segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A morte da Humanidade



            Numa praia argentina uma cena triste ocorreu, mostrando o quanto o ser humano tem muito que aprender em lidar com seus impulsos destrutivos. Um filhote de golfinho foi tirado do mar por banhistas e acabou passando de mão em mão para que todos tirassem selfies com o animal. O resultado é que o filhote morreu para que fotos pudessem circular pelas redes sociais. Todavia, não foi apenas o filhote que morreu, mas a humanidade.
            O impulso destrutivo aqui foi o da vaidade, que está ligado a agressividade e a superficialidade. Estou escrevendo sobre um filhote de golfinho, vítima da paixão pela ignorância do homem, mas poderia estar escrevendo também sobre as vítimas das guerras, da violência, das crianças submetidas aos piores tormentos e de qualquer outra injustiça que está nesse mesmo minuto acontecendo em algum lugar ou até mesmo do seu lado. Entra também aqui a corrupção, a falta de descaso com o bem público e muitos outros tipos de maus tratos que assassinam o humano que poderia existir.
Um mundo utópico, sem violência, é matéria para a ficção. A agressividade faz parte do humano. Freud, em Mal estar na civilização, discorre sobre nossa natureza agressiva e que é justamente esse impulso que periga com toda a civilização. A humanidade para viver, e não apenas sobreviver capengamente, necessita criar mecanismos mais eficientes para lidar com seus impulsos destrutivos. Caso contrário o prognóstico é desanimador.
            O mecanismo que dispomos para lidar com nossos impulsos é a mente, esta instância tão relegada a segundo plano. Se não há mente desenvolvida os impulsos não podem ser acolhidos e digeridos, ou seja, transformados em algo menos brutal e cru. Sem transformação os impulsos são atuados, isto é, vividos sem filtro nenhum e isso nos leva a cometer atos de selvageria assustadores. Essa selvageria nos torna menos humanos. Mas desenvolver a própria mente não rende selfies, pois é um trabalho discreto e individual. Tornar-se humano está fora de moda, porém nunca foi tão essencial.

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