Quando eu era mais jovem
só pensava em trabalhar muito para conquistar uma vida mais digna. Meus pais
foram muito pobres e sofremos várias restrições. Sempre levei o estudo a sério
e me formei como um dos melhores da turma em engenharia. Logo que terminou a
faculdade já consegui um bom emprego comecei a ganhar dinheiro e a subir na
vida. Sempre me dediquei ao trabalho e carreira e poucas vezes fiz alguma coisa
por mim no sentido de relaxar ou me dar prazer. Acho interessante quem tem um
hobby. Nunca tive e nem sei o que poderia ser caso eu decidisse por ter um.
Hoje tenho 56 anos e tenho mais dinheiro do que consigo gastar. Nunca casei,
pouco namorei e pensando na aposentadoria me vi com medo. Não sei dizer se sou
feliz. Conquistei tantas coisas na vida, mas todas relacionadas ao trabalho e
nada para a minha vida pessoal. E agora que estou perto de não mais trabalhar o
que faço? Como conseguir ser feliz? O que preciso para ser feliz? Que rumo dar
a vida?
Você pouco conhece da vida. Conhece,
sim, sobre trabalhar e ganhar bem seu sustento. Conhece sobre como sair das
privações do passado e viver materialmente bem e garantido. Provavelmente o que
mais te mobilizou na vida foi fugir de um passado que deve ter deixado marcas
dolorosas de muita falta. O medo das privações que você deve ter vivenciado fez
com que você focasse na carreira. Nada ou muito pouco foi construído em termos
pessoais.
É claro que eu precisaria de mais informações
para afirmar, porém arrisco a hipótese de que essas restrições passadas te despertaram tantas angústias difíceis de
serem lidadas que você decidiu, sem nem perceber, não mais sentir nada da
dimensão subjetiva. Fez uma divisão em sua mente e se voltou apenas para o lado
prático e concreto da vida, deixando de lado muitos aspectos importantes do seu
mundo mental que é quem dita como vamos viver.
Enquanto se mantinha no trabalho e
este parecia eterno nunca precisou dar atenção à sua pessoa, apenas ao
profissional. Só que o profissional é somente uma parte de nós mesmos e há
muitos outros ângulos em nossas vidas que necessitam de cuidados. Hoje você se
conhece apenas como profissional e nada como homem. Do homem que você é há um
total desconhecimento. Este homem se encontra perdido e saber disso é algo útil
e proveitoso porque quem sabe que está perdido pode começar a procurar um
caminho para se encontrar.
Aos 56 anos tem vida pela frente e
quem sabe agora não possa realmente viver e parar de apenas procurar
sobreviver. Você já conseguiu sobreviver, você já venceu esta etapa. Agora tem
tarefa e trabalho muito maior pela frente: construir o homem que você pode ser.
As suas indagações, apesar de lhe trazerem angústias, são boas pois mostram o
início de uma nova consciência tomando forma. Está na hora de saber aproveitar
a vida que tem. Em outras palavras, precisa aprender a sentir e desta vez sem
medo. Não há escapatória: quem teme sentir e lidar com o que sente termina por
temer viver a vida.
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