Uma piada conta sobre uma pessoa que morava numa área
que, devido às fortes chuvas, estava em risco de enchentes e deslizamentos.
Essa pessoa foi alertada pelas autoridades várias vezes a abandonar o local,
mas ela declinou dos alertas dizendo a si mesma: “Deus vai me salvar”. Após um
tempo, as enchentes ficaram mais intensas alagando sua casa e deixando-a
ilhada. Um bote foi despachado para salvar a pessoa que recusou ajuda
afirmando: “Deus vai me salvar”. Depois de algumas horas os deslizamentos
começaram, oferecendo imensos riscos e uma equipe com um helicóptero se
apresentou para salvá-la, mas mais uma vez a pessoa declinou da oferta e disse:
“Deus vai me salvar”. Como a pessoa não saiu de sua casa, um enorme
deslizamento derrubou tudo e a pessoa morreu. Já no além, ela se encontra cara
a cara com Deus e lhe acusa de tê-la deixado morrer quando ela confiava tanto
em sua divina providência. Deus lhe responde: “Mas eu mandei os avisos, o
bote-resgate, e a equipe com o helicóptero, porém você se recusou a aceitar
ajuda. Não havia mais nada a ser feito.”
Essa
piada pode ser aplicada para entender muitos fracassos na vida, mas vou me
deter aqui na psicoterapia. Há pacientes que até vão às suas sessões procurar
ajuda, contudo, sabem apenas procurar ajuda, mas não receber ajuda. A ajuda que
procuram é algo idealizado e impossível, e quando alguém só
procura por isso fica fadado à infelicidade. Querem a solução, todavia não
querem que nada seja exigido. Querem mudanças, mas não querem mudar nada em si
mesmas.
Quem
age assim dificulta a própria vida e desenvolvimento, bem como se coloca numa
posição em que nada poderá mudar de fato. Quando vamos nos tratar numa análise
é porque estamos sofrendo e pagando um alto preço pelas nossas angústias e dores que minam a vida, tornando-a
ineficiente e desprazerosa. Se um indivíduo está nessa, podemos dizer que está
em risco de ser atropelado e levado pelas correntezas de suas dificuldades e
adversidades. A única solução, portanto, é sair desse local perigoso, que, no
caso, é sair dessa posição subjetiva em que sem encontra na vida. E é aí que vemos
como muita gente não se ajuda.
Tal
como a pessoa da piada acima, muita gente quer ser ajudada, mas não quer sair
da posição em que se encontra. Em outras palavras, não quer mudar. Se a pessoa se recusa a
mudar não tem como ser ajudada. A casa da piada pode ser entendida como a forma
subjetiva que um dado indivíduo se agarra e vive. Quem não aceita deixar essa
casa/modo de vida para trás fica sempre na mesma, caindo nos mesmos erros e
perigos. A pessoa se repete no seu sofrimento. Isso configura uma pobreza
psíquica que gera uma má qualidade de
vida.
Uma
das funções da análise é ajudar o paciente a sair dessa posição
crítica em que se
colocou, porém o analista não tem como fazer isso sozinho. Ele precisa da ajuda
do próprio paciente. Por isso que, estar em análise é mais do que simplesmente
ir a uma sessão, mas é permitir a
transformação que
a análise pode provocar. Entendo que transformações sejam assustadoras e que
criem muitas resistências. Afinal, tememos abandonar aquilo tudo que é
conhecido e já estabelecido. Mudar nossa maneira de pensar a vida e de se
relacionar com o mundo é tal qual abandonar uma casa que já temos e que nos é
bem familiar e ir para outra casa que desconhecemos ou que ainda nem foi
construída. Nos sentimos desamparados. Entretanto, insistir em permanecer numa
casa ou modo de vida que está em perigo de ruir é muito pior, porque aí o que
se perde é a própria vida. Você aceita
abandonar a “casa” que está morando para construir outra melhor?
Por mais que queiramos mudar, isso não significa aceitar qual ajuda, apenas por estar na pior. Até que ponto devemos nos submeter para mudar?
ResponderExcluirOlá Paulo. Obrigado pela participação. Realmente não devemos aceitar qualquer ajuda, afinal há muitas pseudo ajudas que na verdade mais pioram do que fazem bem. Ser beneficiado pela psicanálise não se trata de se submeter, mas de uma parceria que promove o autoconhecimento. Ninguém é obrigado à nada, por isso mesmo que a psicanálise pode funcionar. Aliás não deve ser desejo do analista que o analisando mude. Este desejo só poe ser do próprio analisando. O analista jamais tem a posição de saber o que é ou não melhor para o paciente. Ele funciona como um companheiro de jornada.
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