e poderoso monarca, que sofria de terríveis sofrimentos em sua alma, mandou chamar um famoso curador. Chegado o curador o monarca ordenou que este o curasse de seus padecimentos. O curador então convidou o monarca a falar de suas dores, mas o monarca se irritou com isso e disse-lhe que não queria falar sobre o que se passava, mas queria ser curado sem ter que lidar com o que sentia. O curador pensou um bocado e disse que precisava sair do castelo para retornar com a solução. Após algumas horas o curador retornou com outro homem e disse ao monarca: “Eu pedi para que você falasse sobre o que lhe aflige e agita a sua alma porque isso me indicaria a natureza dos seus problemas para podermos curá-lo, mas você não quis conversa. Entretanto, só sei trabalhar assim, mas trouxe este homem que é um veterinário e ele cura seus pacientes sem que estes tenham que conversar. Faça bom proveito”

            É um grande engano crer que possamos nos livrar daquilo que nos perturba como se se tratasse de algum objeto que inutilizamos jogando na lata do lixo. Sentimentos e sofrimentos internos não são objetos concretos que podem ser destruídos ou arremessados para longe. Porém, são parte do nosso ser e para não mais sofrermos com eles é necessário transformá-los.
            A gente transforma aquilo que nos causa dor em nossas vidas através da mente, quando a gente passa a se encontrar de frente com nossos conteúdos para entender o que eles significam. A importância de se compreender o sentido de nossas dores é que elas dizem o que estamos fazendo de maneira ineficiente e que gera tanto custo. A doença mental é justamente isso; um alto custo de uma ineficiência na maneira que vivemos e nos relacionamos conosco e com o mundo.
            Falar sobre o que se passa no nosso mundo interno é a via que a psicanálise encontrou para desenvolvermos consciência na forma que vivemos. Por isso a psicanálise requer que o analisando seja ativo na sua cura e não passivo. Sem a participação do analisando não há jeito de se entender o que se passa e nem de procurar encontrar outros caminhos para que o sofrimento não seja mais uma condição. Biologicamente somos todos seres humanos, mas não é bem assim em termos simbólicos porque ser humano implica em se fazer humano. A gente só se torna humano quando participamos de nossas vidas e dores. Não há outra forma. 

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