segunda-feira, 17 de julho de 2017

Pão e Vinho




            Há pessoas que batalham dia e noite pelo pão diário. A vida não é mesmo fácil e exige muitos sacrifícios para podermos sobreviver neste mundo. Somos como formigas, em muitos momentos, que se esfalfam enfrentando dissabores e engolindo muito pão que o “diabo amassou” para ao fim do dia nos sentirmos seguros. Nessa situação estamos todos nós e em si não há nela problema nenhum, faz parte da vida. O problema surge quando a vida é só isso.
            Ás vezes, nessa labuta diária pela sobrevivência, nos esquecemos de viver. Ficamos tão obcecados pela sobrevivência que endurecemos nossos corações para saber aproveitar melhor o vinho da vida. É que, na verdade, só vale a pena correr atrás do pão do dia a dia se também tomamos o vinho que nos aquece e alegra a alma. Uma vida só correndo atrás do pão não é vida, porque o que nos faz humanos é mais do que a sobrevivência, é poder ir além dela e nutrir o espirito. A gente só alimenta o espírito cultivando relacionamentos sadios, se enternecendo pelas artes, indo além da necessidade orgânica, nos encantando com os mistérios ao longo da vida, etc.
            Quando esquecemos o sabor do vinho a vida se torna dura e intolerável. Viver perde o sentido. Na vida não pode só haver ônus, mas também bônus. O contrário também é verdadeiro. Não podemos só querer o vinho e viver inebriados porque até mesmo para o prazer precisa existir limites, senão ficaríamos sempre de ressaca e desta maneira ninguém faria nada, o pão deixaria de ser buscado.
            Viver realmente implica em encontrar equilíbrio entre as demandas que a vida exige e o prazer que necessitamos construir e criar. Estamos sempre numa corda bamba, sem jamais pender para um dos lados a ponto de cair. Temos que ser malabaristas, artistas e não é à toa que se fala tanto que viver é uma arte. Tornar-se humano é a mais bela arte que podemos empreender, pois esta beleza é a que dá sentido à vida e que nos ajuda a ultrapassar os limites da sobrevivência para tocar  o encanto que jamais pensávamos ser possível: o encanto de ser grato à própria existência.

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