Muitos dizem, até mesmo há passagens bíblicas, que
devemos ser como as crianças e nos comportar como tal. Outros tiram da cartola
frases clichês sobre como alimentar a criança interior e deixa-la dominar o
nosso ser para conseguirmos a felicidade. Bom, muito se fala nisso, porém pouco
se entende o que de fato isso implica e significa. Que sentido tem em ser como
uma criança?
Evidentemente, um adulto não deve ser uma criança e nem
se comportar como se fosse uma. Isso o infantilizaria e o deixaria num estado
de imaturidade. Aliás, muitos dos nossos maiores problemas que enfrentamos na
vida é devido aos restos infantis que permaneceram em nossa identidade e não
foram suficientemente elaborados. Quando agimos feitos crianças, sendo adultos,
criamos sérias adversidades ao nosso desenvolvimento e bem estar. A maturidade
emocional, que é peculiar ao mundo adulto e não infantil, é um recurso
extremamente importante para se viver bem.
Até chamamos alguém de infantil ou de criança mimada
quando queremos desdenhar dessa pessoa, de forma que ser um adulto
infantilizado não é algo bom e que deva ser almejado. Uma criança mimada é
aquela que fica entregue aos próprios impulsos, sem conseguir contê-los. No
momento da raiva a criança torna-se raiva pura; em outro instante, num momento
de alegria, é puro entusiasmo eufórico sem o menor limite. Isso é ser mimado e
dá para entender que se um adulto fica fixado nessa posição vai ter muitos
problemas.
Então o que significa viver e ser como uma criança? Isso
tem menos a ver com o comportamento infantil como forma de resolver os
conflitos da vida e mais a ver com a capacidade da criança para o encantamento.
Já perceberam que crianças têm uma facilidade para se encantar com os menores detalhes
da vida e tirarem deles grandes prazeres? Para os pequenos tudo nesse mundo é
novidade, tudo pode ser muito interessante e oferecer muitos contentamentos. A
criança pequena, quando não estragada por preconceitos ou ideias deturpadas que
encontra ao seu redor, pouco se preocupa se algo é caro ou barato, certo ou
errado, comum ou extraordinário, ela está mais interessada em se encantar com o
que vê. Encantar-se é algo importante e que devemos ter em nossas vidas.
O adulto que
perdeu sua capacidade de se maravilhar perante à vida acaba por se tornar
alguém amargo. Sabe aquelas pessoas que tudo reclamam, tudo já viram e tudo
sabem como vai terminar e nada parece os encantar? Bem assim que ficam:
amargos. Só que quem vive assim deixa de aprender elementos novos que
enriquecem a experiência, além de se tornarem chatas. Quem não se permite se
encantar não tem condições para aprender nada novo e quem não aprende fica
entediado com a vida e deixa de valorizar coisas importantes que trazem e
formam sentidos que temperam nossa existência.
Quando nos evangelhos, por exemplo, Jesus nos convida a
ser como criancinhas ele não está nos instigando a ser adultos infantilizados e
tolos. Pelo menos não no meu entender. Ele está mostrando o quanto precisamos
sempre ter presente a capacidade de se encantar com a vida, com o que somos e
com o que descobrimos. Sejamos, nesse sentido, como crianças que permanecem num
estado de curiosidade e assombro perante os mais insignificantes aspectos para
cada vez mais saber acerca de nós mesmos e do mundo que nos rodeia.
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