Não entendo algumas
coisas da psicanálise. Por exemplo, a psicanálise é contra os tratamentos que
as terapias comportamentais propõem como os da fobia. Se uma pessoa tem fobia
de avião e não consegue voar a linha comportamental leva a pessoa a ter contato
com o seu medo simulando viagens aéreas ou até mesmo levando a pessoa fóbica a
ter contato com aviões. Uma pessoa com medo de um bicho é apresentada a
determinado bicho até que perca o medo. Por que então a psicanálise é contra
tal método se ele pode ser eficaz? Muitos psicanalistas falam tão mal de outras
linhas. O que pode me dizer?
A verdade é que a psicanálise não é
contra a psicoterapia comportamental e nem contra a forma que esta decide
tratar seus pacientes. Infelizmente há psicanalistas que falam bobagens sobre
outras formas de tratamento, parecendo verdadeiros donos da verdade, e com isso
só degradam a si mesmo bem como trazem enorme confusão para a psicanálise. A
arrogância existe entre muitos psicanalistas. Isso é um fato.
Se um determinado tratamento ajuda
alguém isso é muito bom. Não há nada de errado em procurar ajuda para
sofrimentos que minam a qualidade de vida. Se a pessoa do seu exemplo, uma
fóbica, pode encontrar meios de enfrentar seus medos é algo louvável e que não
deve ser esnobado. Entretanto, a psicanálise também entende que não basta
apenas tratar os sintomas de um dado sofrimento, mas que se faz necessário
descobrir as origens para que isso possa vir a ser solucionado de maneira mais
eficaz. Tratar os sintomas é apenas um paliativo que não dura.
Quando um indivíduo desenvolve uma
fobia o que vai chamar atenção é o seu sintoma, o seu medo. Todos querem se ver
livres de seus sintomas, é claro. Mas não adianta apenas consertar um sintoma
quando a fonte do problema continua existindo. Uma pessoa que teme viajar de
avião pode até tratar o seu medo e vir a “superá-lo”, mas se a causa não for
descoberta e devidamente elaborada vai trazer outros sintomas, possivelmente
outros medos. Em outras palavras, a pessoa que não se aprofunda em sua mente
vai pulando de um medo para outro, de sintoma em sintoma e essa repetição torna
a vida pobre.
Para pôr um fim na repetição só
mesmo realizando uma verdadeira mudança e não trocando seis por meia dúzia. A
genialidade de Freud, criador da psicanálise, foi compreender que as partes
inconscientes (que nos são desconhecidas) sempre influenciam como nos
relacionamos com a vida. Agora, se partes inconscientes que carregamos podem se
tornar conscientes isso nos dá a oportunidade de elaborarmos e resolvermos no
tempo presente aquilo que não ficou bem resolvido no passado. Trata-se a origem
e daí não há mais porque se repetir e passar de sintoma em sintoma. Para a
psicanálise os sintomas não são inimigos que devemos derrotar com toda a força,
mas são sinais no meio de uma estrada escura que nos guiam para as profundezas
da mente. Quem não aprende a se relacionar com a própria mente está fadado a se
repetir indefinidamente na escuridão da ignorância de si mesmo.
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