Numa praia argentina uma cena triste ocorreu, mostrando o
quanto o ser humano tem muito que aprender em lidar com seus impulsos
destrutivos. Um filhote de golfinho foi tirado do mar por banhistas e acabou
passando de mão em mão para que todos tirassem selfies com o animal. O
resultado é que o filhote morreu para que fotos pudessem circular pelas redes
sociais. Todavia, não foi apenas o filhote que morreu, mas a humanidade.
O impulso destrutivo aqui foi o da vaidade, que está ligado
a agressividade e a superficialidade. Estou escrevendo sobre um filhote de
golfinho, vítima da paixão pela ignorância do homem, mas poderia estar
escrevendo também sobre as vítimas das guerras, da violência, das crianças
submetidas aos piores tormentos e de qualquer outra injustiça que está nesse
mesmo minuto acontecendo em algum lugar ou até mesmo do seu lado. Entra também
aqui a corrupção, a falta de descaso com o bem público e muitos outros tipos de
maus tratos que assassinam o humano que poderia existir.
Um
mundo utópico, sem violência, é matéria para a ficção. A agressividade faz
parte do humano. Freud, em Mal estar na
civilização, discorre sobre nossa natureza agressiva e que é justamente
esse impulso que periga com toda a civilização. A humanidade para viver, e não
apenas sobreviver capengamente, necessita criar mecanismos mais eficientes para
lidar com seus impulsos destrutivos. Caso contrário o prognóstico é
desanimador.
O mecanismo que dispomos para lidar com nossos impulsos é
a mente, esta instância tão relegada a segundo plano. Se não há mente
desenvolvida os impulsos não podem ser acolhidos e digeridos, ou seja,
transformados em algo menos brutal e cru. Sem transformação os impulsos são
atuados, isto é, vividos sem filtro nenhum e isso nos leva a cometer atos de
selvageria assustadores. Essa selvageria nos torna menos humanos. Mas
desenvolver a própria mente não rende selfies, pois é um trabalho discreto e
individual. Tornar-se humano está fora de moda, porém nunca foi tão essencial.
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