sexta-feira, 5 de maio de 2017

Pergunta de Leitora - Sexualidade e Vida




Será que todos nós temos instinto sexual? Pergunto isso porque acho que sou diferente. Tenho 26 anos e não tenho interesse nenhum por sexo. Sou saudável e livre de preocupações exageradas. Minha adolescência foi tranquila, mas diferentemente de outras garotas e garotos, eu nunca me interessei por paqueras e coisas assim. O interesse pelo sexo nunca surgiu na minha adolescência. Nunca me atraiu a sexualidade que acho suja. Então o que será que acontece comigo? Nem consigo imaginar alguém me tocando. Isso me dá desprazer muito grande. Imagino que o sexo não seja para mim, que estou além dele. É possível isso?

            Todos nascemos com uma pulsão sexual, é parte da nossa natureza humana. Sem essa pulsão não haveria sexualidade, ou seja, sem a pulsão sexual não nos envolveríamos com nada e a humanidade não existiria. É a sexualidade que nos permite realizar belíssimas obras de arte e se jogar em direção às grandes empreitadas. É a sexualidade que nos faz lutar pela sobrevivência e até perpetuar a espécie humana. Se hoje você tem 26 anos e está viva para contar estórias é porque é dotada de sexualidade, mas talvez você não a entenda e nem saiba lidar com ela.
            Ao contrário do que se imagina a sexualidade não surge na adolescência. Freud, no início do século XX, descreveu como a sexualidade é algo que já nos acomete quando somos pequenos, assim que saímos do útero. Um bebê já é dotado de sexualidade. Agora, não confunda sexualidade com genitalidade. A primeira é muito mais ampla e tem a ver com a forma que nos relacionamos com o mundo, ou em outras palavras, como transamos com o mundo. Só que a sexualidade do bebê é diferente da do adulto. É uma sexualidade parcial, onde os órgãos genitais não são o centro do prazer. Só depois de alguns anos, lá pelos dois anos de uma criança, que ela descobre sua genitalidade. É muito comum vermos crianças pequenas se masturbando ao manipular seus órgãos prazerosamente. Esse ato é natural e não deve ser estimulado e nem mesmo reprimido pelos adultos.
            Conforme a sexualidade e a genitalidade da criança pequena vai se dando se forma a sexualidade e a genitalidade do adulto. A adolescência e vida adulta estão ligadas ao que aconteceu na infância. Alguém que na infância não pôde ter vivido uma sexualidade boa certamente terá dificuldades no futuro. Que, aliás, é o que ocorre com a imensa maioria de todos nós. Essas dificuldades podem ser desde algo relacionado com o ato sexual em si ou com a maneira que nos envolvemos com qualquer coisa que façamos na vida.  Seu nojo e desprazer pelo contato com um outro retratam uma dificuldade que pode ser encontrada na sua história de vida, que pode ser relembrada e elaborada.
            Parece que a sexualidade te assusta e te provoca tantas emoções difíceis de serem toleradas que você decidiu, sem saber que assim fazia, renunciar ao sexo. Hoje, você se coloca além do alcance de uma sexualidade, mas mesmo assim ela não deixa de existir. Ao fazer-me essa pergunta algo em você já está diferente em relação à sua sexualidade. Está trocando o nojo pela curiosidade. Está intrigada com o que lhe sucede. Provavelmente você sinta que já está na hora de se enamorar da vida e de você mesma, o que pode acontecer caso a sexualidade possa ser revisada. Só podemos nos fascinar pela vida quando permitimos o enamoramento e este é pura sexualidade.

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