Há
uma diferença muito importante entre a depressão e luto, que geralmente são
confundidos. O luto é um estado que permeia nossa vida várias vezes em
diferentes momentos. O estado de luto tem a ver com a elaboração da perda, seja
esta qual for. Estamos sempre perdendo: quando crescemos, por exemplo, lidamos
sempre com a perda do que éramos para ir em frente em direção a um novo estágio
ainda desconhecido. Já a depressão é patológica e é como um luto que jamais
pôde ter sido elaborado. A pessoa depressiva está estagnada e não elabora nada.
Infelizmente,
hoje em dia, a tristeza é muito mal vista e é até encarada como se a pessoa que
a sentisse estivesse falhando em conduzir a própria vida. A tristeza é
compreendida como se fosse atestado de fracasso, o que é um terrível engano. Há
uma exigência para que estejamos alegres todo o tempo e que isso sim é sucesso.
Porém, tristeza e se deparar com aquilo que nos deixa para baixo faz parte da
vida e é saudável e necessário para que a gente aprenda a crescer.
Elaborar
perdas nunca é um processo fácil. Tememos as perdas, pois temos medo do que vai
vir a ser, que é completamente desconhecido. Tememos também as perdas porque um
trabalho de readaptação, de abandonar o que era para acolher o que será é um trabalho
que gera grande desprazer. Entretanto, se não nos permitirmos perder jamais
poderemos ganhar algo novo. Em outras palavras, quem não aceita perder fica
imobilizado e não tem a menor chance de se desenvolver.
A
depressão é justamente quando a perda não pode ser elaborada. A pessoa fica com
ódio à realidade e fecha-se em si mesma. A elaboração de qualquer perda é
dolorosa e quem sofre de depressão tem muito medo da dor mental e evita sentir
qualquer coisa que lhe traga desprazer. A consequência é a pessoa preferir
ficar paralisada porque acredita que assim não sofrerá ou que poderá controlar
o sofrimento. Porém, o sofrimento vem de qualquer jeito e acaba se tornando um
sofrimento estéril, que não leva a nada.
É
mais do que natural no encontrarmos tristes quando passamos pelos lutos que a vida
impõe. Nessas horas é necessário paciência para que possamos digerir o que
perdemos e absorver o que estamos ganhando. Só à medida que esse processo
ocorre que evoluímos e as perdas serão vistas e sentidas como coisas naturais e
não trarão ódio. Aceitaremos perder porque entendemos que também ganharemos. As
perdas são assim elaboradas e nossa mente é transformada. Com isso a tristeza
pode ceder lugar para um estado mais fortalecido e maduro. Só se deprime quem
não aceita elaborar o luto.
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