A gravidez foi vivida como um momento todo especial. A
preparação do quarto do bebê, do enxoval e das expectativas sobre a futura
criança a nascer dominam os pensamentos e energias. No dia do parto lá vão o
papai e mamãe cheios de ansiedades. O parto ocorre tudo as mil maravilhas, o
bebê nasce bem, a mãe se recupera rápido, todos ficam encantados e se
congratulam. Porém, algo acontece. Mais precisamente, algo acontece com o que a
mãe sente em relação ao bebê. É a temida depressão pós-parto.
O que seria esse mal que invade as mães? As
interpretações de botequim já ousam em falar que a mãe não desejava a criança.
A mãe se sente culpada por isso, as pessoas ao redor, sutilmente, a olham com
desaprovação. Até pode ser que em alguns casos seja mesmo o não desejo da mãe
pelo filho recém-nascido, mas não é geralmente isso o que de fato acontece.
Para entender a depressão pós-parto sem pré-julgamentos é preciso primeiro
entender o que a mulher vive durante a gravidez.
Na gravidez um novo ser cresce dentro da mulher. Cria-se
um sentimento muito poderoso de união entre esse dois seres. Uma união que
exclui tudo ao redor. Mesmo que a mãe inclua o pai ou outras pessoas nesse
período, nada é parecido com o sentimento de comunhão que ela vivencia. O bebê
em gestação é dela e parte dela. É muito comum a mulher grávida se sentir
completa e num estado místico de arrebatamento. Ela pode se sentir poderosa e
como se tudo na vida a estivesse encaminhado para esse momento tão peculiar. Só
que tudo na vida tem um fim e esse fim é representado pelo parto. O parto é a
separação desse estado de fusão quase que religioso.
Toda separação implica em uma perda e sentir a perda é
sempre algo muito desprazeroso. Com o nascimento e o corte do cordão umbilical
todo o sentimento de fusão e completude é desfeito e resta à mãe fazer um
trabalho de luto. É claro que há um bebê esperando por ela necessitando de toda a sua atenção e amor,
mas a mãe tem que fazer um trabalho de luto pela dor da perda do estado
anterior. As vezes isso não se dá facilmente e o processo de luto se torna
extremamente doloroso e a mãe não dá
conta.
Fora a dor da separação há também o medo de uma situação
completamente nova que a chegada de um bebê traz. Antes o bebê era uma
expectativa, meio que uma ideia sem corpo, mas de repente lá está ele, um ser
novo e de certa forma desconhecido. É muita coisa para lidar de uma só vez.
Nesses momentos é preciso muita paciência e em alguns casos se faz necessário
um profissional competente para que o luto seja elaborado e a ansiedade pelo
novo seja superada. O que não ajuda é culpar e nem se sentir culpada. Encarar
tudo isso com amor e calma é a melhor maneira de passar por essa situação tão complexa e tão especial.
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