É mais do que natural existir a presença de ciúmes quando
uma criança está prestes a ganhar um irmão. É um momento que traz muitas
inseguranças, bem como raiva pelo novo ser que surge e que representa um perigo
para a criança já existente. Não há em nenhuma criança a falta desse sentimento
que é o ciúme. Mesmo naquelas que aparentam uma tranquilidade o ciúme existe e
mexe por dentro de forma desconfortável.
Esse ciúme ocorre porque a vinda de um irmão significa um
rival a mais no amor que recebe dos pais. Cada irmão novo que vem é sentido
como um ladrão da atenção e afetos que se recebe. Obviamente tomar consciência
da vinda de um irmão é doloroso e muito frequentemente reagimos à dor com raiva
e ódio. Ninguém quer perder a posição já conquistada e nem ter que dividir.
Imagine a seguinte situação para entender o que uma criança sente: uma mulher
chega em casa e diz ao marido que gostou tanto de viver um relacionamento com
ele que decidiu trazer outro homem para casa para se relacionar. O que acha que
esse marido sentiria?
Muitas crianças, entretanto, percebem que o ódio que
nutrem pelo irmãozinho é mal recebido pelos os que o rodeiam e que persistir
nesse sentimento vai fazer com que perca mais o que sente já estar perdendo e
então se portam de uma maneira completamente oposta. Passam a ser atenciosas e
cheias de falas que visam à proteção do pequeno irmão, encantando tantos os
adultos ao seu redor. Em vez de demonstrarem o ódio que sentem mostram uma
faceta contrária e assim ganham pontos. Claro que isso também pode favorecer
uma mudança verdadeira e muitos irmãos mais velhos acabam por gostar e se
sentir responsáveis por aquela nova criatura em suas vidas.
Quando nos conscientizamos do ciúme ficamos mais cientes
das ambivalências entre o amor o ódio. Muitas vezes amamos e odiamos uma mesma
figura ao mesmo tempo. Ao nos darmos conta da ambivalência somos mais donos de
nós mesmos e podemos escolher quais serão nossas atitudes em vez de ficarmos
presos às emoções sem nem ao menos poder pensar sobre o que elas significam.
Toda rivalidade que sentimos na infância tem ressonância na vida adulta e na
maneira que vivemos o presente. Saber que destino damos aos nossos sentimentos
é sempre a melhor maneira de podermos mudar o que vivemos hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário