segunda-feira, 19 de junho de 2017

A Boa Morte



Quase todos, claro que há exceções, nascemos em hospitais com ajuda de enfermeiros e médicos. Temos toda uma assistência que traz da melhor forma possível um pequeno bebê ao mundo. Não só o bebê se beneficia dessa ajuda como também a mãe e todos os outros parentes envolvidos e ansiosos quando um parto está para ocorrer. Uma gestante, sozinha, até pode ter condições de parir e tudo ir bem, mas o sentimento de medo seria massacrante e desumano de forma que não medimos esforços para ajudar alguém nascer. E para morrer? Será que não poderíamos em alguns casos receber ajuda?
            A palavra eutanásia vem do grego e significa a boa morte. Define-se eutanásia como o ato de proporcionar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurável que produz dores intensas. Em outras palavras: é quando a vida já não é mais vida e passa a ser intolerável e desumana trazendo sofrimentos e desesperança destruidores. Entretanto, falar em eutanásia é o mesmo que mexer no vespeiro, pois desperta medos em muita gente.
            Médicos são, geralmente, contra a eutanásia. Ao meu ver isso tem a ver com o narcisismo deles já que muitos médicos tem  o interesse de apenas prolongar indefinidamente a vida como se assim vencessem a morte. A grande verdade é que morrer não é indigno, ao contrário, a própria natureza nos proporciona a morte tornando-a uma benção quando a vida já não se faz mais possível. Indigno é viver de maneira desumana ou prolongar-se naquilo que não é a vida, mas um arremedo dela.
            Cada um é responsável por si e por suas decisões. Se uma pessoa decide que não quer prolongar-se artificialmente ou continuar suportando dores infernais ela tem o direito de assim decidir. E por que ela não poderia receber ajuda para tal? Se recebemos ajuda para nascer por que não poderíamos ser ajudados a morrer dignamente em casos específicos? Infelizmente o preconceito e a ignorância afirmam que isso não se faz e ponto; e todo o debate necessário para essa questão fica censurado e envolto em véus de tabu.
            Mas quem vai decidir quando um caso não dá mais esperanças de vida e recuperação? Qual a fronteira entre um ato de humanidade de alívio aos sofrimentos para de um simples assassinato? Por isso que o debate se faz necessário e vital. No entanto, debater requer não se guiar por preconceitos, crenças religiosas e afirmações prontas, mas se abrir ao que nos torna verdadeiramente humanos. Por seus medos e ignorâncias a humanidade e muitos profissionais que deveriam se manter abertos prestam um desserviço e geram muitos sofrimentos desnecessários. Canadá, Suíça e Holanda são países onde a eutanásia é permitida e neles essas questões foram e ainda são debatidas seriamente e o que move essas discussões é colocar, acima de tudo, a dignidade humana como ponto principal. 

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