Há pessoas que batalham dia e noite pelo pão diário. A
vida não é mesmo fácil e exige muitos sacrifícios para podermos sobreviver
neste mundo. Somos como formigas, em muitos momentos, que se esfalfam
enfrentando dissabores e engolindo muito pão que o “diabo amassou” para ao fim
do dia nos sentirmos seguros. Nessa situação estamos todos nós e em si não há nela
problema nenhum, faz parte da vida. O problema surge quando a vida é só isso.
Ás vezes, nessa labuta diária pela sobrevivência, nos
esquecemos de viver. Ficamos tão obcecados pela sobrevivência que endurecemos
nossos corações para saber aproveitar melhor o vinho da vida. É que, na
verdade, só vale a pena correr atrás do pão do dia a dia se também tomamos o
vinho que nos aquece e alegra a alma. Uma vida só correndo atrás do pão não é
vida, porque o que nos faz humanos é mais do que a sobrevivência, é poder ir
além dela e nutrir o espirito. A gente só alimenta o espírito cultivando
relacionamentos sadios, se enternecendo pelas artes, indo além da necessidade
orgânica, nos encantando com os mistérios ao longo da vida, etc.
Quando esquecemos o sabor do vinho a vida se torna dura e
intolerável. Viver perde o sentido. Na vida não pode só haver ônus, mas também
bônus. O contrário também é verdadeiro. Não podemos só querer o vinho e viver
inebriados porque até mesmo para o prazer precisa existir limites, senão
ficaríamos sempre de ressaca e desta maneira ninguém faria nada, o pão deixaria
de ser buscado.
Viver realmente implica em encontrar equilíbrio entre as
demandas que a vida exige e o prazer que necessitamos construir e criar.
Estamos sempre numa corda bamba, sem jamais pender para um dos lados a ponto de
cair. Temos que ser malabaristas, artistas e não é à toa que se fala tanto que
viver é uma arte. Tornar-se humano é a mais bela arte que podemos empreender,
pois esta beleza é a que dá sentido à vida e que nos ajuda a ultrapassar os
limites da sobrevivência para tocar o
encanto que jamais pensávamos ser possível: o encanto de ser grato à própria
existência.
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