sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Pergunta de Leitora - Além da Biologia




Fui diagnosticada recentemente por um psiquiatra como tendo personalidade fóbica. Ele me receitou remédios, mas não me falou nada de terapia. Acho que isso está errado. O que acha? Tenho medo de avião e já deixei de viajar por causa disso. Tenho medo de espaços abertos e com muita gente e por isso evito sair. Com todos os meus medos acabo ficando sozinha e ultimamente venho desenvolvendo síndrome do pânico. O que faço? Venho tomando o remédio, mas ainda continuo angustiada e parece que as vezes fico imobilizada e achando que vou morrer e que nada pode me salvar. Não sei explicar o que me acontece. Só sei que fico com muita ansiedade e medo. Um medo incontrolável. Será que posso melhorar? O que preciso?

            Infelizmente muitos psiquiatras desconhecem a dimensão humana permanecendo apenas na biologia. Veja bem, somos também seres biológicos e desconsiderar isso seria imprudente e estúpido, mas nossa natureza é bem mais complexa e larga do que a biologia pode conceber. Remédios psiquiátricos são recursos válidos, porém não são a resposta definitiva e incontestável. Somos muito mais que apenas química cerebral.
            Você, em algum nível, parece compreender isso já que está aqui me escrevendo que sentiu que seu médico não te viu como pessoa, mas apenas como um corpo desequilibrado. Aos olhos dele você se sentiu apenas vista pelo seu lado físico e corporal, mas não foi tocada no âmbito da mente. Você sente que falta algo mais, apesar de não saber bem o que. Ouso lhe dizer que o que lhe falta é aprender a dar um sentido às suas angústias.
            Tenha a certeza de que seu medo não é de avião ou de pessoas e espaços abertos. O medo vem da sua angústia e esta causa um medo generalizado, sem forma. As fobias surgem justamente para dar uma forma às nossas angústias e ansiedades. Assim tememos aquilo que podemos ver e até em certo ponto evitar, quando na verdade é algo muito mais interno e desconhecido que nos provoca o sofrimento da angústia. A nossa angústia, quando bem vivenciada, pode nos tornar mais humanos e mais capazes em lidar com o sofrimento, portanto não deveríamos temê-la.
            Não faço críticas à psiquiatria, que é extremamente necessária, apenas entendo que repousar tão somente na biologia deixará o ser humano mais pobre. A psicanálise não tenta extirpar e fazer o seu analisando se livrar das suas angústias, apenas mostra a ele uma nova forma de se relacionar com seus produtos mentais e crescer com isso. Quando aceitamos nosso lado humano e nossas dores poderemos então trabalhar com tudo isso e, assim, uma transformação ocorre. Onde antes havia a vítima de um padecimento, inconsciente de si mesma, pode haver a criadora de uma vida produtiva e satisfatória. Será que não é justamente isso o que você está procurando?

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