segunda-feira, 9 de março de 2015

A Arte da Apreciação


            Na internet há uma matéria sobre um grupo de pessoas que investem em artes, pois as artes são seguras e não perdem o valor. São pessoas possuidoras de Picasso e Van Gogh e muitos outras obras primas, mas o que me chamou a atenção é que elas eram incapazes de admirar a beleza artística dessas obras. Nas suas próprias palavras disseram que nem queriam saber do que as obras se tratavam e de suas histórias. Essas pessoas apenas compram grandes obras primas como um seguro financeiro e jamais por gosto. Há uma cisão nelas entre a capacidade de apreciar a arte e o pensamento racional de se usar a arte.
            Apreciar arte exige um tipo de compromisso que tem a ver com a entrega das emoções, é se deixar tocar por aquilo que é belo e que nos desperta algo. É se envolver emocionalmente com algo. Há pessoas incapazes deste ato, pois elas temem o envolvimento emocional. As emoções ao mesmo tempo que encantam também podem trazer sofrimentos e essas pessoas querem, a todo custo, evitar o sofrimento e por isso mesmo realizam uma cisão entre o que sentem e o que pensam. Assim, elas acreditam estarem se protegendo de um possível sofrimento.
            Não conseguir apreciar uma peça de arte não é problemático, já pode ser questão de costume, ignorância ou até mesmo falta de gosto. O problema é quando há uma cisão nos relacionamentos dessas pessoas. Sendo este o caso os relacionamentos ficam empobrecidos e não servem para tornar a vida mais prazerosa e bela. A vida, para quem usa intensamente da cisão, é apenas um jogo e no jogo o objetivo é sempre ganhar. Há perda de vida, pois não há espaço para o aprendizado que vem das emoções.
            Ficar cindido dá uma falta sensação de segurança, há a idéia de que quem não se deixa tocar por aquilo que sente não irá quebrar a cara com frustrações. O único problema e furo nessa teoria é que essas pessoas já vivem frustradas. A frustração delas é o medo que têm de viver. Transformam o que poderia ser uma experiência vital em algo meramente burocrático. É como esse grupo de investidores de artes. Têm um Van Gogh, mas são incapazes de sentir  e viver algo além de suas cifras econômicas que podem ser mensuráveis pelo pensamento exclusivamente racional. 

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