Será que todos nós temos instinto sexual? Pergunto isso porque acho que
sou diferente. Tenho 26 anos e não tenho interesse nenhum por sexo. Sou
saudável e livre de preocupações exageradas. Minha adolescência foi tranquila,
mas diferentemente de outras garotas e garotos, eu nunca me interessei por
paqueras e coisas assim. O interesse pelo sexo nunca surgiu na minha
adolescência. Nunca me atraiu a sexualidade que acho suja. Então o que será que
acontece comigo? Nem consigo imaginar alguém me tocando. Isso me dá desprazer
muito grande. Imagino que o sexo não seja para mim, que estou além dele. É possível
isso?
Todos
nascemos com uma pulsão sexual, é parte da nossa natureza humana. Sem essa
pulsão não haveria sexualidade, ou seja, sem a pulsão sexual não nos
envolveríamos com nada e a humanidade não existiria. É a sexualidade que nos
permite realizar belíssimas obras de arte e se jogar em direção às grandes
empreitadas. É a sexualidade que nos faz lutar pela sobrevivência e até
perpetuar a espécie humana. Se hoje você tem 26 anos e está viva para contar
estórias é porque é dotada de sexualidade, mas talvez você não a entenda e nem
saiba lidar com ela.
Ao
contrário do que se imagina a sexualidade não surge na adolescência. Freud, no
início do século XX, descreveu como a sexualidade é algo que já nos acomete
quando somos pequenos, assim que saímos do útero. Um bebê já é dotado de
sexualidade. Agora, não confunda sexualidade com genitalidade. A primeira é
muito mais ampla e tem a ver com a forma que nos relacionamos com o mundo, ou
em outras palavras, como transamos
com o mundo. Só que a sexualidade do bebê é diferente da do adulto. É uma
sexualidade parcial, onde os órgãos genitais não são o centro do prazer. Só
depois de alguns anos, lá pelos dois anos de uma criança, que ela descobre sua
genitalidade. É muito comum vermos crianças pequenas se masturbando ao
manipular seus órgãos prazerosamente. Esse ato é natural e não deve ser
estimulado e nem mesmo reprimido pelos adultos.
Conforme
a sexualidade e a genitalidade da criança pequena vai se dando se forma a
sexualidade e a genitalidade do adulto. A adolescência e vida adulta estão
ligadas ao que aconteceu na infância. Alguém que na infância não pôde ter
vivido uma sexualidade boa certamente terá dificuldades no futuro. Que, aliás,
é o que ocorre com a imensa maioria de todos nós. Essas dificuldades podem ser
desde algo relacionado com o ato sexual em si ou com a maneira que nos
envolvemos com qualquer coisa que façamos na vida. Seu nojo e desprazer pelo contato com um
outro retratam uma dificuldade que pode ser encontrada na sua história de vida,
que pode ser relembrada e elaborada.
Parece
que a sexualidade te assusta e te provoca tantas emoções difíceis de serem
toleradas que você decidiu, sem saber que assim fazia, renunciar ao sexo. Hoje,
você se coloca além do alcance de uma sexualidade, mas mesmo assim ela não
deixa de existir. Ao fazer-me essa pergunta algo em você já está diferente em
relação à sua sexualidade. Está trocando o nojo pela curiosidade. Está
intrigada com o que lhe sucede. Provavelmente você sinta que já está na hora de
se enamorar da vida e de você mesma, o que pode acontecer caso a sexualidade
possa ser revisada. Só podemos nos fascinar pela vida quando permitimos o
enamoramento e este é pura sexualidade.
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