segunda-feira, 27 de abril de 2015

Depressão Pós-parto


            A gravidez foi vivida como um momento todo especial. A preparação do quarto do bebê, do enxoval e das expectativas sobre a futura criança a nascer dominam os pensamentos e energias. No dia do parto lá vão o papai e mamãe cheios de ansiedades. O parto ocorre tudo as mil maravilhas, o bebê nasce bem, a mãe se recupera rápido, todos ficam encantados e se congratulam. Porém, algo acontece. Mais precisamente, algo acontece com o que a mãe sente em relação ao bebê. É a temida depressão pós-parto.
            O que seria esse mal que invade as mães? As interpretações de botequim já ousam em falar que a mãe não desejava a criança. A mãe se sente culpada por isso, as pessoas ao redor, sutilmente, a olham com desaprovação. Até pode ser que em alguns casos seja mesmo o não desejo da mãe pelo filho recém-nascido, mas não é geralmente isso o que de fato acontece. Para entender a depressão pós-parto sem pré-julgamentos é preciso primeiro entender o que a mulher vive durante a gravidez.
            Na gravidez um novo ser cresce dentro da mulher. Cria-se um sentimento muito poderoso de união entre esse dois seres. Uma união que exclui tudo ao redor. Mesmo que a mãe inclua o pai ou outras pessoas nesse período, nada é parecido com o sentimento de comunhão que ela vivencia. O bebê em gestação é dela e parte dela. É muito comum a mulher grávida se sentir completa e num estado místico de arrebatamento. Ela pode se sentir poderosa e como se tudo na vida a estivesse encaminhado para esse momento tão peculiar. Só que tudo na vida tem um fim e esse fim é representado pelo parto. O parto é a separação desse estado de fusão quase que religioso.
            Toda separação implica em uma perda e sentir a perda é sempre algo muito desprazeroso. Com o nascimento e o corte do cordão umbilical todo o sentimento de fusão e completude é desfeito e resta à mãe fazer um trabalho de luto. É claro que há um bebê esperando por ela  necessitando de toda a sua atenção e amor, mas a mãe tem que fazer um trabalho de luto pela dor da perda do estado anterior. As vezes isso não se dá facilmente e o processo de luto se torna extremamente doloroso e  a mãe não dá conta.
            Fora a dor da separação há também o medo de uma situação completamente nova que a chegada de um bebê traz. Antes o bebê era uma expectativa, meio que uma ideia sem corpo, mas de repente lá está ele, um ser novo e de certa forma desconhecido. É muita coisa para lidar de uma só vez. Nesses momentos é preciso muita paciência e em alguns casos se faz necessário um profissional competente para que o luto seja elaborado e a ansiedade pelo novo seja superada. O que não ajuda é culpar e nem se sentir culpada. Encarar tudo isso com amor e calma é a melhor maneira de passar por essa situação tão complexa e tão especial.

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