Esse texto foi escrito conjuntamente com minha grande amiga e excelente profissional da psicologia, em Limeira/SP: Christiane C. R. Alfredo.
Pensar
em descontentamento implica pensar em algo que não está bom, um incômodo
gerador de sofrimento. Todavia, onde reside este sofrimento? Por que haveria de
não estar bom se a cada segundo aplicativos para solucionar problemas
cotidianos são criados aos montes; se evoluções médico-tecnológicas a serviço
da saúde mental e física se colocam a disposição do homem? Por que haveria de
não estar bom se novos sabores e odores abarrotam as prateleiras trazendo uma
fartura jamais vista na história? Se a moda se inova e podemos ter acesso a
tudo isso virtual ou fisicamente?
Por
que haveria de não estar bom se novas “religiões”, credos e filosofias estão
prontas para serem descobertas e usadas por cada um de nós? Se podemos nos
conectar tão facilmente e de tantas formas? Se a arte hoje nos é acessível aos
olhos muito mais do que antigamente? Por quê?
Esse
excesso de prazeres e facilidades nos proporcionam um pouco de alivio, já que a
vida se apresenta – na maioria das vezes – árdua. Porém, por mais eficazes que
pretendam ser, por mais onipotentes que nos pareçam, eles não alcançam seu
intento de proporcionar uma felicidade duradoura. Não garantem o contentamento
sem fim dos nossos desejos. Uma prova disso é o numero sempre crescente da
depressão e outros distúrbios psicológicos. Quanto mais temos externa e
concretamente mais nos sentimos esvaziados de sentido. A riqueza externa não
enriqueceu nosso mundo interno.
A
felicidade, o estar bem, não significa ausência de sofrimento e nem é algo
exterior a nós, mas trata-se de um estado interno que precisa ser construído ao
longo da vida. Assim, cada um deve descobrir como trilhar esse caminho. A
psicanálise, em todos os seus desdobramentos e evoluções desde Freud, nos ajuda
a pensar sobre essa construção.
Para
a psicanálise sentir-se bem requer aprender a lidar com o que se sente. É
inútil buscar soluções fáceis para que não encontremos a dor, pois esta é
inerente à vida. E quem insiste nesse caminho de fuga acaba se enganado através
de drogas licitas e ilícitas, fanatismos de várias formas ou adoecendo a ponto
de se embotar a vida de maneira crítica.
Mas
há também outro caminho. O do autoconhecimento, que propicia que o sujeito se
aproprie de sua história, cheia de prazeres e desprazeres, e escreva um
sentido. Num processo analítico o analisando fala de si e desenvolve a
capacidade de se escutar, o que transforma seu relacionamento com o sofrimento.
O psicanalista, numa sessão, não é um mero aplicativo, mas um interlocutor que
permite um encontro humano surgir para significar o que se sente: tanto as
dores quanto as conquistas.
Todos
nós temos uma escolha sobre qual trilha tomar e somos responsáveis por ela. Não
estamos fadados a angústia intolerável que trava a vida, ao desespero ou aos
males mentais. Todos temos nós próprios e se nos comprometermos de maneira
verdadeira conosco, o descontentamento pode ser apenas um descontentamento e
nada mais, pois o que nos moverá será algo verdadeiro e que nos ligue à vida.
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