Um filme belo sobre as relações humanas, principalmente
entre pais e filhos, é o que oferece o drama Capitão Fantástico (EUA, 2016). Um pai mantem toda sua família
(esposa e seis filhos) numa floresta afastada do contato com outras pessoas e
do mundo. Lá eles vivem uma espécie de paraíso, longe dos vícios que se
encontra numa cidade e que muitas vezes vão deformando o caráter que uma
criança poderia vir a desenvolver. A rotina na floresta é dura, com exercícios diários
dignos de atletas de elite. Eles têm que caçar sua comida, plantar seus legumes
e aprender como se defender em casos de perigo. No entanto, eles também abrem
tempo e espaço para ler os grandes clássicos da literatura, estudar pensadores,
sociólogos, economistas, história e muitas outras áreas do saber. As crianças
variam entre 17 e 4 anos e conforme crescem algumas indagações já começam a
ser formadas entre todos como ocorre naturalmente quando crianças deixam de ser crianças e
passam a ser jovens. Com a morte da mãe uma mudança se faz necessária, mas como
sempre, as mudanças são sempre difíceis e dolorosas.
O paraíso sempre precisa acabar. Sem o término de uma
situação idealizada, concebida como o paraíso, não haveria possibilidade de
crescimento. É que crescer implica em sair da idealização e encarar o mundo,
por pior que este seja. O pai da família era um grande homem, intelectual, com
fortes valores, mas percebe que se ressentia do mundo, queria evita-lo a todo
custo. Apesar de ter entrado de cabeça no mundo selvagem resistia entrar no
mundo humano com todos os seus defeitos, adversidades e injustiças. Ele queria
criar um mundo próprio e particular, mas isso só pode existir por um tempo e
não tem como prolongar-se para todo o sempre.
O pai e mãe ensinavam seus filhos a ler, a pensar e
questionar tudo. A educação era primorosa e muito melhor e mais intensa que as crianças
poderiam obter numa escola tradicional. Outro ponto muito importante na
educação era que todas as questões eram permitidas e o pai não fazia nenhum de
seus filhos se sentir mal por estar perguntando algo. Muitas vezes acontece de
a maioria dos pais reprimirem as dúvidas dos filhos e darem respostas falsas
porque temem encarar temas difíceis e desconfortáveis. Para essa família,
entretanto, não havia espaço para falsidades e tudo era visto com naturalidade,
inclusive a sexualidade.
O problema é que havia negação do mundo e suas
imperfeiçoes. Não temos como fugir do mundo. A única coisa a fazer é nos
prepararmos para lidar com ele de maneira eficiente. O pai temia que seus
filhos fossem contaminados por hábitos que os alienassem e tirassem a
capacidade de pensar e de torna-los indivíduos verdadeiros e independentes e
seu erro (e que pai nunca errou, principalmente por amor?) foi ser rígido demais
a ponto de esquecer que os filhos ao crescerem não são mais dos pais, mas de si
próprios.
Sua educação foi tão boa que os filhos começaram, cada
um, a procurar o seu caminho e quando um jovem constrói sua estrada vai
certamente discordar dos pais em algum momento e pensar de forma diferente. No fim, as famílias, sejam nas grandes cidades ou afastadas no mundo selvagem, passam
pelas mesmas experiências. A experiência de separação que permite que cada um
vá descortinando a pessoa que quer e que pode vir a ser. A independência é
dolorosa e nunca um processo tranquilo, mas turbulento e criador de novas
feridas. Em todas as famílias isso ocorre.
Contudo nas famílias onde o amor impera as feridas e
dores que são abertas podem ser superadas e motivo de mudanças e transformações
para todos os envolvidos. O resultado é sempre a aprendizagem e crescimento. O que
segura e mantém os laços de uma família não é o fator externo como sair do
mundo ou se se corromper com o mundo, mas o quanto de amor pode ser vivido
verdadeiramente. O filme nos ensina que se não podemos vencer o mundo podemos e
devemos aprender a nos preparar para lidar com ele de forma que sejamos sempre
nós mesmos.
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