Não há ninguém que esteja livre da ansiedade ou que não a
sinta vez ou outra. O que podemos ver, entretanto, é que em algumas pessoas ela
é bem frequente enquanto em outras nem tanto e só surge em determinados
momentos. A pergunta é, por que será que para alguns ela é tão presente, uma
companheira diária e destrutiva, e para outros é algo que não tem tanto peso?
Ansiedade é algo que muitas vezes não se reconhece de onde
vem, apenas se sabe que desponta trazendo um grande mal estar que pode ser
reconhecido através de palpitações, apertos na garganta, embrulhos de estômago,
inquietação, irritabilidade, medos e muitos outros exemplos. Geralmente é
acompanhada de ideias de que alguma coisa vai dar muito errado, apesar de nem se
saber o que. Quem fica com essa angústia sofre e fica preso ao mal estar e aos
sintomas, sem saber o que fazer com isso.
Para entender melhor vamos pensar num modelo que traga
uma imagem que nos ajude a pensar sobre nós mesmos. Imagine um céu azul em um
lindo dia. Ficamos todos felizes e podemos fazer inúmeros planos de como
aproveitar esse dia cheio de calor e luz. Às vezes aparece uma nuvem aqui e lá
que tapa um pouco o sol, mas nada que nos preocupe ou estrague nossos planos.
Todavia, haverá vezes que um vento mais forte traz nuvens mais pesadas e
escuras e de repente o sol some, o dia fica “nervoso” e temos que nos preparar
para um mau tempo. Raios ao longe começam a pipocar e trovões anunciam que uma
tempestade se aproxima. Temos que correr buscar abrigo e proteção contra a
fúria do tempo que há minutos atrás estava tão bom. A tempestade chega com
violência. Ficamos temorosos que piores coisas possam acontecer. Ficamos
“ansiosos”. Nossos planos se foram e muitas vezes temos que lidar com os
estragos que a tempestade causou em seu caminho. Esse modelo pode nos ajudar
muito ao pensar sobre a ansiedade.
Assim tal como o clima, não conseguimos controlar o que
nos surge e nos pega de supetão. Nem precisamos. O erro de muita gente é
acreditar que lidar com a ansiedade é se livrar dela como se isso fosse
possível. Jamais nos livramos do que sentimos, assim como não nos livramos das
intempéries do tempo. Está além do nosso alcance. Porém, há muitas coisas que
podemos fazer para nos preservar.
Contra a fúria da natureza climática podemos construir
abrigos, mas contra a fúria da natureza da mente o que podemos fazer? Também
levantar abrigos e esses são nossas mentes. A nossa mente, nossa maior riqueza
e recurso, precisa ser construída. Não nascemos com uma mente pronta, mas com
um potencial de mente que precisa ser elaborado. Uma mente trabalhada permite
aceitar as intempéries e esperar o sol brilhar novamente. Não vai ficar tão
fixada nos estragos e saberá que uma hora o tempo volta a ficar favorável.
Para o ansioso a identificação com as nuvens carregadas é
intensa e esse tempo é sem fim e que trará tantos desastres que mesmo que o
tempo se abra os danos serão irremediáveis. O ansioso vive uma eterna
tempestade interna e esquece que o céu azul e tranquilo continua existindo
acima das nuvens escuras. Quem vive constantemente sob a égide da ansiedade
transforma-se no mau tempo. Já quem não vive sempre ansioso permite-se ver que
as nuvens vêm e vão, e que somos mais que elas e que a vida é maior que as
adversidades.
Isso tudo é teórico, mas é possível aprender a viver de uma
maneira tranquila. Em outras palavras, é possível construir uma mente para
lidarmos com as dificuldades de uma forma mais eficiente. Há varias maneiras e
uma delas é a análise pessoal. Nesse encontro entre analista e analisando a
mente pode ser percebida e por isso mesmo, construída. Na análise temos a
chance de tomar consciência que não precisamos ficar entregues a tudo o que nos
surge, mas que podemos criar mecanismos eficazes para viver melhor. É um
processo que demanda tempo e paciência. É artesanal e exige que sejamos
artistas de nós mesmos. É uma jornada íntima e pessoal.
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