Na internet há uma matéria sobre um grupo de pessoas que
investem em artes, pois as artes são seguras e não perdem o valor. São pessoas
possuidoras de Picasso e Van Gogh e muitos outras obras primas, mas o que me
chamou a atenção é que elas eram incapazes de admirar a beleza artística dessas
obras. Nas suas próprias palavras disseram que nem queriam saber do que as obras se
tratavam e de suas histórias. Essas pessoas apenas compram grandes obras primas
como um seguro financeiro e jamais por gosto. Há uma cisão nelas entre a capacidade
de apreciar a arte e o pensamento racional de se usar a arte.
Apreciar arte exige um tipo de compromisso que tem a ver
com a entrega das emoções, é se deixar tocar por aquilo que é belo e que nos
desperta algo. É se envolver emocionalmente com algo. Há pessoas incapazes
deste ato, pois elas temem o envolvimento emocional. As emoções ao mesmo tempo
que encantam também podem trazer sofrimentos e essas pessoas querem, a todo
custo, evitar o sofrimento e por isso mesmo realizam uma cisão entre o que
sentem e o que pensam. Assim, elas acreditam estarem se protegendo de um
possível sofrimento.
Não conseguir apreciar uma peça de arte não é
problemático, já pode ser questão de costume, ignorância ou até mesmo falta de
gosto. O problema é quando há uma cisão nos relacionamentos dessas pessoas.
Sendo este o caso os relacionamentos ficam empobrecidos e não servem para
tornar a vida mais prazerosa e bela. A vida, para quem usa intensamente da
cisão, é apenas um jogo e no jogo o objetivo é sempre ganhar. Há perda de vida,
pois não há espaço para o aprendizado que vem das emoções.
Ficar cindido dá uma falta sensação de segurança, há a
idéia de que quem não se deixa tocar por aquilo que sente não irá quebrar a
cara com frustrações. O único problema e furo nessa teoria é que essas pessoas
já vivem frustradas. A frustração delas é o medo que têm de viver. Transformam
o que poderia ser uma experiência vital em algo meramente burocrático. É como
esse grupo de investidores de artes. Têm um Van Gogh, mas são incapazes de
sentir e viver algo além de suas cifras
econômicas que podem ser mensuráveis pelo pensamento exclusivamente racional.
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